Nesta terça-feira (15), uma das maiores tragédias da história do futebol completa 25 anos. A tragédia de Hillsborough aconteceu em 15 de abril de 1989, em uma semifinal de FA Cup entre Liverpool e Nottingham Forest.

Era um grande jogo, e os ingressos eram sempre poucos para mais um grande espetáculo. A FA tinha decidido que os scousers ficariam com a menor parte dos ingressos. A insatisfação dos Reds era grande, já que tinham a torcida mais numerosa e estavam confiantes para mais um título de FA Cup.

Era um sábado com a atmosfera festiva, comum em jogos na Inglaterra. Porém, tudo isso mudaria brevemente. Faltando pouco para o início do jogo, a Lepping Lanes End – setor do estádio escolhido para a torcida dos Reds – já estava completamente lotada, e eram esperados mais torcedores.

Tentando evitar um tumulto ainda maior, a polícia decidiu desbloquear o portão. Uma atitude comprometedora.

Arquibancas ficaram completamente lotadas (Foto: Divulgação/Trivela)

O resultado foi à superlotação do estádio. Pessoas foram esmagadas contra as grandes. O jogo foi paralisado aos 6 minutos. O vídeo abaixo mostra o jogo até sua paralisação, podemos ver as arquibancadas completamente lotadas e um início de invasão.

O episódio levou a morte de 96 pessoas e deixou inúmeros feridos. O acidente de Hillsborough fez com que o futebol britânico fosse repensado, excluindo alambrados e incluindo cadeiras nas arquibancadas.

“A verdade”

O The Sun publicou em sua capa o artigo “A verdade” dias após a tragédia. Os torcedores foram acusados de agredir os policiais que estavam ajudando no resgate, urinar sobre a equipe de resgate e saquear pessoas que já estavam mortas. A versão do jornal foi mantida durante anos e tinha uma fonte policial que não quis se identificar. O The Sun sofria grande boicote na cidade de Liverpool.

Após 23 anos, o relatório colocou culpa nas autoridades locais e ainda informou que 41 pessoas poderiam ser salvas. A policia começou agir nove minutos após a paralisação do jogo, sendo assim, vidas poderiam ser salvas nesse tempo.

“Os documentos revelados e analisados pelo painel mostraram que aquela tragédia nunca deveria ter acontecido. Houve claros erros operacionais em resposta ao desastre e houve árduas tentativas para colocar a culpa nos torcedores. Os relatórios detalhados dos painéis mostram o quanto as vítimas, sobreviventes e suas famílias estavam vulneráveis quando a transferência e a responsabilidade foram comprometidos”, afirmou James Jones, que foi presidente do painel independente de Hillsborough.

O primeiro-ministro britânico, David Cameron, pediu desculpas formalmente às famílias das vítimas.

“Com o peso das novas provas nesse relatório, é correto que eu, como primeiro-ministro, peça as desculpas apropriadas às famílias das 96 vítimas por todos os que sofreram nos últimos 23 anos. Em nome do governo - e talvez do nosso país -, sinto profundamente por essa dupla injustiça que foi deixada incorreta por tanto tempo”, disse Cameron.

O jornal The Sun também pediu desculpa e publicou uma nova capa com “A real verdade”.

Recentemente o novo inquérito sobre o caso ganhou um novo júri, com cinco homens e seis mulheres. O juiz Goldring pediu ao júri que não leia informações jornalísticas do caso para não influenciar seu julgamento. Serão feitas visitas ao estádio, escutadas testemunhas, analises de como a policia, entre outros. O novo inquérito poderá demorar 12 meses para ficar ponto.

Os 96 que jamais serão esquecidos

Em Anfield, foi feito um memorial com o nome de todos os torcedores, e também uma chama que jamais se apaga em volta dele. O memorial sempre é coberto de homenagens.

Memorial sempre é repleto de flores (Foto: Divulgação/Premier League)

No acidente de Hillsborough, Gerrard perdeu seu primo Jon-Paul Gilhooley, de apenas 10 anos, a mais jovem das vítimias. O capitão do Liverpool escreveu sobre o assunto em sua auto-biografia.

"Ao que meu carro passa pelo Memorial, eu olho para os nomes daqueles que caíram no Leppings Lane End, e que nunca levantarão de novo. Meus olhos param em um nome. Jon-Paul Gilhooley, dez anos, o mais novo daqueles que nunca voltaram pra casa de Sheffield. Um fã que morreu seguindo o time que amou. Um garoto cuja vida foi tirada apenas quando estava começando. Esmagado até morrer numa arquibancada que não servia para seres humanos. Eu conhecia Jon-Paul, ele era meu primo. Um arrepio corre pela minha espinha. Eu faço o sinal da cruz e dirijo."

O capitão do Liverpool tem o costume de fazer várias homenagens e também doações para às famílias das vítimas.

O Everton Football Club, rival local do Liverpool, anunciou que também fará um memorial em homenagem às vítimas em Goodinson Park. Mesmo rivais, o Everton presta muitas homenagens em relação ao acidente. Em 2012, quando foi anunciado o relatório que colocou culpa nas autoridades, foi feita uma bela homenagem, e ao fundo do estádio tocava “He Ain't Heavy, He's My Brother” (Ele não é um peso, ele é meu irmão).

No último fim de semana, a Inglaterra foi tomada de homenagens. No jogo entre Liverpool e Manchester City foi feito um belo mosaico em Anfield antes do jogo. Era possível ver várias faixas e escutar os cantos em homenagem.

A Football Association (FA) decidiu adiar todos os jogos em sete minutos. Seis minutos em relação ao tempo que a partida foi paralisada na ocasião e mais um minuto de silêncio. Os estádios da Inglaterra foram repletos de homenagens. Em Wembley, na partida entre Arsenal e Wigan válida pela semifinal da FA Cup, 96 lugares ficaram vazios, ocupados com cachecóis do Liverpool.

RF