Em meados de maio, quando a Série B ainda estava em suas primeiras rodadas, era difícil pensar nesse roteiro que o Avaí escreveu até o fim de 2014. Depois de um Campeonato Catarinense muito abaixo das expectativas e com várias trocas de técnico, o Leão da Ilha começou a Segundona em baixa, chegou a ser o lanterna na 2ª rodada e entrou na parada da Copa do Mundo no meio da tabela.

O fator que mudou o ano avaiano foi o técnico. Geninho assumiu o time durante o Mundial no Brasil e conseguiu fazer com que o time subisse muito rendimento. Em seus primeiros 16 jogos na Série B, o Avaí só perdeu uma vez. Mas após essa sequência que levou o time a liderança, a equipe passou por um péssimo momento, ficando seis jogos sem vencer e chegando as três últimas rodadas com pequenas chances de acesso. Porém, o time reagiu, venceu seus três jogos finais e, como a torcida diz, "fez coisa", alcançando um acesso que parecia ter escapado semanas antes.

Com orçamento apertado, Avaí monta elenco com "pés no chão"

Após um 2013 com muitos problemas financeiros, o Avaí, de presidente novo, começou 2014 sabendo de seus problemas financeiros e não fez loucuras no mercado. O elenco formado tinha várias peças do ano anterior: Marquinhos, Eduardo Costa, Diego, Diego Jardel, Luciano, Betinho, Pablo e Cleber Santana, além do retorno de velhos conhecidos da torcida, como Roberto e Eltinho.

Para a vaga de técnico, a solução foi caseira: o auxiliar do ano anterior e ex-zagueiro do clube, Emerson Nunes, foi o escolhido para iniciar os trabalhos no comando avaiano.

Turbulento e abaixo das expectativas, Avaí faz um Estadual para esquecer

O Campeonato Estadual do Avaí foi um dos piores na história recente do clube. Após seis rodadas, o time somava apenas quatro pontos e o técnico Emerson Nunes já tinha sido demitido. Além disso, o time perdeu os atacantes Betinho, por indisciplina, e Luciano, que acabou negociado com o Corinthians. O único momento que o torcedor pode se orgulhar é da vitória no único clássico do ano: 2 a 1 no Figueirense, na casa do adversário, quando o time foi comandado pelo interino Raul Cabral. A campanha ruim fez o time terminar a primeira fase em 8º lugar, com sete pontos, tendo que disputar o Hexagonal do Rebaixamento, junto com os times que terminaram entre a 5ª e a 10ª posição desta fase.

Após o clássico contra o Figueira, Paulo Turra assumiu o time, mas não por muito tempo. Após quatro derrotas em quatro jogos, duas delas já no Hexagonal do Rebaixamento, Turra também foi dispensado. Para seu lugar, Pingo, que fazia boa campanha com o Brusque, foi contratado. O novo treinador conseguiu organizar minimamente o time, que acabou em segundo lugar no Hexagonal, com 17 pontos em 10 jogos, cinco a frente do primeiro rebaixado à Segundona Estadual.

Avaí começa mal a Série B, demite técnico outra vez e consegue se recuperar, fazendo um papel digno também na Copa do Brasil

O começo de Série B do Avaí não foi promissor. O time só conseguiu duas vitórias nas seis primeiras rodadas, e somava sete pontos. Paralelamente a isso, o Leão conseguiu avançar na Copa do Brasil, eliminando o Naviraiense-MS, em jogo único na casa do adversário por 4 a 1 e, na sequência o ASA-AL, vencendo de virada por 2 a 1, na Ressacada, após a derrota por 3 a 2, em Arapiraca.

Apesar do avanço na Copa do Brasil, a insatisfação e desconfiança da torcida acabaram respingando no treinador Pingo, que foi demitido também.  Antes da parada para a Copa do Mundo, o Avaí, treinador mais uma vez interinamente por Raul Cabral, o Avaí conquistou ainda sete pontos em quatro jogos, conseguindo terminar essa primeira parte da Série B em 10º lugar.

A solução encontrada pela diretoria foi a contratação do experiente Geninho. Com o novo técnico, o Avaí venceu as três primeiras partidas na Série B, incluindo um clássico em Joinville. Apesar da derrotas em casa nesse meio tempo para o Palmeiras na Copa do Brasil por 2 a 0, em casa, o trabalho de Geninho era aclamado.

Depois dessa sequência, o Avaí passou três jogos sem vencer: derrotas para o Luverdense por 2 a 1, pela Série B e para o Palmeiras no jogo de volta pela Copa do Brasil por 1 a 0, que acabou eliminando os catarinenses, além de um empate em 0 a 0 com o Oeste, também pela Segundona.

Após esse pequeno momento de turbulência, o Avaí voltou a vencer na 16ª rodada, fazendo 2 a 0 no América-MG. Essa foi a última partida de Cleber Santana no time, antes do meia se transferir para o Criciúma. Mesmo sem Cleber, o Avaí emendou 12 jogos sem vencer. Nesse meio tempo, alcançou a incrível goleada por 5 a 0 sobre o Vasco, em São Januário, na última rodada do primeiro turno e, três rodadas depois, a vitória na Ressacada sobre o Vila Nova por 2 a 1, que deu a liderança ao Leão. A última vitória da sequência invicta do Avaí foi na 26ª rodada: 2 a 0 sobre o Boa Esporte, na Ressacada, no jogo de homenagens à João Grah, torcedor morto dias antes quando voltava de um jogo no Paraná.

Nesse momento, o Leão ocupava o 2ª colocação, tinha a melhor defesa do campeonato e abria cinco pontos de vantagem para o 5º colocado. Na rodada seguinte, quando tinha a chance de reassumir a liderança, o time acabou derrotado em casa pelo Náutico por 2 a 0, e foi aí que o sonho começou a ficar distante.

Time despenca, mas se recupera a tempo e "faz coisa", conquistando acesso emocionante

Após a derrota para o Náutico, o Avaí viajou à Natal e perdeu para o ABC por 2 a 1, encerrando sua invencibilidade fora de casa, que já durava mais de quatro meses. O time conseguiu um respiro na rodada seguinte, ao bater o Icasa por 1 a 0, mas a fase continuou ruim. Em sequência, o time foi derrotado por Atlético-GO, Ponte Preta, Joinville e Luverdense, mas a gordura criada anteriormente ainda mantinha o time no G-4.

A queda de rendimento de jogadores como o volante Diego Felipe, artilheiro do time na Série B, com nove gols e do lateral-direito Bocão, refletia no desempenho do time dentro de campo.  O Avaí tentou a recuperação na rodada seguinte, a 34ª da Série B, mas não saiu do 0 a o com o Oeste, na Ressacada, e acabou saindo do grupo dos quatro primeiros. Na partida seguinte, derrota para o América, em Minas Gerais, por 3 a 0, que recolocou os mineiros na luta pelo acesso e dificultou mais ainda a vida avaiana. O time catarinense ocupava a 6ª posição do campeonato na época e estava a três pontos do Boa, 4º colocado.

Faltando apenas três rodadas pro fim da competição, o Avaí precisava de três vitórias, ainda que os adversários a frente tropeçassem. As vitórias por 2 a 0 sobre a Portuguesa, na Ressacada e por 1 a 0 sobre o Santa Cruz, em Pernambuco, mantiveram o time vivo, porém na última rodada, ocupando a 6ª posição. O Avaí precisava de tropeços de Boa Esporte e Atlético-GO para voltar à Série A.

Na 38ª e última rodada do campeonato, o Avaí jogou com o Vasco, na Ressacada e venceu por 1 a 0, com gol de Marquinhos. O segundo tempo do jogo foi tenso, porque enquanto o time precisava segurar o resultado em Florianópolis, acompanhava as partidas entre Boa Esporte e Icasa e Atlético-GO e Santa Cruz.

As improváveis derrotas de Boa e Atlético, rivais na briga pelo acesso, por 3 a 2, acabaram dando o acesso ao Leão. O feito foi comemorado com muito choro e festa na Ressacada, onde torcida e time experimentaram o êxtase do retorno à Primeira Divisão, após três anos na Série B, se recuperando do trauma da perda do acesso em 2013, quando o Avaí viu o arquirrival Figueirense se recuperar no final e subir, enquanto os azurras permaneceram mais um ano na Segunda Divisão. No fim, o objetivo foi conquistado, mesmo com um ano de atraso e Leão e Figueira se reencontrarão no Brasileirão 2015.

Melhor jogo: Vasco 0x5 Avaí (19ª rodada)

Apesar do marcante encontro contra o Vasco na última rodada, quando o Avaí conquistou o acesso, a melhor partida do Leão foi no primeiro turno. Mesmo sem Marquinhos, ídolo do time, o Leão atropelou em São Januário e ainda causou a demissão do técnico Adilson Batista no time carioca. Anderson Lopes, Roberto, Diego Jardel e Diego Felipe, duas vezes, marcaram os gols da vitória avaiana, que colocou o time na vice-liderança na época.

Pior jogo: América-MG 3x0 Avaí (35ª rodada)

O último jogo da sequência antes da arrancada final que culminou no acesso, talvez tenha sido o ponto da virada para o Avaí, mas foi um dos piores do time na temporada. Após desperdiçar muitas chances no primeiro tempo, o Leão foi dominado no segundo tempo pelo América-MG e os gols de Adalberto, Obina e Willians causaram a derrota pela maior diferença de gols do Leão na Série B.

Melhores jogadores do ano

Marquinhos: O meia de 33 anos, dos maiores ídolos da história do time, conseguiu o segundo acesso com o Avaí. Camisa 10 e capitão da equipe, Marquinhos participou de 32 jogos na Série B, foi o vice-artilheiro do clube com oito gols e o líder de assistências de toda a competição, com 12 passes para gol.

Vágner: Campeão paulista com o Ituano no começo do ano, o goleiro de 25 anos teve grande importância para a campanha do time. Chegou ao Avaí depois de duas rodadas da Série B e tomou a vaga do experiente Diego, ex-Flamengo, goleiro titular do time no Catarinense. Vágner levou apenas 35 gols em seus 36 jogos na Série B, e contribuiu para que o Avaí tivesse a solidez defensiva que mostrou em vários momentos do campeonato.

Pablo: O zagueiro de 23 anos, em seu segundo ano no clube, superou o afastamento do elenco no começo do ano, para se tornar um dos pilares do time. Atuou em 32 partidas do campeonato, formando uma dupla de zaga muito forte com Antônio Carlos, conseguindo por muito tempo manter o Avaí com a melhor defesa da Série B, até que os dois tiveram problemas de lesão e suspensão. Pablo também ajudou muitas vezes no ataque: marcou quatro gols na Segundona.

Piores jogadores do ano

Heber: vindo do rival Figueirense, Heber, de 23 anos, era uma das esperanças como solução para o ataque do Avaí. Após se recuperar de uma contusão durante o Estadual e marcar quatro gols na competição, acabou decepcionando como a maioria de seus companheiros de posição. Em 14 jogos na Série B, seis deles como titular, não marcou nenhum gol.

Diego Viana: o atacante de 31 anos chegou como contratação de Geninho, logo após a Copa do Mundo. Se machucou em um jogo treino, e só ficou disponível nas rodadas finais. Foi titular contra Portuguesa e Santa Cruz, mas não rendeu, nem fez gol e ficou na reserva no jogo do acesso contra o Vasco.

Bruno Mendes: outro dos atacantes que não funcionaram no Avaí, Bruno chegou já na reta final, por empréstimo, mas não respondeu. O atacante de 20 anos, que se destacou no Guarani e mostrou valor em Botafogo e Atlético-PR, foi titular em apenas três jogos, participando de outros cinco, mas não marcou nenhum gol e perdeu espaço até entre os suplentes usuais na reta final do campeonato.

Com orçamento maior, mas sem loucuras, Avaí vai buscar a montagem de um elenco forte para 2015

Na Série A em 2015, o Avaí terá um orçamento quase 10 vezes maior por causa das cotas de televisão. No entanto, presidente e dirigentes já falaram que terão cautela e que não apostarão em grandes nomes, focando em jogadores que se adequem ao orçamento do clube e contando com a figura de Geninho, que já teve vínculo renovado, para atrair jogadores importantes. Além disso, o time já trabalha na renovação de vários dos jogadores do atual elenco, como já foram os casos de Eltinho e Roberto, que tiveram seu contrato estendido. Marquinhos, Revson e Anderson Lopes já tinham contrato para o próximo ano e o time conversa com jogadores como Vágner, Pablo e Marrone para a extensão do vínculo.

Acesso no fim do ano faz balanço ser positivo no Avaí

Depois de um primeiro semestre muito ruim, o Avaí conseguiu reformular o time e voltou a Primeira Divisão, que não disputava desde 2011. No fim, a temporada foi positiva para o Leão, que alcançou seu objetivo e ainda conseguiu colocar suas finanças em dia, o que pode ser o diferencial para uma boa campanha no Estadual e na Série A em 2015.