Diante do fracassado plano de criação da Super League, os principais administradores de clubes ingleses envolvidos no projeto passaram a sofrer retaliações de torcedores. Além de Daniel Levy, no Tottenham Hotspur e Joel Glazer, do Manchester United, a Fenway Sports Group, lideranda por John Henry, passa a ter espaço cada vez mais minado em Anfield Road.

A gota d´água para os torcedores do Liverpool se dá por conta da idealização da Super League, onde o grupo gestor do clube nadou contra as opiniões populares e estaria disposta a se desfiliar da UEFA e FIFA, para participar do novo torneio. Porém, desde 2016 a FSG já é duramente questionada na imprensa britânica e especialmente pelos torcedores, tendo em vista sua metodologia elitista, que impulsiona constantes crises externas, apesar dos bons rendimentos em campo.

Problemas com Klopp

O primeiro grande problema recente do grupo foi com as opiniões sobre o Brexit. Após apoiar o movimento separatista do Reino Unido da União Europeia, onde impactaria na quantidade de jogadores estrangeiros no país, Jürgen Klopp publicamente fez críticas contra a ideia política do Liverpool. 

Em alta, Klopp obteve apoio de grande parte dos torcedores, pois no time titular dos Reds, os maiores destaques eram estrangeiros - a exemplo de Roberto Firmino, Sadio Mane e Mohamed Salah. Na época, Bill Skankly, um dos maiores ídolos da história do clube, defendeu a posição do treinador alemão e publicamente faz ataques à metodologia capitalista da empresa.

Outro entrave foi durante o ano passado, quando o clube havia comunicado uma lista de dispensa significativa de funcionários e reduções salariais para quem permaneceria. Klopp foi um dos porta-vozes do elenco ao defender o emprego dos recém dispensados, expondo inclusive que o mesmo junto dos jogadores arcaram com as remunerações dos funcionários, ainda que a empresa tivesse resultados financeiros relativamente altos.

As críticas públicas na imprensa, com Jamie Carragher um grande opositor aos gestos da FSG, culminaram com o não desligamento dos funcionários. A empresa veio à público pedir desculpas e realocar o quadro de aproximadamente 200 pessoas. Neste período, a BBC Sports alertou que o clube estaria usando fundos do governo para pagar dívidas, onde o plano local auxiliaria em 80% das despesas enquanto a empresa arcaria com apenas 20%. 

O benefício do governo inglês foi elaborado para socorrer empresas que estivessem com prejuízo após o surgimento da pandemia de Coronavírus. Mesmo assim, a multibilionária aproveitou-se da vantagem e enfureceu novamente sua torcida.

Gota d´água

Conforme dito, após 48 horas de rebeldia e um texto de apenas 72 caracteres, o Liverpool voltou atrás e seguirá nas competições oficiais. Porém, antes do caso "Super League", os Reds já haviam tentado influenciar no modelo de futebol nacional, através do Project Big Picture (2017-2020). Em resumo, o Liverpool aliou-se ao Manchester United para propor mudanças significativas na Premier League e ligas da EFL.

Uma das principais indicações seria a redução de 20 para 18 clubes na elite, decisões administrativas concentradas no "Big Six", com acréscimos de West Ham, Everton e Southamptton. Fim da Community Shield e redução da Carabao Cup, limitando-a para times fora de competições europeias. O projeto foi recusado pela Premier League e teve ampla repercussão negativa dentre os clubes ingleses.

Agora, com mais um plano frustado para arrecadar dinheiro, o Liverpool se vê diante de um futuro sombrio, onde o clube avaliado em 4,2 bilhões de libras, pode ser vendido. Jamie Carragher disse à Sky Sports que não vê outra alternativa a não ser sua venda. Torcedores do clube se aglomeram em volta do Anfield para protestar contra a FSG e nas redes sociais há movimentos cada vez maiores para pressionar o grupo.

Sem clima, ao fim da temporada os Reds correm risco de perder Klopp, Salah e até Mane, cogitados para treinar a seleção alemã e irem ao Paris Saint-Germain e Real Madrid, respectivamente. Por fora há o risco de não classificação à próxima Champions League.