Mais que um gesto: entenda o significado das comemorações de Xhaka e Shaqiri contra Sérvia

Símbolos destacados na vitória por 2 a 0 da Suíça envolvem temas políticos com Kosovo, região de nascença dos autores dos gols e dentro de território do país sérvio

Mais que um gesto: entenda o significado das comemorações de Xhaka e Shaqiri contra Sérvia
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Por Matheus Henrique

A Suíça bateu a Sérvia por 2 a 1 nesta sexta-feira (22) pela segunda rodada do Grupo E da Copa do Mundo. Em Kaliningrado, a vitória serviu para pôr os suíços na segunda posição, atrás do Brasil, e aumentar as chances de classificação para a próxima fase. Porém, o que repercutiu mundo afora foram as comemorações de Xhaka e Shaqiri, autores dos gols no confronto.

Após ambos tentos, os jogadores fizeram um gesto com as duas mãos entrelaçadas que deixou grande parte dos receptores em dúvida sobre o verdadeiro significado. Alguns até chegaram a confundir com o símbolo da Pomba da Paz, no entanto, tem a ver com as duas águias presentes na bandeira da Albânia, país do leste europeu, que faz fronteira e possui histórica relação conturbada com a Sérvia.

Para entender melhor a relação, é preciso dar um pulo na história e geografia dos países. Entre os 112 km de fronteira entre Albânia e Sérvia, está o Kosovo, antiga província sérvia que grande parte de sua população com raízes albanesas, país cujo declarou independência há cerca de 10 anos. Além da proximidade, o auge da rivalidade se deu na década de 1990, época da Guerra do Kosovo, conflitos entre sérvios e albaneses que defendiam a independência da província. 

Com raízes em Kosovo e Albânia, Shaka abriu o placar e reproduziu a homenagem Foto: Norbert Barczyk/Getty Images
Com raízes em Kosovo e Albânia, Shaka abriu o placar e reproduziu a homenagem Foto: Norbert Barczyk/Getty Images

Entre os defensores da causa, mas não-participantes da guerra, estava Ragip Xhaka, pai de Granit Xhaka, autor de um dos gols contra a Sérvia. Na década de 90, Ragip participou de manifestações em apoio a maior representação ao Kosovo. Seus atos o levaram à prisão durante três anos e meio, sendo classificado como preso político do governo de Belgrado, onde lidou com episódios de espancamento. Após a liberação da pena, saiu da região e passou por países como Croácia, Eslovênia e Itália, até chegar na Basileia, cidade suíça, onde nasceram Taulant - irmão mais velho - e Granit Xhaka.

O refugo também esteve presente na vida de Xhedan Shaqiri, autor do segundo gol na vitória contra Sérvia. Nascido no Kosovo, fugiu da cidade de Giljan ainda bebê junto de seus familiares por conta de guerra. Nas partidas pela seleção suíça, carrega em suas chuteiras as bandeiras de seu país de nascença e 'biológico'. Em 2016, a Uefa e Fifa adicionaram o Kosovo como um de seus membros, dando direito da construção de uma seleção oficial e disputa de competições das entidades. Shaqiri, além de diversos jogadores da seleção suíça e outras, como Shaka, pensaram em defender a seleção, mas optaram pela permanência.

Chuteiras de Xherdan Shaqiri contém bandeiras de Suiça e Kosovo, seu país de origem. Foto: Norbert Barczyk/Getty Images
Chuteiras de Xherdan Shaqiri contém bandeiras de Suiça e Kosovo, seu país de origem. Foto: Norbert Barczyk/Getty Images

O assunto foi tocado nas vésperas do confronto no lado sérvio. O atacante Aleksandar Mitrovic, da Sérvia, ironizou as homenagens de Shaqiri à causa do Kosovo, já que havia preferido continuar na mesma seleção. A atitude foi classificada como provocação, que serviu como motivação e foi respondida o gol da virada na vitória por 2 a 1 da Suíça sobre a Sérvia, complicando os objetivos sérvios na Copa do Mundo e deixando a Suíça em boas condições para seguir na competição. No duelo, Mitrovic chegou a abrir o placar para os sérvios, mas não foi suficiente para conter a reação adversária.

Festa na Albânia

Após a vitória da Seleção Suíça e a comemoração de Shaka e Shaqiri com o símbolo da bandeira do país, os albaneses, que já estavam reunidos em torcida para os suíços, foram à loucura e festejaram nas ruas. A partida mobilizou cerca de três mil pessoas a assistirem a partida na principal praça de Tirana, capital da Albânia.

O resultado estampou a capa dos jornais da região, que inclusive referiu que a partida ficará na memória de todos os albaneses por muito tempo. A felicidade chegou até ao presidente do país, Ilir Meta, que se declarou torcedor da seleção suíça e comentou o sentimento causado pela vitória:

"Todos nós festejamos como se fosse uma vitória da seleção da Albânia e do Kosovo, porque vimos as águias sobrevoar o estádio de Kaliningrado", afirmou o presidente da Albânia.

Confusão por drone encerrou jogo das Eliminatórias da Euro, em 2014

Foto:Gent Shkullaku/Getty Images
Foto: Gent Shkullaku/Getty Images

No dia 14 de outubro de 2014, Sérvia e Albânia disputavam partida válida pelas Eliminatórias da Eurocopa de 2016, quando um drone sobrevoou o campo do Estádio Partizan, em Belgrado, na Sérvia, com provocações albanesas aos sérvios. O jogador Stefan Mitrovic, da equipe sérvia, retirou a bandeira e o drone e prontamente foi agredido pelos jogadores albaneses com o objetivo de tomar posse da bandeira, gerando uma briga generalizada.

Por conta da rivalidade, a partida contava apenas com torcedores sérvios no estádio como medida de segurança e os jogadores da Albânia foram tratados com hostilidade desde a recepção ao estádio, como vaias e cânticos no aquecimento. Após o início de confusão dentro do campo, alguns torcedores sérvios invadiram o campo e entraram em conflito com os jogadores albaneses.

A saída para o vestiário contou com proteção de policiais, que não conseguiram conter os objetos arremessados pela torcida sérvia, além de um integrante da torcida que conseguiu furar o bloqueio e agredir os atletas albaneses. A partida foi suspensa aos 41 minutos do primeiro tempo, com o placar em 0 a 0.

A Uefa concedeu posse da vitória no confronto à Sérvia, porém, sem a gratificação dos três pontos. Ambas equipes foram punidas pela entidade no valor de € 100 mil.