Após viajar pela Espanha e conhecer uma outra face da história do grandioso Real Madrid, o ACERVO VAVEL desta semana seguirá na Europa, mas fará uma grande viagem. Da Espanha, para Alemanha. Num tempo parecido – onde o autoritarismo era o mal de quase todo o mundo -, mas um outro embarque histórico. Na Espanha, o Franquismo, como já observamos. Na Alemanha, o Nazismo. Hoje, falaremos do Bayern de Munique e a resistência ao grande regime autoritário, de Hitler.

Ao pensarmos no Bayern, é normal lembrarmos do poderoso clube da Alemanha, detentor de 27 títulos nacionais (encaminhando sua 28ª conquista), cinco Champions League, campeão mundial em 2013 e eleito o 3º maior clube do mundo no século XX pela FIFA. Mas, poucos sabem, a fundo, sobre a grande história da equipe alemã fora das quatro linhas. Nos anos 30, o clube bávaro esteve próximo à falência frente ao regime de Adolf Hitler em uma grande história de resistência entre o Bayern de Munique e o Nazismo.

Bayer x Hitler: a resistência antinazista

Durante a década de 30, o Bayern de Munique foi acusado, inúmeras vezes, como clube vinculado ao Nazismo. O Ajax, paradoxalmente, possuía característica de ‘multiculturalismo’. Curiosamente – ou, ironicamente -, durante o chamado 'período entre guerras' (que resultou na ascensão de regimes autoritários) os clubes ‘inverteram os valores’. Com o regime nazista, já consolidado durante a II Guerra Mundial, a equipe de Amsterdam, conhecida por ser um clube de origem judaica, colaborou com o regime de Hitler na denúncia de judeus, que acabaram sendo levados aos famosos e tenebrosos campos de concentração. A equipe de Munique, por sua vez, foi o único clube a resistir bravamente ao Nazismo. E, com isso, pagou um alto preço por isso.

Se você, caro leitor, fosse dirigente do Bayern de Munique durante a década de 30, o que faria? Abriria mão de seus princípios para apoiar o regime de Hitler e ganhar ‘anos de paz’? O Bayern não fez isso, e, entre as décadas de 30 e 60, quase deixou de existir. Passou anos em divisões inferiores, vendo, ademais, muitos dirigentes sendo exilados e nunca mais voltarem. Esse foi parte do preço que o Bayern pagou. Ao menos, valeu a pena? Bom, se olharmos para hoje, parece que sim. Mas, foi um processo doloroso para os amantes da equipe de Munique. O clube, que estava começando a se afirmar no cenário nacional durante a década de 20, e se sagrado campeão em 1932 pela primeira vez, enfrentou um duro jejum até o fim da década de 60. Três décadas de luta.

Bayern de Munique ao conquistar vaga na Bundesliga de 1965 (Foto: Acervo/Bayern de Munique BR)
Bayern de Munique ao conquistar vaga na Bundesliga de 1965 (Foto: Acervo/Bayern de Munique BR)

Um ano após o grande título germânico, Hitler tomou poder sob o controle de todas as instituições esportivas e sociais. Assim, a ideia do ditador, era de que todos os clubes se tornassem fies às práticas nazistas. Se tornou obrigatória a demissão de dirigentes contra Hitler e judeus, sendo substituídos por diretores pró-nazis. Muitos clubes, antes mesmo da decisão de Hitler, já tinham acatado a medida. Mas, o Bayern não. O clube foi contrário à decisão do líder nazista, e, o judeu, Kurt Landauer, manteve-se em seu posto até ser preso pela polícia política, sendo exilado e levado a um campo de concentração, na Suíça. Um dos primeiros a ser construídos por Hitler, funcionando como teste, onde, no futuro, daria vez ao Holocausto.

Se para o Bayern de Munique, todas os empecilhos possíveis eram dados, fazendo com que o clube, pouco a pouco, fosse sendo conhecido como uma ‘instituição marginal’ e, além disso, sendo obrigado a demitir seus melhores jogadores – todos eles judeus -, para o seu rival local, 1860 Munchen, o contrário. Hitler declarou apoio ao clube, oferecendo-lhe auxílio financeiro e grandiosas estruturas de centros de treinamentos. Mesmo com todas as dificuldades, o Bayern manteve seu posicionamento contra o regime nazista e ao lado de seu presidente Landauer. Um ato bravo, para a conservadora Baviera. Em 1940, a equipe alemã foi até a Suíça participar de jogo amistoso. Lá, os jogadores puderam homenagear o presidente por longos minutos.

Dois anos após, finalmente, o armistício na Alemanha ser assinado, Landauer retornou de seu exílio, na Suíça, e chegou a Munique para ser reeleito. Manteve-se no cargo até 1951. Assim, os problemas financeiros e sociais do clube puderam se manter longe nos dez anos posteriores, e, o Bayern, pôde voltar a ter certa hegemonia no futebol alemão.

Sendo assim, hoje, é possível admirar o Bayern de Munique não só pelo futebol competitivo, pelos ídolos da última geração – como Ribery e Muller -, ou, pelas grandiosas festas no Allianz Arena. A história do Bayern de Munique (como podemos observar parte delas) é importante e necessária, ao lembrarmos a gravidade do regime Nazista. Talvez, o mais cruel de todos os regimes autoritários do século XX, que matou milhares de judeus, negros, mulheres e crianças. Todos aqueles que não pertenciam à ‘raça ariana’. O Bayern, bravamente, se posicionou contra. Mia san mia, Bayern!

Bayern de Munique na temporada de 2010 (Foto: Divulgação/Bayern de Munique)
Bayern de Munique na temporada de 2010 (Foto: Divulgação/Bayern de Munique) 

A VAVEL Brasil espera que você, caro leitor, tenha gostado dessa viagem histórica pela Alemanha! Outras, certamente, virão.

Próximo texto do ACERVO VAVEL (17/4): Old Firm e o sectarismo em Glasgow*

*texto a ser realizado pelo convidado especial do ACERVO VAVEL, coordenador do Futebol Inglês e Cearense na VAVEL Brasil. 

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