No ano passado, o Criciúma garantiu a permanência na primeira divisão apenas na última rodada, devido a uma combinação de resultados. E se no último ano o protagonista foi Lins, desta vez a responsabilidade recai sob os ombros do veterano Paulo Baier, que tem a missão de liderar o jovem plantel criciumense para mais um ano na primeira divisão.

Em 2014, a tarefa parece ser mais simples: o investimento para o Brasileirão foi enorme, fazendo com que o Tigre se tornasse a equipe com a maior folha salarial do estado, e Paulo terá um plantel bastante capacitado ao seu lado. Neste guia, você fica sabendo de todos os detalhes da preparação do Criciúma para o campeonato brasileiro, que deve ser bem mais calmo do que o ano anterior.

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Memória

Na primeira divisão nacional, a principal campanha do Criciúma aconteceu no ano de 1987, quando a equipe começava a se estruturar no cenário estadual e dava seus primeiros passos na direção de tornar-se uma potência na região. Na ocasião, um modesto oitavo colocado no módulo amarelo da Copa União, melhor colocação da equipe no campeonato nacional.

O maior título do Criciúma Esporte Clube – e também do futebol catarinense – foi conquistado quatro anos depois. No ano de 1991, o Tigre protagonizou um feito inédito no estado e em sua história: conquistou a Copa do Brasil, comandado por um então desconhecido Felipão, que conquistava o primeiro título nacional de sua carreira.

O adversário daquela final foi o Grêmio. O primeiro jogo foi no Olímpico, e se esperava uma vitória do Grêmio comandado por Dino Sani, mas a partida terminou em 1 a 1, levando a decisão para o Heriberto Hülse. E no domingo seguinte, mais precisamente no dia 2 de julho de 1991, a torcida que lotou o estádio de Criciúma viu a equipe levantar a taça da Copa do Brasil, após empate por 0 a 0.

Após conquistar o Brasil, foi a vez de o Tigre ir pela primeira vez à América, onde apenas um quinto lugar na Copa Libertadores conseguiu parar os carvoeiros catarinenses. A base da conquista do título foi: Alexandre; Sarandi, Vilmar, Altair e Itá; Roberto Cavalo, Gélson e Grizzo; Zé Roberto, Soares e Jairo Lenzi (Vanderlei).

O Criciúma posa com a faixa de campeão da Copa do Brasil (Foto: Arquivo)

Na última edição...

A luta contra o rebaixamento pautou o ano de 2013. A equipe garantiu a manutenção da Série A apenas na última rodada, devido a uma combinação de resultados que estagnou o Tigre na décima quarta posição. Apesar de ter conseguido cumprir seu objetivo primário, a tarefa foi árdua: foram 13 vitórias, 7 empates e 18 derrotas. A defesa, que levou 63 gols, foi a segunda pior da Série A.

Desde o início da competição o futebol do Tigre não encantou, e três treinadores diferentes passaram pelo comando da equipe na Série A. Vadão, que conquistou o estadual de 2013 com a equipe foi o primeiro. Não resistiu a uma sequência ruim e abandonou a equipe em agosto. Quando Vadão deixou a equipe, o Criciúma estava amargando a zona de rebaixamento pela primeira vez no campeonato, e coube ao ex-auxiliar técnico e ídolo Silvio Criciúma assumir a equipe interinamente. Neste período, foram três vitórias, contra Coritiba, Vitória e São Paulo.

Após a sequência que tirou o Tigre da zona da degola, o treinador iniciou oficialmente sua carreira de treinador, mas não conseguiu nenhuma vitória e foi demitido após 5 jogos. Foram 4 derrotas e 1 empate, que irritaram a diretoria e forçaram seu desligamento do clube. O substituto escolhido foi Argel Fucks, que conquistou o acesso à Série B em 2010. O treinador comandou quatorze partidas na elite, e mesmo conseguindo manter o time na Série A, foi demitido no final do ano. Sob seu comando, foram 6 vitórias, 5 derrotas e 4 empates, rendimento considerado insatisfatório.

A torcida foi fundamental na campanha do Tigre em 2013 (Foto: João Lucas Cardoso)

O nome de 2013: Lins

No final de 2012, Zé Carlos anunciou sua saída do Tigre, após alcançar o status de ídolo – foram 57 gols em 71 jogos, o credenciando como terceiro maior artilheiro da história do clube. Coube a Lins substituir a lenda, e o atacante não desapontou a torcida. Ao final do ano, foram 24 gols, sendo 11 pelo Brasileirão e 10 pelo Campeonato Catarinense.

O atleta chegou ao Criciúma em 2010, com a missão de ajudar a equipe a sair da série C do Campeonato Brasileiro, mas teve oportunidades apenas em 2012. Em 2011, foi emprestado ao Grêmio e ao ABC, e em 2012 defendeu o Itumbiara. No meio do ano voltou, e na campanha da Série B, deu sinais de que alçaria voos altos em seu novo clube.

Começou 2013 como titular absoluto, e suas boas atuações refletiram-se na conquista do Campeonato Estadual daquele ano. Na ocasião, Lins foi o terceiro na tabela de artilharia, e compôs a seleção do campeonato. Durante o restante da temporada, apenas repetiu as boas atuações, e ao término do campeonato, foi considerado um dos responsáveis pela permanência da equipe na primeira divisão.

Os apelidos não demoraram a surgir – “Linswandowski” e “Bruce Lins” foram os mais famosos –, assim como o interesse pelo atacante. Clubes brasileiros chegaram a especular o jogador e o Criciúma não demorou em oferecer uma renovação contratual que manteria o centroavante por mais três anos, mas em janeiro, trocou a equipe pelo Gamba Osaka (JAP).

Lins foi o grande nome do ataque do Criciúma (Foto: Fernando Ribeiro/Criciúma EC)

O início de temporada

Os primeiros meses do Criciúma podem, certamente, ser considerados turbulentos. O Tigre começou o ano com grande investimento, e montou a melhor equipe do estado para a disputa do Campeonato Catarinense – pelo menos no papel. Entretanto, dentro de campo se viu uma equipe de futebol sofrível e pouco empolgante. Durante a primeira fase, a equipe chegou a ser pressionada por equipes menores e muitas das vitórias foram conquistadas por placares simples de 1 a 0.

Ao final de fevereiro, a paciência chegou ao fim, e Ricardo Drubscky deixou o comando da equipe dando lugar a Caio Júnior, que continua como treinador para a disputa do Campeonato Brasileiro. O futebol praticado pela equipe experimentou certa melhora e jogadores ofensivos cresceram de rendimento, mas ainda assim, as opiniões em torno do novo técnico foram divididas. Apesar do futebol considerado pragmático – o Carvoeiro terminou a primeira fase do Campeonato Catarinense com o pior ataque da competição –, conseguiu classificar-se como vice-líder para o quadrangular semifinal.

No quadrangular, a equipe continuou evoluindo, mas ainda assim, conquistou apenas duas vitórias. Nas outras partida, foram três derrotas e um empate. O ponto alto da equipe foi a vitória por 4 a 0 sobre o Metropolitano, em pleno Estádio do SESI, enquanto a vitória mais impactante foi obviamente aquela que desclassificou o Tigre: 3 a 2 para o Figueirense, na cidade de Criciúma.

E a melancolia não parou por aí. Após o baque da eliminação do Campeonato Catarinense, que a equipe conquistou no último ano, veio a Copa do Brasil, trazendo mais tristeza ao torcedor: a equipe se deparou com o Londrina – talvez a maior zebra de 2014 no sul do Brasil – e foi eliminada de forma sofrida. No primeiro jogo, no Paraná, o Tigre perdeu por 2 a 0, e trouxe a decisão para casa. No Heriberto Hülse, diante de uma torcida que empurrou o time o jogo inteiro, a equipe conseguiu abrir 2 gols de vantagem. Mas aos 47, o Londrina encontrou o gol que causou a segunda eliminação do Criciúma no ano.

Quem comanda: Caio Júnior

Caio Júnior foi escolhido como substituto de Ricardo Drubscky, e o gaúcho chegou com a missão de ‘recriar’ a equipe, promovendo maior ofensividade ao futebol praticado. E durante a ainda breve trajetória de Caio no Criciúma, já se percebeu o estilo do treinador: o futebol ofensivo. Após sua chegada, o crescimento de jogadores ofensivos foi bastante perceptível, sobretudo dos jovens Lucca e Gustavo, que se tornaram peças importantes do esquema tático do jogador.

Após a eliminação de sua equipe no Catarinense, o treinador não tardou a começar os treinos visando o campeonato brasileiro, e revelou preferência pelo 4-3-3, com 5 jogadores no meio-campo e um atacante mais avançado, de forma semelhante ao esquema antigo, da época em que Caio era jogador. Dois volantes protegem a defesa, enquanto um meia central arma o jogo, auxiliado por dois pontas que atacam e ajudam a articular as jogadas.

Caio Júnior foi o escolhido para comandar o esquadrão (Foto: João Lucas Cardoso)

Quem decide: Paulo Baier

Paulo Baier: líder dentro e fora de campo
(Foto: Divulgação/Criciúma EC)

Já são trinta e nove anos de idade. Um jogador considerado velho, principalmente por sua posição de armador, que requer movimentação constante. Para Paulo Baier, nada disso interessa: a idade avançada lhe deu a experiência necessária para alcançar o título de maior artilheiro do Brasileirão na era dos pontos corridos. E o maestro, como era de se esperar, foi titular no começo de ano e destaque de uma equipe que jogou um futebol contestável no estadual.

Paulo já é um velho conhecido do Tigre, onde teve passagens em 97-98 e em 2002-2003. Em Santa Catarina, conquistou um título estadual e uma Série B do Brasileirão, em sua segunda passagem. Aliás, foi em Criciúma que o apelido Paulo Baier surgiu. “Quando eu cheguei ao Criciúma (aos 28 anos) já tinha um Paulo César lá. Começaram a me chamar de Paulo César Baier, que é o meu nome completo. Mas ficou muito longo. Surgiu o Paulo Baier”, comenta.

A volta do veterano foi comemorada pela torcida, pois além da forte identificação com o clube, Paulo Baier chegou após uma excelente temporada no Atlético Paranaense. E correspondeu às expectativas: foi o responsável por gols decisivos, muitas vezes em vitórias magras por 1 a 0, durante todo o Estadual, que levaram o Criciúma até a semifinal do certame.

Uma das partidas mais marcantes do armador aconteceu logo na segunda rodada do campeonato estadual, quando marcou seu gol de estreia na nova passagem: vitória por 1 a 0, sobre o rival Figueirense. Em outra partida, contra o Metropolitano, o nome de Baier ficou novamente em evidência, desta vez de forma negativa: marcou um gol impedido de forma quase surreal, o único gol da vitória contra o Metropolitano, e estampou manchetes de jornais catarinenses, no que foi considerado um escândalo da arbitragem regional.

Quem promete: Lucca

Para o Brasil, uma promessa, para o Criciúma, uma realidade: Lucca Borges de Britto, atacante de 24 anos, é a principal revelação recente da base do Criciúma. Foi contratado junto ao Itumbiara em 2009, e passou a integrar os juniores do Tigre. Subiu para a equipe principal no ano seguinte, mas se destacou apenas em 2012, quando foi um dos líderes da campanha ao acesso à Série A e caiu nas graças da torcida.

O bom desempenho na Série B de 2012 rendeu o interesse de diversos clubes da Série A, e em 2013, o Cruzeiro anunciou a contratação do promissor atacante, cedendo em troca Gilson, Diego Renan, Amaral, Fabinho e Wellington Paulista.

Lucca não teve bom aproveitamento no Cruzeiro e disputou apenas treze partidas pela Raposa, e em janeiro de 2014 sua volta foi anunciada, por empréstimo até o final do ano. No início de sua segunda passagem pela equipe, despontou como um dos principais nomes no ataque da equipe do Sul, num momento em que o futebol da equipe não era dos mais ofensivos.

No Brasileirão, espera-se que consiga repetir as boas atuações pela série B em 2012. Será a chance perfeita de o atleta dar continuidade às boas atuações no Estadual, e mostrar seu talento pela primeira vez na elite do futebol nacional.

O desafio

No ano passado, o Criciúma flertou com o rebaixamento, e em 2014 a missão é a mesma: evitar o descenso. Avaliando dados históricos e o retrospecto recente, é possível afirmar que a equipe amarela de Santa Catarina estabeleceu-se como uma das principais forças do estado, e a manutenção – e mais importante, a estabilidade – devem ser encarados como prioridades máximas do ano do Carvoeiro.

Nas palavras de um dos diretores da equipe, o Criciúma pode se classificar para a Copa Libertadores de 2015. O sonho parece impossível, mas é certo que neste ano, Caio Júnior e seus comandados terão de honrar o pesado investimento feito pela diretoria, e corresponder às expectativas dos dirigentes. Não com uma classificação para a Libertadores, mas sim com uma campanha mais tranquila na parte de baixo da tabela.

A palavra de lei continua sendo a manutenção na Série A. Para garantir a tranquilidade, a diretoria foi atrás de jogadores de peso para reforçar o plantel: Gomes do Tottenham (ENG), e o ídolo Zé Carlos chegaram a ser especulados, mas foram descartados. André Lima chegou a acertar contrato, mas foi dispensado devido a problemas físicos, e foi acertada a contratação do lateral-esquerdo Bruno Cortez, que se destacou vestindo o manto do Botafogo; e o retorno de Paulo Baier e de Lucca.

Avaliação VAVEL

O Criciúma chega ao Brasileirão de 2014 como candidato ao rebaixamento. Entretanto, isso não significa que o Tigre será presa fácil nas mãos dos outros clubes: a equipe chega com um plantel bem montado, com forte investimento, com uma equipe que mescla jovens promessas com líderes experientes, e deve dar trabalho aos grandes. No papel, o time tem qualidade o suficiente para se manter na primeira divisão com tranquilidade; resta saber se Caio Júnior conseguirá guiar seus comandados pelo rumo certo.