Figura carimbada na primeira divisão do Campeonato Espanhol na última década, o Racing Santander foi declinando aos poucos. Apesar de não possuir algum título nacional de ponta - suas maiores conquistas são as duas taças da segunda divisão nacional, adquiridas nas temporadas 1949-1950 e 1959-1960 -, é um clube o qual ostenta uma notável tradição na nação ibérica. Chegou ao centenário no ano passado e passou a maior parte dos seus 100 anos de história na elite espanhola: coleciona 44 participações no maior escalão do futebol de seu país.

Atualmente, o recém-centenário Real Racing Club de Santander está longe de viver dias melhores. Passou por dois rebaixamentos nos dois últimos anos - em 2012, foi o lanterna de La Liga e caiu para a Liga Adelante; em 2013, foi o 20º entre 22 times da segunda divisão e amargou a queda para o terceiro escalão - e hoje milita na Segunda Divisão B, a terceira divisão espanhola.

Mesmo fazendo boa campanha na competição até então - conquistou 41 pontos em 22 jogos e divide a liderança do Grupo 1 do certame com o xará de Ferrol -, a situação administrativa do clube é bastante turbulenta. Os jogadores não veem a cor do dinheiro há bastante tempo e durante esta semana ameaçaram entrar em greve e se recusar a jogar a partida contra a Real Sociedad, válida pelas quartas-de-final da Copa do Rei. Na segunda competição mais importante da Espanha, o Racing eliminou dois clubes da Segunda B (L'Hospitalet e Leganés) e dois de La Liga (Sevilla e Almería).

E a ameaça virou realidade. Nesta quinta-feira (30), os atletas do time de Santander entraram em campo, mas logo após o apito inicial se abraçaram no centro do gramado e comunicaram ao árbitro Gil Manzano a decisão de não atuarem na peleja. O juiz não teve outra escolha que não fosse suspender o jogo. Ainda que o fato fosse bastante polêmico, os torcedores os quais compareceram ao Estádio El Sardinero, casa do Racing, aplaudiram e apoiaram a equipe. Foi dada uma vitória de 3 a 0 - 6 a 1 no agregado - à Real Sociedad, que enfrentará o Barcelona na fase semifinal.

Apesar de ser pouco comum, não é a primeira vez que um episódio semelhante ocorre na Copa do Rei. A última vez foi em 2007, quando o Vecindario, time das Ilhas Canárias que à época frequentava a Segunda B, não compareceu à partida contra o Real Unión e foi eliminado da mesma forma.

Aqui no Brasil, evidentemente, muitos criticariam os jogadores do Racing Santander pela postura - é possível ouvir os gritos de "Mercenário!" enquanto se lê isto -, mas ninguém fora os adeptos verdiblancos sabe mais da situação do clube. O plantel, mesmo sem receber salários, tem honrado a camisa que veste e a torcida entendeu perfeitamente tal episódio. O principal alvo de críticas é o presidente Ángel Lavín, que, segundo informações de jornais espanhóis, esteve no estádio para assistir à partida, mas evitou comparecer às tribunas para não ouvir xingamentos e presenciar a ira dos torcedores.

Lavín não é visto com bons olhos somente nas arquibancadas. Além dos salários em dia, os jogadores também exigiam a renúncia do mandatário racinguista e de toda a sua diretoria para enfrentarem a Sociedad nesta noite. Os integrantes do Conselho de Administração da instituição já pediram demissão. O único que não saiu foi o indiano Ahsan Ali Syed, representante da empresa WGA, detentora de parte das ações do clube. Nesta sexta-feira (31), uma reunião com os acionistas dos Montañeses definirá o futuro do Racing Santander.

A última boa fase dos alviverdes foi vivida no ano de 2008, quando o time da região da Cantabria terminou a Liga BBVA na sexta colocação e assegurou sua vaga à Copa da UEFA, atualmente denominada Liga Europa, segunda competição mais importante do continente europeu.

Na copa continental, o Real Racing eliminou o FC Honka, da Finlândia, nos playoffs e caiu no grupo A, juntamente com Manchester City (Inglaterra), Twente (Holanda), PSG (França) e Schalke 04 (Alemanha). O Racing ficou na quarta colocação com os mesmos 5 pontos do PSG e perdeu a vaga no mata-mata no saldo de gols (1 a 2).

Estes tempos estão longe de voltar a Santander. A crise financeira, já na casa de absurdos 50 milhões de euros, e a incompetência administrativa atrapalharam uma agremiação a qual era vista como o orgulho de uma cidade. E ainda é, apesar dos pesares. Mesmo com a má fase que parece não ter fim, a torcida tem motivos para acreditar na volta de dias melhores, pois os jogadores os quais a representam estão sabendo honrar e prestar serviço ao que defendem.