Lateral-direito de 26 anos revelado pelo Atlético da Paraíba  e com passagem pelo Osasco Audax,  Vicente de Paula é um dos brasileiros que vivem na Ucrânia e sente-se perto de todo esse trabalho no país europeu. Residente ucraniano desde 2019, ele bateu um papo exclusivo com a VAVEL Brasil para falar com propriedade já que conhece o dia do clima de guerra.

Vicente chegou à Ucrânia em 2019, após segunda passagem pelo Atlético da Paraíba, quando assinou contrato com o PFC Lviv, time do oeste ucraniano. Logo em seguida foi para o futebol albanês jogar no Bylis Ballsh, onde atuou por meia temporada. Em abril do ano passado, voltou ao futebol ucraniano para vestir a camisa do Girnyk-Sport, time da cidade de Horishni Plavni, já no lado leste, onde acontecem os conflitos atuais.

Mas sua passagem pelo leste ucraniano durou apenas três meses. Em julho, assinou com seu clube atual, o VPK-Agro, da pequena cidade de Shevchenkivka, no oeste, que joga a segunda divisão da Ucrânia.

Por estar numa liga nacional, Vicente viaja todo o país. Mesmo que sua região atual não esteja em guerra, as visitas a cidades conflitantes causa um relato sincero e digno de roteiro de filme.

"A atmosfera do país mudou bastante nos últimos tempos. Quando tinha jogo fora de casa, dava para ver algumas cidades mais afastadas que estavam destruídas. É uma situação muito triste, pessoas perdendo casas, tentando reconstruir a vida e agora mais uma vez os lugares são destruídos", relata o brasileiro.

Assunto delicado

Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal Vicente de Paulla
Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal Vicente de Paula

Vale lembrar que os conflitos armados acontecem na região de Donbass desde 2014. A invasão russa da semana passada é só a ponta de um iceberg numa região separatista de maioria cultural russa que luta contra grupos ultranacionalistas ucranianos desde as manifestações nacionais também de 2014. E um estrangeiro falar sobre esse assunto na Ucrânia não é muito receptivo.

"Então, nós brasileiros não falávamos muito sobre isso. Mas sempre foi um assunto muito delicado, os ucranianos não gostavam muito de falar sobre esse assunto com a gente. Deu para perceber que era um assunto muito pessoal e importante para eles", conta.

É nessa realidade que alguns brasileiros vivem no futebol ucraniano. Vicente também passa por esse momento turbulento. Agora, confira o bate-papo da VAVEL Brasil com o lateral-esquerdo:

VAVEL Brasil: Como estava sua situação na Ucrânia antes da pausa do campeonato nacional? Vocês, jogadores, já viviam algum tipo de apreensão referente à tensão com a Rússia, imaginava uma guerra de fato?

Vicente: Faz bastante tempo que o clima é de tensão lá na Ucrânia. Mesmo assim, o nosso dia a dia era normal. Quando ia para o treino, para os jogos, ou às vezes saia para jantar, não tinhamos medo. O sentimento era de segurança. Nos últimos meses, com os rumores da guerra, ficamos mais apreensivos, mas não imaginava que chegaria nesse ponto.

VB: Você tem contato com outros jogadores que estão lá? Tem notícias dele?

Vicente: Eu tenho muitos amigos por lá. É claro que estou preocupado. Estão todos desesperados pedindo ajuda. Alguns, graças a Deus, conseguiram fugir da Ucrânia. É uma situação muito triste e difícil. Espero que todos fiquem em segurança.

Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal Vicente de Paulla
Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal Vicente de Paula

VB: Você pretende voltar ao time quando for chamado novamente quando o campeonato voltar?

Vicente: Antes do conflito acontecer, a gente conversava entre os jogadores o que iriam fazer com nossos contratos caso realmente tivesse guerra. Até agora não me passaram nada. É uma situação muito delicada. É claro que gera dúvida, mas temos que ver como o país irá passar por essa situação.

VB: Como tem sido acompanhar todas essas notícias aqui no Brasil? Família, amigos e conhecidos têm conversado contigo a respeito? Como eles lidam com esse clima tenso?

Vicente: Logo quando a Rússia invadiu foi um desespero. Meu celular não parou de tocar durante todo dia. Todo mundo me perguntando se estava lá na Ucrânia. Graças a Deus estava no Brasil. A preocupação ficou com o pessoal que estava lá se preparando para disputar o campeonato e do nada tem que se esconder para proteger sua vida. É muito triste.