Desastroso. Esta é a definição do ano de 2013 para o Clube Náutico Capibaribe. Todas as expectativas criadas no final de 2012 acabaram de maneira frustrante em 2013 e este tornou-se um ano para esquecer. As esperanças, porém, reacenderam após as eleições presidenciais do último dia 15. Nesta retrospectiva, a VAVEL Brasil comenta em detalhes o ano melancólico do Hexacampeão de Pernambuco.
Vaidades e divergências políticas
No ano da maior renda de sua história, fato que ficou mais evidente após a assinatura do contrato com o consórcio da Arena Pernambuco (o estádio foi inaugurado no dia 22 de maio, quando o Náutico enfrentou o Sporting Lisboa em partida amistosa e empatou em 1 a 1), ato que forçou a saída do Timbu do Estádio dos Aflitos (a última partida do Timbu do Capibaribe no Eládio de Barros Carvalho foi o empate em 2 a 2 com a Portuguesa, na Série A), os adeptos alvirrubros acreditavam na formação de um bom time, apesar da saída de alguns destaques do ano passado (o volante Souza, o meia-atacante Rhayner e os atacantes Kieza e Araújo). Esperava-se que as peças fossem repostas à altura.
Porém, o que se viu foi um time limitadíssimo, reflexo de um dos piores anos da história da instituição. Não houve problemas apenas dentro das quatro linhas. Fora delas, dirigentes desunidos, com suas briguinhas e vaidades políticas, prejudicaram bastante o Clube Náutico Capibaribe.
Coincidentemente (ou não), tudo começou a desandar quando Daniel Freitas assumiu o cargo de superintendente de futebol do CNC em janeiro. Ele não tinha deixado boas lembranças no Vasco da Gama. Em terras pernambucanas a história não foi diferente. Causou intrigas e efetuou más contratações. Acabou sendo escanteado já no mês de maio, após a formação de um colegiado composto por 17 diretores (!) cuja função era tomar conta do futebol alvirrubro, algo que culminou na demissão do diretor, anunciada em julho. Sua saída dividiu opiniões dentro da instituição.
Posteriormente, alguns membros começaram a deixar o colegiado e o mesmo chegou à sua total dissolução no final de setembro. Segundo André Campos, líder do grupo, o fato de Paulo Wanderley, presidente do Náutico, e Berillo Júnior, presidente do Conselho Deliberativo, tomarem algumas decisões sem consultar os dirigentes foi o motivo do fim do colegiado.

Falta de planejamento e de transparência
O Náutico tornou-se uma terra de ninguém. Paulo Wanderley e sua trupe, integrantes de uma gestão ineficiente e sem o devido planejamento, ficaram longe de ter a simpatia da torcida.
Uma ótima (péssima, melhor dizendo) demonstração da falta de planejamento foi a quantidade exorbitante de técnicos que passaram pela Avenida Conselheiro Rosa e Silva em 2013: sete. Foram eles Alexandre Gallo (saiu para assumir as categorias de base da Seleção Brasileira), Vágner Mancini, Paulo Silas, Zé Teodoro, Jorginho, Levi Gomes e Marcelo Martelotte.
Também vale ser ressaltada a falta de transparência. Um bom exemplo de tal fato é a não-revelação dos valores das negociações de jogadores como o volante Auremir (com o Vasco, em 2012) e o lateral Douglas Santos (com o Granada, da 1ª divisão espanhola, em 2013). Não se pode deixar de dar satisfação à torcida. Ela, sendo o maior patrimônio do Náutico, tem o direito de saber absolutamente tudo que acontece no clube, mas infelizmente não era isso que ocorria.
Um vexame atrás do outro
Muitas humilhações vieram este ano: eliminações vexatórias no Campeonato Pernambucano - para o rival Santa Cruz nas semifinais: Santa 1 a 0 na ida, Náutico 2 a 1 na volta e os tricolores avançaram à decisão graças à regra do gol fora de casa -, na Copa do Brasil - para o CRAC, ainda na primeira fase: 3 a 1 na ida e 1 a 1 na volta - e na Copa Sul-Americana - na fase nacional, para o Sport, seu maior rival, na disputa de pênaltis: Sport 2 a 0 na ida, Náutico 2 a 0 na volta e Sport 3 a 1 nas penalidades.
Como se não bastasse tudo isso, também vieram sucessivas vergonhas na Série A do Campeonato Brasileiro. Único time pernambucano na elite, o Timba não conseguiu orgulhar o futebol do Estado. Muito pelo contrário. Conquistou apenas 20 pontos em 38 jogos, numa campanha que compreendeu 5 vitórias, 5 empates e 28 derrotas, sendo 12 delas de goleada, e foi o último colocado. Passou todas as rodadas do certamente na zona da degola, teve o pior ataque (22 gols marcados), a pior defesa (79 tentos sofridos) e um saldo de gols desastroso: -57. Foi o 2º pior desempenho de um time na era do Brasileirão por pontos corridos, atrás apenas do América de Natal de 2007, que fez somente 17 pontos.
O rebaixamento para a Série B confirmou-se já na 32ª rodada, após a humilhante derrota de 5 a 0 para o Atlético Mineiro, campeão da Libertadores da América e 3º colocado no Mundial de Clubes da FIFA, na Arena Independência. O Galo Doido enterrou o Timbu em sua cova em pleno dia de Finados. Uma cova cavada pelos próprios dirigentes alvirrubros, que pensaram mais neles mesmos do que no próprio clube que comandam.

Salários atrasados
E não parou por aí. Já na reta final do campeonato, os jogadores timbus, liderados pelo volante Martinez, capitão da equipe, ameaçaram entrar em greve devido ao atraso no pagamento dos salários do elenco. O episódio teve grande repercussão a nível nacional, ainda mais porque o mandatário Paulo Wanderley, irritado com a situação, ameaçou dispensar quem estivesse envolvido nessas reivindicações, e fez o famigerado Bom Senso FC, comissão formada por jogadores os quais reivindicam melhores condições de trabalho, ameaçar paralisar o Brasileirão.
Jogadores e diretoria chegaram a um acordo e acabaram com a ameaça de greve do plantel e a possibilidade de paralisação do campeonato. No entanto, os atletas, após a competição, afirmaram que os dirigentes não cumpriram o prazo o qual eles mesmos determinaram para pagar os salários em débito do time e os próprios jogadores devem acionar o clube na Justiça, a fim de obter o que lhes é de direito.
Eleições e promessa de renovação
No final do ano, mais precisamente no dia 15 de dezembro, o futuro do CNC estava nas mãos dos sócios alvirrubros. Era o dia das eleições presidenciais. Os associados não podiam reclamar da falta de opções para votar, pois quatro candidatos pleiteavam o cargo: Gláuber Vasconcelos, da chapa MTA (Movimento Transparência Alvirrubra), Marcílio Sales, da chapa Alvirrubros de Coração, Alexandre Homem de Melo, da chapa Renovação, e Alberto de Souza, da chapa Camisa 12.
Nem tudo ocorreu na sua devida tranquilidade. Quando Paulo Wanderley, presidente em exercício, chegou à sede alvirrubra para votar, o clima esquentou. O mandatário levou sonoras vaias, diversos xingamentos, um copo d'água na cara e escapou de apanhar.
Outro momento que chamou a atenção foi o final da votação. Os sócios reunidos na sede começaram a cantar o hino do Náutico, realizando uma prova de amor e fidelidade à agremiação.
O resultado não foi surpreendente para ninguém, nem mesmo para as chapas derrotadas. Gláuber Vasconcelos, o candidato da oposição, obteve 73,22% dos votos - uma verdadeira "goleada" - e foi eleito. O percentual dos adversários foi o seguinte: Marcílio Sales, da chapa formada por integrantes do antigo Colegiado Alvirrubro, ficou com 21,29%; Alexandre Homem de Melo, candidato da situação, foi votado por apenas 3,25% dos eleitores; já Alberto de Souza, líder do grupo cujos integrantes eram membros de torcidas organizadas do Náutico, foi o candidato com a pior adesão entre os votantes: 2%. Os brancos e nulos, somados, contabilizaram uma porcentagem de 0,24%. Ao todo, 2.151 sócios compareceram à votação. Nota-se que foi um número bastante expressivo e isto representa o tamanho da indignação dos associados para com a gestão em exercício.
Pela primeira vez em 112 anos de história, o Clube Náutico Capibaribe será presidido por um opositor, coisa que só uma democracia proporcionaria. Gláuber será o mandatário do Alvirrubro da Rosa e Silva durante o biênio 2014/2015. Os maiores desafios certamente serão o fim do jejum de títulos, que já dura 9 anos, e o aumento do quadro de sócios (a meta, segundo Vasconcelos, é de 10 mil associados ou mais). A pressão será grande, visto que o clube vive uma fase bastante turbulenta e a candidatura de Gláuber simbolizava a mudança pela qual a instituição precisa passar. Por isso, a torcida depositou toda a sua confiança no MTA e espera dias melhores para o time do coração. Independente de chapa, o verdadeiro vencedor da eleição tem que ser o próprio Náutico, pois este necessita voltar aos tempos gloriosos, que o fizeram ser grande na região e respeitado a nível nacional.

Melhor jogo: Náutico 3 x 0 Internacional, 9ª rodada
Em meio a tantas atuações pífias, houve partidas em que o time do Náutico se dispôs bem taticamente e foi eficiente no ataque e/ou na defesa, por mais incrível que isso possa parecer. O melhor desempenho certamente ocorreu no duelo com o Internacional, que era o líder da competição até então, na Arena Pernambuco. Sob o comando de Zé Teodoro àquela época, o Timbu aplicou 3 a 0 no Colorado. Os gols foram marcados por Derley, Maikon Leite e Rogério. Era a segunda vitória alvirrubra no Brasileirão, a primeira no novo estádio.

Pior jogo: Atlético Paranaense 6 x 1 Náutico, 36ª rodada
Mesmo jogando com a cabeça na final da Copa do Brasil, contra o Flamengo, o Atlético-PR de Vágner Mancini, ex-técnico do CNC, não teve piedade dos pernambucanos, já comandados por Marcelo Martelotte, e venceu sem a mínima dificuldade: 6 a 1, a maior goleada da edição de 2013 do Brasileirão. Na Arena Joinville, Felipe (duas vezes), Zezinho, Paulo Baier, Cléberson e Éderson balançaram as redes para o Furacão; Tiago Real fez o gol de honra do Timba. Sem dúvidas, foi o jogo que deixou mais evidente a bagunça que tomava conta do time do Náutico.

Os melhores de 2013

Maikon Leite: Vindo do Palmeiras por empréstimo, o atacante fez uma boa estreia ao deixar sua marca na goleada sobre o Internacional. No entanto, não teve a mesma eficiência nos jogos seguintes e passou a ser visto com maus olhos pela torcida, fazendo o Náutico tentar devolvê-lo ao clube paulista. Sem sucesso na devolução, o CNC teve de continuar com o avançado no elenco. Maikon Leite ganhou uma chance com o técnico Marcelo Martelotte e começou a deslanchar. Acabou marcando 8 gols e foi o artilheiro do Timbu no Campeonato Brasileiro. Mesmo tendo contrato com o clube até maio de 2014, o jogador deve aceitar a proposta do Atlas (México) e deixar os Aflitos.

Ángelo Peña: O meio-campista venezuelano veio do Caracas (Venezuela) e mostrou serviço sempre que esteve em campo, mas infelizmente não teve as devidas e merecidas oportunidades na equipe titular. Peña chegou a ser convocado pela seleção de seu país nas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2014, a qual será disputada aqui no Brasil - a Vinotinto não obteve a qualificação para o Mundial. As turbulências políticas do clube fizeram o meia deixar a Rosa e Silva e ele não escondeu sua decepção: "Queria poder ter ajudado mais o Náutico"

Juan Manuel Olivera: Sendo um atacante de área, daqueles que esperam a bola chegar até ele e mandá-la ao fundo das redes, Olivera teve o seu desempenho no Náutico prejudicado pela falta de um meia de qualidade - é realmente inexplicável o fato de Peña ter sido reserva - no time titular. O avançado não justificou o apelido de "El Matador" que recebeu nos outros clubes que defendeu, notadamente o Peñarol (Uruguai). Mesmo tendo marcado poucos gols - foram dois na Série A e um na Sul-Americana - com a camisa vermelha e branca, pode-se dizer que o uruguaio foi um dos melhores jogadores da equipe, pela falta de concorrentes à altura no elenco e pelo esforço demonstrado dentro das quatro linhas. Não à toa concorreu ao Prêmio Puskas 2013 pelo belo gol marcado no clássico contra o Sport, na Copa Sul-Americana. Deixou o Alvirrubro pelo mesmo motivo de Peña e ainda alfinetou a diretoria: "O presidente proibiu a gente [Peña e ele] de continuar treinando no clube, não sei o porquê. Ele acha que a gente é o culpado da situação do Náutico, mas tem muita política no meio"

Os piores de 2013

Rogério: "Cria" de Waldemar Lemos, o atacante ganha oportunidades no time titular desde 2011, quando o Náutico foi vice-campeão da Série B e conquistou o acesso à Série A. Todavia, firmou-se na equipe apenas na época do Estadual 2013, quando marcou 14 gols e foi um dos destaques do certame. No Brasileirão, porém, balançou as redes apenas 3 vezes, voltou a desperdiçar oportunidades imperdoáveis de gol, teve más atuações e foi duramente criticado pelos torcedores. Rogério não está garantido no elenco para 2014, pois vem analisando uma proposta do futebol dos Emirados Árabes Unidos.

Luiz Eduardo: O zagueiro veio por empréstimo do São Paulo, junto com João Filipe, seu companheiro de posição. Mesmo jogando originalmente na zaga, o atleta foi improvisado como lateral em algumas oportunidades. Não deu conta do recado em nenhuma das duas posições. Em novembro, com o Campeonato Brasileiro na reta final e o rebaixamento do Náutico matematicamente confirmado, seu contrato foi rescindido e ele voltou ao SPFC. João Filipe foi junto.

Derley: Bastante identificado com a torcida alvirrubra, o volante Derley não vinha recebendo muitas oportunidades no Atlético Paranaense e optou por voltar ao Náutico em junho, por empréstimo, recusando uma proposta do rival Sport e vindo como um "reforço de peso" para a Primeirona. Conhecido pelo seu estilo de jogo "raçudo" e por ser "louco" e "bruto", o jogador teve rendimento muito abaixo do esperado e foi uma grande decepção. Tem contrato válido com o CNC até junho de 2014.

Análise final

Um dos piores anos da história do Náutico. Não houve motivos para comemoração. A falta de transparência e planejamento da diretoria - sem falar das brigas políticas dentro da própria instituição - e a escassez de qualidade dentro dos gramados fizeram 2013 ser humilhante e decepcionante para a torcida timbu em todos os aspectos. O protesto mais eficiente contra a ineficaz gestão de Paulo Wanderley e cia. foi em dezembro, nas urnas, com os votos contabilizados que deram a vitória à oposição.

Agora, com o controle do clube, Gláuber Vasconcelos e o Movimento Transparência Alvirrubra têm a missão de levar o Clube Náutico Capibaribe de volta às glórias. O planejamento já começou com a confirmação de Lisca como técnico do Timba em 2014. Os adeptos terão que chegar juntos nas quatro competições que o CNC disputará: Copa do Nordeste, Campeonato Pernambucano, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro da Série B (caso o time conquiste o Nordestão, ainda jogará mais uma competição: a Copa Sul-Americana). Pressão não faltará. E apoio também não.

(Fotos: Marcello Neves/Montagem, Bobby Fabisak/JC Imagem, Peu Ricardo, Thiago Augustto, Anderson Malagutti/Náutico, Aldo Carneiro/Pernambuco Press, Aldo Carneiro/Pernambuco Press, Aldo Carneiro/Pernambuco Press, Aldo Carneiro/Pernambuco Press, Divulgação/Náutico, Lucas Liausu e Flávio Japa/JCPM/Fotoarena)

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