Lendas da Copa do Mundo: Nilton Santos

Jogador, que revolucionou a lateral-esquerda na década de 50, foi destaque de duas das cinco conquistas do Brasil em Copas do Mundo

Lendas da Copa do Mundo: Nilton Santos
Foto: Hugo Alves/VAVEL Brasil
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Por Sergio Santana

Existem jogadores que transpõem aquilo que foi apresentado durante anos dentro das quatro linhas. Atletas que, marcados por suas ambições e grandes atuações, são lembrados mesmo após se aposentarem e até mesmo falecerem. São pessoas que, no maior sentido possível, são tão grandes como o futebol. E que serão lembradas por todas as gerações, mesmo que se tornem “ultrapassados”.

Esse é o caso de Nilton Santos. Um dos laterais-esquerdo mais marcantes de todos os tempos, incluindo, obviamente, na história das Copas do Mundo, competição que ele teve o prazer de conquistar em duas oportunidades. Dessa maneira, a VAVEL Brasil preparou um especial falando sobre a carreira do jogador e sua importância para a competição mais importante do futebol.

Uma carreira fadada a uma única camisa

Nilton Santos é um dos poucos exemplos de um jogador que foi fiel à uma instituição durante toda sua carreira. Em 16 anos como profissional, defendeu apenas o Botafogo, disputando 721 jogos – sendo o recordista do clube nesse quesito. Durante todo esse tempo, foi o dono da posição não apenas no Alvinegro, mas em todo o mundo, sendo considerado um dos melhores laterais-esquerdo da história.

Começou sua carreira com uma idade avançada do usual, quando tinha 23 anos, em 1948. Era um ponta-esquerda de muita velocidade, que sabia bater na bola com muita qualidade graças a sua perna esquerda. Fez um teste para entrar no Botafogo e, de primeira, conseguiu entrar no clube carioca. Porém, enfrentaria o seu primeiro grande desafio: o treinador do Alvinegro.

(Foto: Popperfoto)
(Foto: Popperfoto)

Carlito Rocha, treinador do Botafogo na época, percebeu que Nilton Santos tinha uma grande habilidade defensiva e, por isso, colocaria o jogador para atuar na lateral-esquerda, numa posição bem mais recuada daquela que ele estava acostumado a jogar. Apesar de ter se irritado com isso, o atleta aceitou jogar nessa área do campo, onde se consagraria, posteriormente, como um dos melhores do mundo.

Conquistou a titularidade logo em seus primeiros meses no Botafogo, fazendo parte de esquadrões incríveis, que ficaram marcados na história do clube. Ainda em 1948, seria campeão carioca, dando fim a um jejum de 13 anos do clube de General Severiano.

Em 1952, Garrincha chegaria, após infernizar a vida do lateral-esquerdo em um treino-teste, ao Botafogo, que entrou em uma de suas melhores fases em toda a história, com esquadrões memoráveis, tendo Nilton Santos incluído nesse período: três Campeonatos Cariocas (1957, 1961 e 1962) e dos Torneios Rio-São Paulo (1962 e 1964).

A revolução na posição

Na época que Nilton Santos passou a desfilar nos gramados das terras brasileiras, a posição de lateral-esquerda vivia um certo tabu, já que os atletas dessa área eram considerados como uma espécie de “zagueiros pelo lado do campo”, sendo submetidos apenas a defender, não ultrapassando jamais a linha do meio do campo.

Como ficou irritado quando foi puxado da ponta para a lateral, Nilton Santos afirmou que queria, mesmo fora de posição, mostrar toda a sua habilidade e, por isso, acabou revolucionando a posição, sendo o primeiro jogador de defesa pelos lados que subia ao ataque. De início, o treinador do Botafogo ficaria estressado com isso, mas não tinha jeito, já que o jogador atuava com maestria em campo.

Dessa maneira, Nilton Santos conseguia surpreender qualquer equipe, já que os adversários não esperavam que um lateral fosse avançar em uma faixa ofensiva do campo. Além disso, o Camisa 6 possuía, ao seu lado, uma habilidade ímpar com a bola, o que propiciava grandes lances. “A Enciclopédia”, alcunha pela qual ficou conhecido, foi, indubitavelmente, o primeiro – e talvez maior – grande nome da posição no futebol mundial.

Um grande exemplo disso foi o gol marcado por ele contra a Áustria, na estreia do Brasil na Copa do Mundo de 1958, em que ele consegue surpreender a defesa adversária, como pode ser visto no vídeo acima.

Sucesso canarinho

Pela Seleção Brasileira, esteve presente na conquista da Copa América de 1949 e a Copa de 1950, mas não era titular, tendo entrado em campo por poucos minutos. Seu primeiro torneio internacional seria, de fato, quatro anos depois, na Suíça, quando o Brasil foi eliminado precocemente, ainda na fase de grupos.

Em 1958, Nilton Santos brilharia com o já citado gol em cima da Seleção Austríaca. Além disso, foi, ao lado de Garrincha e Pelé, um dos principais jogadores daquela campanha, que culminou no primeiro título mundial do Brasil. Mesmo indo contra as indicações do treinador Vicente Feola, o atleta do Botafogo continuava indo em direção à linha de fundo, sendo uma grande arma ofensiva na campanha.

(Foto: Popperfoto)
(Foto: Popperfoto)

Quatro anos depois, no Chile, uma situação no maior “jeitinho brasileiro” de Nilton Santos acabaria salvando o Brasil. Em um jogo decisivo – e no mais difícil daquela campanha –, o Brasil teria pela frente, sem Pelé, a Espanha de Puskas, que havia se naturalizado. Apesar de ter vencido por 2 a 1, o triunfo saiu graças a uma ação do lateral-esquerdo, que havia cometido um pênalti, mas, em vez de ficar reclamando com o árbitro, moveu a bola e seu corpo mais à frente, e o dono do apito, ludibriado, acabou marcando apenas uma falta.

Dias depois, o Brasil, guiado por Garrincha, seria campeão daquela edição da Copa do Mundo em cima da Tchecoslováquia por 3 a 1. Em sua quarta participação no torneio, Nilton Santos levantaria pela segunda vez o Troféu Jules Rimet, simbolizando o grande auge de sua carreira. Merecidamente, foi eleito o melhor lateral-esquerdo das duas edições da competição e, indo além, foi considerado o melhor da posição de todos os tempos no Século XX, em seleção divulgada pela Fifa.

Se aposentaria aos 39 anos. Apesar de permanecer jogando em alto nível, considerou que era a hora de pendurar as chuteiras. Levou consigo muitos títulos e uma verdadeira revolução. Veio a falecer em 2013, com 88 anos, mas permanece vivo na memória de muitos admiradores do futebol e, principalmente, na cabeça de torcedores do Botafogo, clube que o homenageou dando o nome do lateral-esquerdo em seu estádio, além de uma estátua no entorno do mesmo, representando essa imortalidade.