Mesmo sofrendo goleadas terríveis para seu maior rival, o Vitória, e brigando contra o rebaixamento, o torcedor aponta como positivo o ano de 2013 para o Bahia. Mas, como isto é possível? O torcedor do Bahia ganhou de presente aquilo que mais queria: a democracia. Um clube aberto para o seu povo, que agora tem o direito de escolher o seu próprio presidente.

Planejamento pequeno e contratações pífias

Enquanto o rival Vitória reforçava seu elenco com jogadores consagrados e montava um time competitivo, o Esquadrão seguia com a mesma fórmula dos dois últimos anos e contratava jogadores esquecidos em outros clubes, como foi o caso do volante Toró e dos laterais Pablo e Magal. Os jogadores não deram certo e o time continuava com as mesmas deficiências de outrora.

E o primeiro vexame do ano veio na Copa do Nordeste. Ainda na fase de grupos, o Bahia foi eliminado em uma chave que tinha ABC, Ceará e Itabaiana e o time do até então treinador Jorginho passou mais de 40 dias sem entrar em campo.

Passada a quarentena, o Tricolor voltou as atenções para o Campeonato Baiano. E os vexames que começaram na Copa do Nordeste se estenderam à competição estadual. O time que detém o maior número de títulos baianos encerrou a primeira fase com uma pífia campanha, fazendo apenas 8 pontos na primeira fase do campeonato, rendendo apenas a sexta colocação entre oito equipes. Ainda assim, beneficiado pelo regulamento, o Esquadrão de Aço avançou às semifinais do torneio.

Futebol vexatório e crise com a torcida

No dia 7 de abril, o maior palco do futebol baiano estava de volta. A Fonte Nova, local onde o Bahia conquistou seus dois títulos brasileiros, recebeu o clássico Ba-Vi como jogo de estreia. Quase 37 mil torcedores acompanharam de perto a humilhação sofrida pelo Bahia diante do Vitória. O time rubro-negro massacrou o Tricolor pelo vexatório placar de 5 a 1, resultado que fez o técnico Jorginho ser demitido do cargo. Para o seu lugar, foi anunciado o retorno de Joel Santana.

No segundo Ba-Vi da competição, outro triunfo rubro-negro, desta vez pelo placar de 2 a 1. No entanto, a repercussão maior ficou por conta da torcida tricolor, que revoltada com a passividade da equipe, arremessou para o campo as recém-lançadas caxirolas. O episódio demonstrava claramente a crise que se instavala no Bahia, tanto em campo como administrativamente.

E o que estava ruim, ficou ainda pior. No dia 12 de maio, Bahia e Vitória voltaram a campo para disputar a primeira partida da final do Baianão. Após proporcionar ao seu torcedor várias humilhações durante os primeiros meses, a pior delas ainda estaria por vir. O Tricolor foi atropelado pelo Leão pelo humilhante placar de 7 a 3.

O mais novo vexame causou a demissão do até então diretor de futebol Paulo Angioni, que estava no cargo desde 2010. No dia seguinte, o técnico Joel Santana também pediu demissão e deixou o comando técnico da equipe. Com isto, o treinador do time B, Chiquinho de Assis, foi convocado para assumir o time no Ba-Vi decisivo.

Antes da partida decisiva do estadual, o Bahia enfrentou o Luverdense pela Copa do Brasil. Irritada com o time e principalmente com a diretoria, a torcida resolveu fazer protesto com a campanha Público Zero. E os torcedores cumpriram o que prometeram. Pouco mais de 1.700 torcedores acompanharam a eliminação do Tricolor, mesmo vencendo por 1 a 0. Resultado que era insuficiente, já que na partida de ida a equipe baiana perdeu por 2 a 0, na cidade de Lucas do Rio Verde. No fim de semana, a equipe empatou por 1 a 1 com o Vitória e viu o rival conquistar o merecido título estadual.

Revoltada com a atual administração, os torcedores se uniram e então surgiu o movimento Bahia da Torcida, que liderado pelo publicitário Sidônio Palmeira, ganhou importantes aliados, como o governador da Bahia, Jaques Wagner e do ex-jogador Bobô, ambos torcedores do Tricolor. Mais de seis mil torcedores se reuniram na Fonte Nova, um dia após a partida contra o Luverdense.

Em meio à tudo isso, Marcelo Guimarães Filho anunciou Anderson Barros como novo gerente de futebol e Cristóvão Borges como treinador.

Intervenção, democracia e alívio

No dia 9 de julho, o Tribunal de Justiça da Bahia determinou que o Bahia entrasse em processo de intervenção. Então, o ex-presidente Marcelo Guimarães Filho, além de todo o conselho deliberativo do clube, estavam automaticamente fora do Bahia. Com isto, o advogado Carlos Rátis foi nomeado interventor para investigar todas as irregularidades da gestão de MGF e, por fim, convocar os sócios para eleger um novo presidente.

Durante dois meses, Rátis e sua equipe de intervenção investigou tudo o que se passou durante a gestão de Marcelo Guimarães. Paulo Albiani, juiz responsável pela intervenção, determinou uma auditoria nas contas do clube, onde foi revelada uma dívida de mais de R$ 83 milhões, além de uma série de irregularidades nos últimos anos, como evasão fiscal, de ingressos, pagamentos sem comprovação e venda de jogadores da base.

Rátis abriu o clube a novas associações e apresentou uma proposta de estatuto. No dia 17 de agosto, mais de três mil sócios compareceram a Fonte Nova para a histórica assembleia que aprovou a mudança no estatuto do clube. As principais mudanças foram a instituição das eleições diretas para presidente, redução do número de conselheiros, de 300 para 100 e a obrigatoriedade da “ficha-limpa” para exercer cargo no Conselho do clube ou na diretoria.

Além disso, Carlos Rátis reduziu o valor da jóia para associação, de R$ 300,00 para R$ 10,00, trazendo assim mais de 17 mil novos sócios em poucos dias. Tudo isto fez com que Rátis entrasse para a história do clube, sendo ovacionado pelos torcedores. Então, o advogado que era torcedor declarado do Atlético-MG, revelou que depois de tudo que viveu durante meses, transpareceu o sentimento tricolor no seu coração.

“Hoje eu sou um torcedor apaixonado do Esporte Clube Bahia exatamente por estar próximo da torcida, que é o seu maior patrimônio. Em relação ao crescimento pessoal em todos os níveis claro que a pressão é diuturno. Sofremos restrição em relação à saúde porque a estafe também acontece porque muitas vezes não tivemos tempo nem para almoçar, mas independentemente disso, é um experiência única estar aqui colaborando com o Esporte Clube Bahia, disse Rátis.

“Hoje eu sou um torcedor apaixonado do Esporte Clube Bahia exatamente por estar próximo da torcida, que é o seu maior patrimônio."

Nova diretoria e luta árdua contra rebaixamento

Apontado por todos como um dos favoritos ao rebaixamento, o Bahia surpreendia dentro de campo com uma sequência de bons resultados, fazendo assim a equipe brigar por uma vaga no G-4 durante boa parte do campeonato. No entanto, com pouca qualidade no elenco, a boa fase não se sustentou. No fim da competição, a equipe comandada por Cristóvão Borges voltaria a brigar contra o rebaixamento, como aconteceu também em 2011 e 2012. Ainda assim, a equipe viveu momentos memoráveis no brasileiro, como triunfos diante de Botafogo e Inter, fora de casa, e principalmente contra o Vitória, que após várias humilhações, viria a ganhar do rival rubro-negro pela primeira vez no ano.

Fora de campo, o clube continuava ao encontro da democracia. Por coincidência, o dia 7 de setembro entrou para a história do Esquadrão. Quase 5 mil sócios foram às urnas, na Fonte Nova, para eleger Fernando Schimidt como novo presidente do clube até 2014. Schimidt venceu nas urnas os empresários Antônio Tillemont e Rui Cordeiro. Enfim, o torcedor poderia respirar aliviado. Pela primeira vez na história do clube, a própria torcida pôde eleger o seu presidente.

Melhor jogo: Bahia 3 x 0 Flamengo, 10ª rodada

A melhor partida do Bahia no ano foi ao lado do seu torcedor. Com uma atuação impecável da trinca de ataque tricolor, que marcou todos os gols da partida, o Esquadrão fez ótima partida e passou fácil pelo Rubro-Negro carioca.

Pior jogo: Bahia 3 x 7 Vitória, Final do Campeonato Baiano

Sem palavras. Não há explicações para o vexame sofrido pelo Tricolor diante do seu maior rival. Vivendo um péssimo momento político, o Esquadrão foi humilhado pelo Vitória na primeira partida da final do Campeonato Baiano.

Os melhores de 2013

Fernandão: Contestado na sua chegada, o centroavante chegou no melhor estilo mineirinho. Pelas beiradas e sempre fazendo gols, o atacante foi conquistando a torcida e se tornou o artilheiro da equipe na temporada, com 18 gols marcados.

Feijão: Revelado nas categorias de base do Esquadrão, o jovem volante de 19 anos subiu para o profissional neste ano e ganhou espaço no grupo do técnico Cristóvão Borges, terminando como titular no time do Bahia. Torcedor declarado do clube, o jovem virou o "xodó" da torcida pelas provocações que fez contra o Vitória, afirmando ter nojo do Leão.

Marcelo Lomba: Afastado da equipe durante o Baianão por atravessar um péssimo momento, o paredão tricolor foi reintegrado ao elenco pelo técnico Cristóvão Borges e novamente assumiu a camisa 1, salvando o Bahia por diversas vezes durante o Brasileirão.

Os piores de 2013

Souza: Camisa 9 e artilheiro do Bahia em 2012, neste ano o centroavante causou ira na torcida por sua displiscência. Rodeado de polêmicas, Souza alegou lesões durante boa parte da temporada, e durante o tempo ‘lesionado’, postava fotos frequentando festas nas redes sociais.

Neto: Contratado em 2012 para resolver o problema na lateral-direita, o jogador correspondeu às expectativas, sendo decisivo por vários jogos. No entanto, neste ano, Neto começou a temporada como titular e foi perdendo espaço após péssimas partidas, chegando a ser afastado do grupo principal.

Diones: Apesar de ser titular durante 2011 e 2012, o volante nunca caiu nas graças do torcedor. Diones, que apesar de ser segundo volante, é péssimo na cobertura da cabeça de área e pouco se apresenta na frente. Com a chegada de Rafael Miranda e a boa fase de Feijão, Diones perdeu espaço na equipe titular e passou boa parte da temporada entre os reservas.

Análise final

Democrático. Assim pode-se definir o ano de 2013 para o Bahia. Mesmo com um ano sofrível dentro de campo, fora dele a torcida tem motivos de sobra para comemorar. Por anos o torcedor lutou pelo direito do voto direto para presidente e um clube democrático, e após muita luta, veio o sucesso.

Em 2014 o torcedor tricolor espera uma equipe competitiva, à altura das tradições do clube e que passe longe de disputar o rebaixamento, como foi nos últimos três anos. A esperança renova-se e a torcida espera uma equipe que volte a sonhar alto e, quem sabe, voltar a ganhar títulos grandes, feito que não acontece desde 1988.

(Fotos: Futura Press, Jornal A Tarde, Agência Estado, Globoesporte.com, Jornal Correio, Pernambuco Press, Divulgação EC Bahia)

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