Depois dos fracassos da última temporada, na qual ficou sem titulo algum, o que não ocorria desde 2008, o Barcelona decidiu concentrar seus esforços em promover uma revolução na equipe, como a feita por Josep Guardiola oito anos atrás. O foco principal seria a reconstrução do plantel e da filosofia de jogo, profundamente abalados pela saída repentina de Tito Vilanova, por motivos de saúde, e a falta de pulso de ‘Tata’ Martino.

A volta de Luis Enrique ao Camp Nou, depois de oito temporadas como jogador, promoveu mudanças profundas na equipe em frangalhos que Martino havia deixado em 2014. Promovendo um futebol vertical e um investimento maior no trio ofensivo, ‘Lucho’ tornou o Barcelona mais agressivo e poderoso.

Os números deste novo Barcelona, moldado ao caráter de seu treinador, são impressionantes. Em 59 partidas disputadas, os catalães saíram vitoriosos em 49 ocasiões, empatando quatro vezes e perdendo seis: um aproveitamento de 83%. A defesa, antes com problemas extremos em contra-ataques e bolas aéreas, mostraram melhoras, tendo levado apenas 37 gols.

O inicio e a reformulação

O primeiro passo em direção às mudanças foi dado no dia 19 de maio de 2014, quando o Barça anunciou a chegada de Luis Enrique. O discurso sério e a forma que tratou assuntos delicados como liderança e motivação, pontos que eram deficientes em Martino, fizeram a torcida acreditar no ex-capitão da equipe. A maneira que falou sobre Messi também afirmou a segurança do asturiano para lidar com o craque do time, algo do qual Martino se esquivava constantemente.

Ainda no mês de maio, os reforços começaram a ser anunciados. O primeiro nome foi o de Marc-André Ter Stegen, goleiro alemão de 23 anos, contratado por 12 milhões de euros. Em junho, foi a vez do meio-campista croata Ivan Rakitic, por 18 milhões de euros e de Claudio Bravo, goleiro chileno que cobrou 12 milhões de euros. No mês seguinte, a contratação do uruguaio Luis Suárez foi anunciada, pelo valor de 81 milhões de euros, assim como a do francês Jérémy Mathieu, por 20 milhões de euros.

Porém, ao mesmo tempo em que vários jogadores se incorporavam ao plantel, muitos outros saíram, casos de Carles Puyol, que havia anunciado sua aposentadoria, e de Víctor Valdés, pelo fim de seu contrato. Outros foram vendidos, como Cesc Fàbregas, por 33 milhões de euros, e Alexis Sanchez, por 42,5 milhões de euros. Era apenas o começo das mudanças.

Os amistosos de pré-temporada demonstraram diversas qualidades que marcariam a campanha blaugrana, entre eles, a pressão e a verticalidade. Esta última, mostrando o desprendimento da equipe do famoso “tiki-taka” de Guardiola; passou a se necessitar de menos toques para chegar ao gol, sendo mais objetivo.

O começo e a adaptação

O Barcelona começou sua caminhada no Campeonato Espanhol enfrentando o Elche, em casa. Apesar de ser chamada de “nova era”, o protagonista do jogo foi o de sempre: Lionel Messi. O argentino marcou duas vezes e garantiu os primeiros três pontos da temporada de forma tranquila. Porém, era evidente que a equipe estava ainda se moldando à nova visão de jogo de seu treinador, por mais que ainda fosse fiel à filosofia tão característica do Barcelona.

Nos jogos seguintes, não foi difícil notar um detalhe que incomodou a torcida durante todo o primeiro turno: as rotações. Luis Enrique parecia fazer questão de experimentar todas as variantes de escalações possíveis. O asturiano chegou até a mudar a formação tática da equipe, contra o Paris Saint Germain, na fase de grupos da Champions League, saindo do tradicionalíssimo 4-3-3 para um 3-4-3 que deu certo, mas não foi mais utilizado.

Os primeiros onze jogos mostraram outra grande mudança: a defesa. Taxada anteriormente de lenta, fraca e insegura, levou apenas quatro gols, além de não levar gols em oito partidas da Liga. Méritos ao corpo técnico, que organizou diversos pontos como o posicionamento e a pressão na saída de bola, além do belo trabalho de Unzué na bola aérea.

A chegada de Luis Suárez

O anúncio da contratação de Luis Suárez foi visto com desconfiança, principalmente depois dos acontecimentos do Mundial de 2014, quando o uruguaio mordeu o zagueiro italiano Chiellini e recebeu uma punição de quatro meses por parte da FIFA. Apesar de polêmico, a esperança era que Suárez trouxesse algo que faltou em muitos momentos com Martino: o poder de decisão.

Suárez foi de "erro" a "peça essencial" em menos de seis meses (Foto:David Ramos/Getty Images)

Recebido com o status de artilheiro da Premier League e do futebol europeu, ficou limitado aos treinos pela punição, mas foi o suficiente para que começasse a adquirir entrosamento com os novos colegas. Sua estreia oficial foi à altura, contra o Real Madrid. E mesmo com o revés, não deixou de mostrar o quão diferenciado é e quanto seria útil ao longo da temporada.

Crise?

A derrota para o Real Madrid, no Santiago Bernabéu, por 3 a 1, foi seguida por outro revés, desta vez para o Celta, no Camp Nou. A sensação de impotência dentro de casa, após quatro bolas na trave e um gol bobo, estremeceram o clima no clube e as criticas pela falta de um jogo consistente crescerem para cima de Luis Enrique.

Porém, o jogo que mudaria tudo ainda estava por vir. Após 11 jogos sem perder, o Barcelona caiu em Anoeta, um dos campos mais difíceis de toda a Liga. A frustração era visível e duras medidas foram tomadas no meio institucional, como a demissão de Andoni Zubizarreta, juntamente com a saída voluntaria de Carles Puyol e o anuncio de eleições para o fim da temporada. Já no campo, a união foi a ordem principal para virar a mesa e não sair de mãos vazias outra vez. Era o recomeço.

A equipe sofreu seu mais duro golpe no começo de 2015, mas isso representou a virada blaugrana (Foto: David Ramos/Getty Images)
O duro golpe de Anoeta representou o recomeço blaugrana (Foto:David Ramos/Getty Images)

Volta por cima e candidato à “Tríplice Coroa”

Depois da chamada “Crise de Anoeta”, o Barcelona embalou em uma bela sequência de vitórias e atuações convincentes. O primeiro desafio foi contra o Atlético de Madrid, em uma série de jogos pela Liga e pela Copa do Rey. E depois de seis jogos sem vencer os colchoneros, o Barça superou a equipe de Diego Simeone por três vezes seguidas. E ainda repetiria a dose no segundo turno, na partida que deu o titulo espanhol para os catalães.

Na Champions League, jogos convincentes e classificações firmes em cima de Manchester City (3 a 1 no agregado) e Paris Saint-Germain (5 a 1 no agregado). Vitória também em cima do Real Madrid, no Camp Nou, com gols do desacreditado Mathieu e de Luis Suárez. Porém, o grande teste veio contra o Bayern de Munique, time do ex-técnico Josep Guardiola.

E o Barcelona mostrou toda a sua evolução como equipe em um sonoro placar de 5 a 3, no agregado, dando a vaga para a final da Champions League contra a Juventus. Na Copa do Rey, 100% de aproveitamento, sendo o primeiro a alcançar este feito, e titulo para os catalães, que já faturaram a Liga.

O grande ponto alto desta virada do Barcelona foi o trio 'MSN' (Messi, Suárez e Neymar). Depois de cumprida a punição do uruguaio, foi questão de poucos meses para que os três se convertessem em um ataque fulminante e mortal. Um trio ofensivo completo, que contou com a recuperação de Lionel Messi, o faro de gol de Suárez e o aperfeiçoamento de Neymar, que marcou o dobro de gols da temporada passada, o que colaborou para o impressionante número de 120 gols na temporada, algo nunca realizano na história.

Faltam apenas 90 minutos para que a história se repita e o triplete volte para a Catalunha depois de seis anos.