Não há palavras para descrever o quão incrivelmente honrado eu estou de ter a oportunidade de contribuir na escrita do novo capítulo deste legendário clube”. Essas foram as palavras de Rocco Comisso, empresário ítalo-americano, após o anúncio oficial da compra da Fiorentina, que aconteceu na quinta-feira (6).

Comisso assume o comando do clube de Florença no lugar dos irmãos Diego e Andrea Della Valle, que estiveram na posição durante 17 anos. Nesse período, a Viola se recuperou de uma falência, saiu da Serie C2 para à Uefa Champions League e se reestabilizou como uma equipe que sempre almeja uma vaga em competições europeias via Serie A.

Foram muitas vitórias marcantes durante essas quase duas décadas: o 2 a 0 no Liverpool, em Anfield, pela UCL em 2009, a incrível vitória de virada para cima da Juventus por 4 a 2 em 2013, o 4 a 1 na Inter, em Milão, em 2015, e o recente 7 a 1 na Roma. É claro que os tifosi nunca esquecerão desses grandes momentos, mas, em uma quantidade muito maior, as decepções e frustrações acabaram desgastando a relação torcedor e diretoria.

Arquibancadas do Franchi ficaram vazias algumas vezes em protesto (Foto: Jennifer Lorenzini/LaPresse)
Arquibancadas do Franchi ficaram vazias algumas vezes em protesto (Foto: Jennifer Lorenzini/LaPresse)

Da Serie C2 à Champions League: a Era Della Valle em Florença

Quando os Della Valle assumiram, a Fiorentina se reerguia sob outro nome - Florentia Viola - após declarar falência e ter que recomeçar da Serie C2, a quarta divisão da Itália. De lá para cá, o time conseguiu o vice-campeonato da Copa da Itália em 2014, foi às semifinais da Europa League em 2008 e 2015, disputou a Champions League em 2008-09 e 09-10 e terminou a Serie A cinco vezes na quarta colocação. O time em vários momentos deu muito esperança ao torcedor, mas teve fases de muito marasmo e decepção.

Imagem que já ficou marcada: Diego e Andre Della Valle assistindo partidas da Fiorentina no Franchi (Foto: Divulgação/ACF Fiorentina)
Imagem que já ficou marcada: Diego e Andre Della Valle assistindo partidas da Fiorentina no Franchi (Foto: Divulgação/ACF Fiorentina)

Entre 2005 e 2010, com Cesare Prandelli como técnico, a Fiorentina subiu de patamar novamente. Riccardo Montolivo, Stevan Jovetic, Alberto Gilardino, Luca Toni, Adrian Mutu, entre outros, brilharam nesse período. Em 2007-08, a Viola foi até as semifinais da Europa League, caindo nos pênaltis para o Rangers, e terminou a Serie A na quarta colocação, garantindo uma vaga à Champions League após nove anos.

Em 2009-10, o time fez a segunda melhor campanha na fase de grupos da UCL e acabou caindo nas oitavas de final por conta dos critérios de gol fora diante do eventual vice-campeão daquela temporada, o Bayern de Munique. O fim dessa temporada marcou o fim da era Prandelli em Florença, já que o técnico saiu para assumir a Seleção Italiana.

Vitória em Anfield foi um dos pontos altos da passagem de Prandelli em Florença
Vitória em Anfield foi um dos pontos altos da passagem de Prandelli em Florença

Após dois anos de campanhas ruins, a Viola voltou a mostrar um futebol fantasia, posse de bola e ofensivo com a contratação de Vincenzo Montella. Entre 2012 e 2015, a Fiorentina teve Giuseppe Rossi, Mario Gómez, Mohamed Salah, Juan Cuadrado, Marcos Alonso, Borja Valero, David Pizarro, Gonzalo Rodríguez, etc., foram contratados durante essa era, que o time, em momentos encantou.

Nas três temporadas sob o comando de Montella, o time terminou em quarto lugar. Em 2014, perdeu a final da Copa da Itália para o Napoli e, na temporada seguinte, foi até as semifinais da Copa e também da Europa League. No fim da temporada 14-15, por divergências com a diretoria na política de contratações, o técnico acabou sendo demitido. Na época, os Della Valle inclusive declararam que não havia mais confiança entre as partes. Quatro anos depois, eles recontrataram Montella.

Rossi e Gómez fizeram magia quando jogaram juntos, algo que aconteceu pouco por conta das muitas lesões (Foto: Divulgação/ACF Fiorentina)
Rossi e Gómez fizeram magia quando jogaram juntos, algo que aconteceu pouco por conta das muitas lesões (Foto: Divulgação/ACF Fiorentina)

Na sequência, a Viola apostou em Paulo Sousa para o comando e ele manteve a filosofia de jogo. Em 15-16, liderados por Josip Ilicic, Nikola Kalinic, Federico Bernardeschi, etc., a Fiorentina chegou a liderar a Serie A e brigou pela ponta até a virada do ano. Sousa pediu reforços para manter o embalo, mas não foi atendido, e a Viola despencou, terminando na quinta posição, fora até da Champions League.

Goleada por 4 a 1 da Fiorentina em Milão colocou time na liderança da Serie A em 2015 (Foto: Divulgação/ACF Fiorentina)
Goleada por 4 a 1 da Fiorentina em Milão colocou time na liderança da Serie A em 2015 (Foto: Divulgação/ACF Fiorentina)

Sousa permaneceu até a temporada seguinte, mas o time já não era mais o mesmo. No último ano do português no comando, a Fiorentina terminou na oitava colocação, ficando fora de competições europeias pela primeira vez após quatro anos. A saída de Sousa teve motivos parecidos com as de Montella, a diferença de ambição entre técnico e diretoria.

Para um processo de reformulação, Stefano Pioli foi contratado, com uma filosofia de jogo diferente e também com um orçamento mais tímido. Em 2017-18, a Fiorentina foi abalada com a morte de seu capitão Davide Astori, e a temporada de homenagens ao saudoso zagueiro acabou com uma nova oitava colocação, mas com e esperança de melhora e desenvolvimento de jovens jogadores, como Federico Chiesa, Nikola Milenkovic e Giovanni Simeone.

Brasileiro Vitor Hugo marcou em primeira partida da Fiorentina sem Astori (Foto: Divulgação/ACF Fiorentina)
Brasileiro Vitor Hugo marcou em primeira partida da Fiorentina sem Astori (Foto: Divulgação/ACF Fiorentina)

A última temporada dos Della Valle no comando da Fiorentina, porém, foi uma grande decepção. Time com a menor média de idade da Serie A, a Viola começou de forma cambaleante, mas despencou na virada do ano. Apesar da inesquecível goleada por 7 a 1 sobre a Roma nas quartas da Copa da Itália, Pioli não resistiu a sequência de sete jogos sem vencer e pediu demissão em abril, um dia após a diretoria garantir a sua permanência em Florença.

Na sequência, Vincenzo Montella foi recontratado quatro anos após sua primeira passagem, mas a situação só piorou. A Fiorentina caiu nas semifinais da Copa da Itália para a Atalanta, e não venceu nenhum jogo sob o comando de Montella. Para piorar, chegou à última rodada ameaçada de rebaixamento e terminou a melancólica temporada com um 0 a 0 diante do Genoa, resultado que assegurou a permanência das duas equipes na Serie A.

Montella teve muito sucesso na primeira passagem, mas foi muito mal desde que voltou à Florença (Foto: Divulgação/ACF Fiorentina)
Montella teve muito sucesso na primeira passagem, mas foi muito mal desde que voltou à Florença (Foto: Divulgação/ACF Fiorentina)

Sem vencer em casa desde dezembro, e sem nenhuma vitória nas últimas 14 partidas da Serie A, a Fiorentina terminou o Italiano na 16ª colocação, com 41 pontos. Essa é a pior campanha da Viola desde 2001-02, curiosamente a última antes dos Della Valle assumirem o comando do clube. Todo esse panorama reforços os protestos da torcida e os irmãos, que orgulhosamente comandaram a equipe de Florença, decidiram passar o bastão.

Quem é e quais serão os desafios de Comisso à frente da Fiorentina?

Rocco Comisso é um empresário de 69 anos, nascido na Itália, mas que se mudou com a família para New Jersey aos 12 anos. Lá, ele construiu todo seu patrimônio. Comisso é dono da Mediacom, quinta maior empresa estadunidense de TV a cabo e também é o mandatário do New York Cosmos.

A aquisição da Fiorentina, segundo o próprio, não foi uma decisão tomada do nada, mas resultado de três anos de avaliações e negociações. “Nesses anos de contatos para adquirir o clube, eu desenvolvi uma profunda consciência de como a Viola é importante para a cidade e os fãs”. Como prova disso, os torcedores se mobilizaram nas redes sociais e oito mil pessoas compareceram ao Artemio Franchi na sexta-feira (7) para recepcionar e dar apoio ao novo executivo do clube.

Um dos desafios iniciais de Comisso, além de recolocar a Fiorentina outra vez na briga por competições europeias, é a manutenção do atacante Federico Chiesa. O jogador de 21 anos vem sendo muito assediado pela Juventus e, segundo o jornalista italiano Gianluca di Marzio, especializado em transferências de atletas, clube e atleta já tem um acordo inicial. Manter Chiesa seria uma demonstração de força e de ambição por parte do novo dono.

Permanência de Chiesa é prioridade em Florença (Foto: Divulgação/ACF Fiorentina)
Permanência de Chiesa é prioridade em Florença (Foto: Divulgação/ACF Fiorentina)

Outra escolha importante é sobre a manutenção de Vincenzo Montella. O técnico, que já fez muito sucesso em Florença, não conseguiu nenhuma vitória desde seu retorno à Fiorentina na reta final da última temporada. As indicações iniciais de Comisso, porém, são de permanência de Montella para o novo projeto em Florença.