Ao final do primeiro semestre de 2013, o torcedor do Corinthians enfim pôde dizer que o time ganhou tudo o que estava ao seu alcance. A jornada que se iniciou na conquista da Série B em 2008 levou o Timão a conquistar o Campeonato Paulista (em 2009 e em 2013), a Copa do Brasil (em 2009), o Campeonato Brasileiro (em 2011), a tão sonhada Libertadores, seguida do Mundial de Clubes (em 2012) e a Recopa Sul-Americana, em cima do rival São Paulo.

Quando o Corinthians conquistou esse título, já havia sido eliminado da Libertadores e estava andando a passos lentos no Brasileirão de 2013. Os meses seguintes, porém, seriam um verdadeiro banho de água fria nos torcedores alvinegros. Com um futebol burocrático e uma campanha cheia de empates, o Coringão ficou apenas no meio da tabela e sequer conseguiu se classificar para a Libertadores. Era hora de mudar. A Era Tite, que levou o clube ao topo do Mundo, chegava ao fim.

Apesar das despedidas bastante harmoniosas, o torcedor estava claramente insatisfeito e queria mais de 2014. Para isso, porém, era preciso começar do zero. Em um ano muito especial, onde o clube realizaria outro sonho, o de inaugurar seu estádio, a Arena Corinthians, palco da abertura da Copa do Mundo, a diretoria apostou em Mano Menezes, que de certa forma iniciou, entre 2008 e 2010, o projeto executado por Tite dali em diante.

Foi um ano complicado, que não agradou totalmente os torcedores. Um ano de altos e baixos, que pela primeira vez desde 2010 terminou sem ao menos um título. O torcedor, claro, ficou com gosto de quero mais. Para a diretoria, porém, a meta foi alcançada. Alcançada, mas não suficientemente alcançada a ponto de garantir a permanência de Mano Menezes. Ele sai e o Corinthians, embora não precise se reformular outra vez, renova mais uma vez suas esperanças para voltar a conquistar todos os títulos que sejam possíveis novamente com Tite.

Pré-temporada: confiança e expectativa

O torcedor mais realista do Corinthians sabia que 2014 seria um ano complicado. O time, que já havia perdido Paulinho, nome fundamental no 2012 vencedor, no meio da temporada anterior, precisaria se reformular para iniciar um novo projeto. A aposta em Alexandre Pato como grande nome de 2013 se mostrou o maior erro cometido pelo clube em tempos recentes. Para repará-lo ou ao menos diminuí-lo, a diretoria conseguiu uma troca com o rival São Paulo: foi Pato, veio Jadson.

Como já se ventilava durante o segundo semestre de 2013, o Timão confiou a Mano Menezes esse processo de reformulação. O treinador já havia começado um trabalho do zero em 2008 e, embora viesse de trabalhos ruins na Seleção Brasileira e no Flamengo, ainda estava entre os principais do Brasil. Muito longe de estar nadando em dinheiro, o Corinthians economizou nos reforços e não trouxe nenhum nome de peso. Vieram o lateral-direito Fagner, que estava na Alemanha, o meia Bruno Henrique, da Portuguesa e o atacante Luciano, do Avaí. A grande aposta, na verdade, era na saída de jogadores que estariam rachando o grupo. Quando a bola começou a rolar, viu-se que as coisas não eram tão simples assim.

Fracasso no Estadual e férias forçadas

Campeão de 2013, o Corinthians ficou responsável pelo jogo de abertura do Campeonato Paulista contra a Portuguesa, que havia sido campeã da Série A-2. Um Canindé lotado de corinthianos dava o tom da expectativa da torcida. O regulamento do torneio era um pouco diferente: os times eram divididos em grupos de cinco clubes e jogavam contra todos os das outras chaves, não havendo confronto direto. Como dois passavam por chave e o Timão estava ao lado de Ituano, Botafogo, XV de Piracicaba e Osasco Audax, ficar de fora não estava nos planos.

A temporada começou de maneira promissora. Jogando bem, o Timão venceu a Lusa por 2 a 1 e, na sequência, arrancou uma vitória magra sobre o Paulista em Americana. Dali em diante começaria o calvário. Na terceira rodada, no Pacaembu - o jogo deveria ser a abertura da Arena, mas um acidente em janeiro adiou a inauguração -, Mano Menezes testou alguns nomes de 2013 como o volante Ibson e o resultado foi péssimo: jogando mal, o Corinthians perdeu em casa para o São Bernardo por 1 a 0. O pessimismo repentino virou crise quatro dias depois, quando os alvinegros foram goleados pelo rival Santos, na Vila Belmiro: um 5 a 1 que abalou as estruturas.

A situação começou a ficar tensa. Torcedores invadiram o CT, protestaram e o clima ficou insustentável para jogadores como  o zagueiro Paulo André, que foi acusado de estar mais preocupado com o Bom Senso FC - movimento de jogadores por melhorias no futebol - que com o clube. A coisa piorou nas duas rodadas seguintes com mais duas derrotas, para Ponte Preta (2 a 1 fora) e Bragantino (2 a 0 em casa). O Timão ainda sofreu para empatar com o Mogi Mirim e deixou uma vitória em um clássico contra o Palmeiras escapar no finzinho antes de virar para cima do Oeste e vencer após seis rodadas.

O triunfo sobre o Oeste parece ter despertado o Corinthians, que na sequência embalou ao vencer - jogando bem - Rio Claro e Comercial no Pacaembu e Linense fora. O time que havia iniciado o jogo contra o rubro-negro de Itápolis, com nove pontos, saltou para 21 em quatro rodadas e voltou a ter chances de classificação em um grupo muito disputado, disparado o que reunia clubes com maior pontuação. Para encaminhar sua classificação, era preciso vencer o São Paulo, no Pacaembu. E foi justamente ali que a boa fase acabou. A derrota por 3 a 2 complicou o time e reacendeu a dúvida na cabeça dos torcedores. Seria o Corinthians incapaz de jogar com os grandes?

Antes de resolver isso, era preciso tentar evitar um vexame no Paulistão. Para avançar às quartas de final, o Corinthians precisava vencer seus dois últimos jogos e torcer por um tropeço do Ituano. Jogando fora de casa com o Penapolense, o Timão teve péssima atuação, não saiu do zero a zero e, com a derrota do São Paulo para a equipe de Itu, foi eliminado na primeira fase. Era o início de uma férias forçadas. Dali até a estreia pelo Brasileirão seriam quatro semanas.

No meio do caminho, uma vitória por 3 a 0 sobre o Atlético Sorocaba, no encerramento do Paulistão, e um triunfo por 2 a 0 sobre o Feira de Santana, pela primeira fase da Copa do Brasil. No decorrer do primeiro semestre, o Timão venceria o Nacional do Amazonas (3 a 0) e o Bahia (3 a 0 na ida e derrota por 1 a 0 na volta), avançando assim para as oitavas de final do torneio, que seria disputada no segundo semestre, com a entrada dos times que disputaram a Libertadores.

No Brasileirão, entre tropeços e grandes vitórias, Corinthians briga apenas por vaga na Libertadores

Quando o Brasileirão começou, o Corinthians não podia mais ser colocado entre os grandes favoritos. A campanha do time, na verdade, era uma grande incógnita. De fato, a equipe estava evoluindo, mas os resultados ruins nos clássicos (um empate e duas derrotas) eram motivo suficiente para deixar a Fiel torcida preocupada. A equipe, porém, começou bem: empatou em Minas com o Atlético, venceu o Flamengo na despedida do Pacaembu enquanto mandante e a Chapecoense, mas fora de casa, assumindo assim a liderança do torneio com sete pontos em três jogos.

Os dois jogos seguintes prometiam ser fundamentais: um era um clássico contra o São Paulo. O outro, a inauguração de sua sonhada Arena contra o Figueirense. No primeiro, o Timão saiu na frente, mas recuou e levou o empate. No segundo, a grande decepção. Jogando muito mal, viu Giovanni Augusto balançar pela primeira vez as redes da casa nova e perdeu por 1 a 0. A crise voltou com um empate cedido no fim, também em casa, mas no Canindé, para o Atlético-PR.

Na sequência, porém, o clube voltou a se recuperar: goleou o Sport por 4 a 1 um Pernambuco e despachou o líder e atual campeão Cruzeiro, também no Canindé, por 1 a 0. A última rodada antes da pausa para a Copa poderia dar a liderança à equipe. Jogando na Arena em uma inversão de mando  contra o frágil Botafogo, o Corinthians voltou a ceder o empate no fim e encerrou essa etapa inicial com 16 pontos em nove jogos, cinco a menos que o líder Cruzeiro.

Quando o campeonato voltou, a campanha alvinegra ficou, digamos, incompreensível. Parecia que vencer os jogos difíceis era fácil e que ganhar dos times de menor expressão era impossível . A sequência final do primeiro turno teve: vitória sobre Internacional, Palmeiras e Santos, além de empate com Vitória, Coritiba e Bahia e, em uma sequência mais "normal" de resultados, triunfo sobre o Goiás, derrota para o Grêmio e empates com Fluminense e Criciúma. Já distante da briga pelo título, o alvinegro encerrou o primeiro turno com 33 pontos, na 4ª posição, classificando-se assim para a Libertadores.

O segundo turno começou com a mesma irregularidade do primeiro: após vencer o Atlético-MG, perder para o Flamengo e tropeçar em casa contra a Chapecoense em empate em 1 a 1, o Timão chegou a voltar a sonhar com o título ao vencer o rival São Paulo por 3 a 2. Mas tudo foi por água abaixo nas duas rodadas seguintes, com duas derrotas fora de casa para Figueirense e Atlético-PR, que tiraram o time do G-4. A briga seria mesmo por uma vaga na Libertadores. O Corinthians ainda venceu o Sport, em casa, antes daquela que prometia ser a sequência mais difícil do torneio: os três jogos fora de casa. Contra o líder absoluto, o Cruzeiro, uma vitória espetacular por 1 a 0. Contra o Botafogo, que já habitava a zona de rebaixamento, uma incompreensível derrota pelo mesmo placar. Era chegada a hora do divisor se águas.

A tragédia e a redenção em cinco dias

Além do Campeonato Brasileiro, o Corinthians tinha outra chance de ir à Libertadores: a Copa do Brasil. Nas oitavas de final, o time havia sofrido, mas passado pelo Bragantino - derrota por 1 a 0 fora e vitória por 3 a 1 em casa. Nas quartas, o adversário foi o Atlético-MG e a classificação ficou relativamente encaminhada com uma vitória por 2 a 0 na Arena Corinthians. Se marcasse um gol no Mineirão, poderia até perder por dois gols de diferença.

E de fato marcou. Logo no início, Guerrero balançou as redes e praticamente colocou o Timão na semifinal. Mal sabiam os torcedores que era o início do maior desastre do time na temporada. Com uma atuação terrível, o alvinegro foi muito mal, sofreu quatro gols e acabou eliminado com um vexame histórico. É claro que houve uma boa dose de heroísmo do Galo, mas a atuação apagada do grupo corintiano colaborou e muito.

No domingo seguinte, porém, viria a redenção. Pode não ter sido o melhor jogo da equipe no ano, mas foi a atuação mais consistente, mais equilibrada, ou, em outras palavras, a mais importante para mostrar que o time estava ciente do objetivo de ir à Libertadores. Jogando um grande futebol, o Corinthians venceu o Internacional por 2 a 1 no Beira-Rio e conseguiu se recuperar. Estava vivo na briga pela Libertadores.

Vaga conquistada com gosto amargo no fim

Na sequência, resultados ruins. Depois de vencer o Vitória, o Timão empatou com Palmeiras e Coritiba, esse último em casa. Dois times que lutavam contra o rebaixamento. A situação melhorou na sequência e as vitórias sobre Santos, Bahia e Goiás deixaram o time em um cenário mais confortável. Os três últimos jogos reservavam dois confrontos diretos, mas os tropeços do Fluminense, que tiraram o Tricolor Carioca da briga, fizeram com que a vitória suada sobre o Grêmio, na Arena, fosse suficiente para garantir a vaga.

A confirmação matemática veio só na rodada seguinte, a penúltima, horas depois do Timão sofrer uma goleada para o Flu no Rio de Janeiro. O 5 a 2 foi lamentado, mas, graças à vitória do Bahia sobre o Grêmio, não atrapalhou. Quer dizer, mais ou menos. Na última rodada, o clube ainda brigaria com o Internacional por uma vaga direta na Libertadores.

A derrota no Rio fez com que os paulistas dependessem de um tropeço do Inter contra o Figueirense para evitar a temida primeira fase, onde caiu para o Tolima em 2011. Estava tudo dando certo quando a equipe vencia o Criciúma por 2 a 1 e o Inter empatava em Santa Catarina. No último lance, contudo, o Colorado marcou e retomou a terceira posição, obrigando o Corinthians a iniciar a jornada rumo ao bi na primeira fase, novamente contra um colombiano, porém diante do Once Caldas.

Os destaques e as decepções

Apesar do primeiro semestre ruim, Paolo Guerrero é, obviamente, o grande nome do Corinthians em 2014. O ídolo peruano fez um Brasileirão espetacular, foi o artilheiro do time e decisivo em inúmeras partidas. Sem seus gols, certamente seria impossível alcançar a desejada vaga na Libertadores. No ataque, Malcom também se destacou. O garoto de 17 anos surgiu como revelação. Marcou seus gols e se revelou uma promessa para o futuro. Na reta final da temporada, quem voltou a brilhar foi Renato Augusto, que parece recuperado das lesões e também promete acrescentar muito ao elenco em 2015.

No campo das decepções, é impossível não citar o volante Elias. Contratado no meio da temporada como grande reforço, começou muito bem, mas depois caiu muito de produção. Ele ainda colecionou alguns desentendimentos com a torcida e terminou o ano no banco de reservas titularidade. Quem também começou com tudo e decepcionou foi o paraguaio Ángel Romero. O jogador, que se mostrava veloz e habilidoso, logo irritou a torcida e não conseguiu mais desempenhar um bom futebol. Por fim, as contratações para solucionar o problema nas laterais, como as de Fagner, Uendel e Ferrugem, também não funcionaram.

Diretoria nova e técnico velho para 2015 de incertezas

Mano Menezes, apesar de cumprir a meta de levar o time à Libertadores, não fica para 2015. O casamento de sucesso com Tite será retomado de maneira semelhante ao da passagem anterior: continuar o processo de reformulação iniciado por Mano. O torcedor volta assim a se encher de esperanças, mas também fica preocupado. O clube tem eleições marcadas para fevereiro e a ausência de uma definição no projeto que comandará o clube nos próximos três anos complica um pouco as negociações para a vinda de reforços.

Até o momento, vieram o volante Christian, que havia atuado pelo clube entre 2008 e 2009 e o atacante colombiano Mendoza, que vem da Índia. Além disso, tem a volta de Emerson Sheik, que estava emprestado ao Botafogo. O clube não vive o melhor momento em termos financeiros e ainda terá que encarar duas decisões nos quatro primeiros jogos da temporada: entre o Marília e o Palmeiras pelo Paulistão, tem o Once Caldas pela primeira fase da Libertadores nos dias 4 e 11 de fevereiro.

A temporada estará em jogo e, mesmo se passar, o Timão não terá sossego, já que enfrentará um grupo com o São Paulo, o atual campeão San Lorenzo e o Danubio-URU. Nesse cenário, qualquer palpite é arriscado e as incertezas continuam pairando sobre o Parque São Jorge.

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