Sábado, 22 de maio de 2004. Nesta data, o Borussia Mönchengladbach se despedia de sua antiga casa, o Bökelbergstadion, numa partida contra o 1860 München, válida pela última rodada da Bundesliga 2003/2004. Não tendo mais chances de rebaixamento, os Potros enfrentariam uma equipe que precisava vencer e dependia de uma combinação de resultados para evitar a degola. Para os moradores de Mönchengladbach, era a oportunidade de dar adeus a uma velha rotina: a de ir ao Bökelberg para apoiar o Gladbach rumo à vitória.

A despedida do antigo santuário dos Borussen completa 10 anos nesta quinta-feira (22) e certamente é uma data de extrema nostalgia para o clube da Renânia do Norte-Vestfália. O Borussia M'gladbach mandou seus jogos no Bökelberg por nada mais e nada menos que 85 anos. Antes conhecida como dä Kull, a área havia sido adquirida pelo clube em 1914, mas as obras foram adiadas e só puderam ser concluídas em 1919 por causa da Primeira Guerra Mundial.

Em 1956, as dívidas do clube fizeram o estádio mudar de dono, passando a ser administrado pela prefeitura da cidade. O nome que fez a praça esportiva tornar-se famosa veio através de Wilhelm August Hurtmanns, jornalista do Rheinischen Post, em referência à rua Bökel, localizada no bairro de Eicken. O Bökelbergstadion passou por reformas em 1962, 1966, 1972 e 1978.

A importância do estádio era tanta que a praça esportiva até hoje tem lugar cativo no hino do clube, e logo na primeira frase: "Sábado à tarde nós vamos para o Bökelbergstadion. No carro, o clima é ótimo e todos vão cantando!". Os torcedores mais saudosistas ainda sentem sua falta, mas o Borussia-Park, atual casa do M'gladbach, foi muito bem-vindo e já caiu nas graças dos adeptos. A média de público na Bundesliga 2013/2014 foi de 52.234, a quarta maior do campeonato.

O lendário estádio foi palco dos melhores e piores momentos da história do Borussia Mönchengladbach. Viu a equipe dividir a hegemonia do futebol alemão com o Bayern nos anos 70 e abrigou as festas pelas conquistas das taças europeias na mesma época. Também viu o rebaixamento à segunda divisão em 1999 e a volta à elite em 2001. Três anos depois, o último instante.

Dentro das quatro linhas, cada falta, cada lateral e cada bola roubada era comemorada pelos anfitriões como o último lance de suas vidas naquela tarde de maio. A vitória parecia mais importante do que qualquer coisa. Era importante se despedir com a vitória. Os três pontos eram questão de honra e os 34.500 lugares do estádio estavam ocupados. Não havia espaço para mais nada.

Todavia, os visitantes, que não jogavam apenas para cumprir tabela, não dariam moleza. Aos 21 minutos, o defensor Torben Hoffmann abriu o placar em cobrança de pênalti e deixou os torcedores locais apreensivos. A alegria dos Leões de Munique, entretanto, durou pouco. Dois minutos depois de saírem na frente, cederam o empate: o atacante Vaclav Sverkos recebeu bom passe do lateral José Pletsch e foi às redes.

Ainda no primeiro tempo, uma boa jogada entre Ivo Ulich e Igor Demo resultou no gol de Demo e na virada dos Potros. Eram jogados 35 minutos e o lance que colocou os mandantes à frente na contagem era o aval para a torcida fazer mais festa e aproveitar os últimos momentos no Bökelberg.

O Bökelberg foi o templo da torcida do Borussia Mönchengladbach por 85 anos (Foto: Divulgação/Wikimedia Commons)

A vitória do Borussia Mönchengladbach se confirmou com o atacante Arie van Lent aos 29 minutos da segunda etapa, com mais uma assistência do meia Ivo Ulich. Era o último gol do estádio. O 3 a 1 permitiu à equipe administrar o bom resultado conquistado.

Aos 35, o técnico Holger Fach fez uma substituição que levou os adeptos ao delírio. O goleiro Jörg Stiel deu lugar ao veterano e ídolo Uwe Kamps. O ritmo já era de festa. Kamps efetuou uma bela defesa e ainda viu uma bola na trave. O chute veio do pé do zagueiro Martin Stranzl, que hoje defende o M'gladbach. Já Uwe Kamps deu entrada na aposentadoria e tornou-se preparador de goleiros.

Os últimos 10 minutos do Gladbach em sua velha casa estão registrados no vídeo abaixo. Perto dos sete minutos, é possível ver uma faixa exposta com os dizeres "Adeus, Bökelberg. Obrigado pelos belos tempos". Também foi nesse jogo que saiu a última expulsão do estádio, a do meia Enrico Gaede, ocorrida aos 38 do segundo tempo.

Quando o árbitro Herbert Fandel apitou o fim do jogo, os Potros chegavam a novos tempos. Com o Bökelberg prestes a ser implodido e o Borussia-Park perto de ser inaugurado, o Borussia M'gladbach chegaria a uma nova era. Um novo e moderno estádio viria com o intuito de fazer o clube crescer. Na tarde daquele 22 de maio de 2004, aquela não foi a única despedida. O 1860 München dava adeus à Bundesliga e amargava o rebaixamento. Até hoje não conseguiu voltar à elite.

O antigo estádio jamais sairá da memória de Jupp Heynckes, ex-jogador e ex-técnico dos Fohlen. "Um lugar histórico de adoração", afirma o maior artilheiro da história do Mönchengladbach - foram 195 gols com a camisa verde-preta-e-branca.

"Foram anos maravilhosos. Participar ativamente do último jogo no Bökelberg com quase 40 anos de idade foi uma honra e sempre será inesquecível para mim", disse Uwe Kamps, ex-goleiro dos Potros, ao Westdeutsche Zeitung.

"Foi meu jogo de número 390 na Bundesliga. Gostaria de ter chegado ao número 400, mas uma série de lesões atrapalhou minha pretensão. De qualquer forma, sou agraciado por ter jogado tanto tempo", concluiu.

Os trabalhos de demolição da antiga casa do Borussia iniciaram-se em 2005 e terminaram em 2006. Hoje, o local é um conjunto de apartamentos, destino semelhante ao do Highbury, antigo estádio do Arsenal, um dos mais populares clubes da Inglaterra.

VfL Borussia Mönchengladbach 3 x 1 TSV 1860 München

Borussia Mönchengladbach: Jörg Stiel (Uwe Kamps, 35' 2ºT); Bernd Korzynietz (Steffen Korell, 22' 2ºT), Milan Obradovic, Marcelo José Pletsch, Sladan Asanin; Ivo Ulich, Enrico Gaede, Igor Demo, Joonas Kolkka (Joris van Hout, 29' 2ºT); Arie van Lent e Vaclav Sverkos. Técnico: Holger Fach

1860 München: André Lenz; Andreas Görlitz, Rodrigo Costa, Martin Stranzl, Torben Hoffmann; Harald Cerny, Matthias Lehmann, Rémo Meyer (Fernando Santos, 21' 2ºT; Jiayi Shao, 42' 2ºT), Roman Tyce; Lance Davids (Francis Kioyo, 27' 2ºT) e Markus Schroth. Técnico: Gerald Vanenburg

Gols: Hoffmann (21' 1ºT, de pênalti), Sverkos (23' 1ºT), Demo (35' 1ºT) e van Lent (29' 2ºT)

Local: Bökelbergstadion, em Mönchengladbach (Alemanha)

Público: 34.500 torcedores

Árbitro: Herbert Fandel

Cartões: Asanin, Gaede (2), Korzynietz, Davids e Tyce

"E enquanto eu ainda ouvir o apito final no meu ouvido, minhas memórias pessoais permanecerão vivas"

(Stefan Schinken - RevierSport)