Um ano de altos e baixos, assim pode ser definido o 2014 do Flamengo. Pode-se dizer também, que houveram mais baixos do que altos, mas, no fim, o saldo acabou sendo positivo e o rubro-negro terminou a temporada atual com um bom rendimento e, acima de tudo, com boas perspectivas para o futuro. Com a política da nova diretoria de pagar as dívidas e não fazer loucuras em relação à contratações, nenhum nome considerado de peso chegou ao Flamengo, mas algumas apostas acabaram rendendo até mais que o esperado e novas boas opções acabaram aparecendo.

Foi um ano de mais um fracasso na Copa Libertadores, assim como mais um título carioca, mas a superioridade no Rio de Janeiro não é o bastante para um time grande como o Flamengo. O flerte com o rebaixamento no Campeonato Brasileiro se tornou um longo namoro e só não virou um casamento porque Vanderlei Luxemburgo chegou para tirar o time da lanterna.

O adeus de Elias e contratações modestas no início do ano

No começo de 2014, o Flamengo chegou a sonhar com nomes de peso para a temporada, chegou a se falar em Diego, Robinho, Felipe Melo, Julio Cesar, mas com o alto custo das negociações, nenhum destes acabou desembarcando na Gávea. Com investimentos mais modestos, o rubro-negro até conseguiu fazer bons negócios, como por exemplo a contratação do meia Éverton, destaque do Atlético-PR em 2013. Também do Furacão, chegou o lateral Léo, que pertencia ao Vitória e também se destacou no ano passado.

A negociação mais falada no Flamengo no início do ano, acabou não tendo um final feliz para o time carioca. O meia Elias, que foi fundamental em 2013, acabou voltando ao Sporting após o fim do período de empréstimo e, apesar do esforço que a diretoria rubro-negra fez para tentar repatria-lo, o clube português fez jogo duro e acabou não vendendo o jogador.

Nomes como Alecsandro e Elano chegaram para dar experiência à equipe, que teria uma Libertadores para disputar. O zagueiro Erazo chegou com pinta de xerife e foi apresentado ao lado do volante Feijão, jogador que veio do Bahia na troca com Rafinha. Carente de um camisa 10 desde a saída de Ronaldinho Gaúcho, o Flamengo contratou o jovem Lucas Mugni e depositou nele a responsabilidade de herdar o número usado pelo ídolo Zico.

Superioridade no Carioca e fracasso na Libertadores

O Flamengo começou o Campeonato Carioca jogando com o time reserva, mas mesmo assim foi conseguindo ter um bom desempenho nas primeiras rodadas. A Taça Guanabara passou e o rubro-negro acabou tendo a melhor campanha, somando 38 pontos em 15 jogos e sofrendo apenas uma derrota, liderando a tabela em dez rodadas. Se Hernane já não resolvia como em 2013, Alecsandro foi ganhando espaço e marcando gols importantes na campanha do estadual.

Na semifinal, o Flamengo passou com facilidade pela Cabofriense, com duas vitórias (3 a 1 e 3 a 0) e conseguiu avançar à final do Carioca. Na decisão, dois clássicos bastante equilibrados contra o Vasco e ambos terminaram empatados em 1 a 1. Porém, o gol de Márcio Araújo nos acréscimos do segundo jogo garantiu ao rubro-negro o título estadual, já que a equipe tinha a vantagem por ter tido a melhor campanha na Taça Guanabara.

Na Libertadores, o Flamengo ficou no grupo 7 e os adversários foram Bolívar-BOL, Emelec-EQU e León-MÉX. Uma derrota logo na estreia para os mexicanos fora de casa e depois dois tropeços contra os bolivianos (sendo um empate e uma derrota) minaram as chances de classificação do time carioca. Contra os equatorianos, foram duas vitórias, mas na última rodada o León foi ao Maracanã, fez 3 a 2 e eliminou de vez o Flamengo da competição. Assim, o Flamengo segue com eliminações e campanhas ruins em sua história recente no torneio.

Jayme sai, Ney chega e o Flamengo só piora

O Flamengo começou o Campeonato Brasileiro vivendo um mau momento e sem conseguir engrenar uma sequencia de bons resultados. Pelo contrário, nas quatro primeiras rodadas o time só venceu o Palmeiras com um 4 a 2 de virada e a diretoria viu que era hora de mudar o comando técnico da equipe. Após a derrota no clássico para o Fluminense por 2 a 0, Jayme de Almeida foi mandado embora e o diretor de futebol Paulo Pelaipe também deixou o rubro-negro. Parte da diretoria chegou a ser contra a demissão de Jayme, mas a situação estava insustentável e a pressão da torcida contribuiu para que as mudanças fossem feitas.

Agindo rapidamente, o Flamengo anunciou Ney Franco como novo treinador e pouco depois trouxe Felipe Ximenes para ser o novo diretor executivo, ambos vindo do Vitória. O técnico teve um mês para trabalhar durante a pausa no campeonato para a Copa do Mundo, mas mesmo assim os resultados ruins persistiram, a zona de rebaixamento foi se tornando realidade e o rubro-negro estava cada vez mais afundado, correndo o risco de cair para a série B pela primeira vez na história. A derrota para o Internacional por 4 a 0 foi a gota d’agua e assim Ney Franco acabou sendo demitido sem vencer nenhuma partida em sua segunda passagem pelo Flamengo. Foram sete jogos, com quatro derrotas e três empates.

Luxemburgo chega para tirar o time da confusão

A última cartada da diretoria do Flamengo para evitar o rebaixamento foi a contratação de Vanderlei Luxemburgo. Experiente e torcedor declarado do clube, Luxa era mesmo a opção ideal para reabilitar o time. Logo na estreia, uma vitória importante no clássico contra o Botafogo por 1 a 0. Conhecedor da realidade do clube, Luxemburgo não prometeu ao torcedor um futebol bonito, mas sim um futebol de resultado, com a equipe jogando dentro das suas limitações, e assim o Flamengo foi se reerguendo. Eduardo da Silva, atacante contratado logo após a Copa do Mundo, foi peça importante nesse processo, com gols decisivos, principalmente em jogos no Maracanã. No gol, outra mudança significativa: o sempre questionado Felipe deu lugar a Paulo Victor e o novo titular foi tendo grandes atuações até fim da temporada.

Sofrendo muito com a falta de um jogador criativo no meio-campo desde a saída de Elias, o Flamengo conseguiu contratar Hector Canteros, ex-Velez Sarsfield. O jogador, inclusive, já havia enfrentado o Brasil jogando pela seleção argentina e chegou à Gávea com status de grande contratação. Sua estreia aconteceu justamente no mesmo dia em que Luxa estreou no comando da equipe, jogando poucos minutos contra o Botafogo, mas o argentino logo se tornou peça fundamental no time, marcando muito no meio-campo e dando qualidade nas chegadas ao ataque.

Com a chegada de Vanderlei Luxemburgo, muitos jogadores que vinham sendo titulares acabaram perdendo espaço. Como dito acima, o goleiro Felipe sequer voltou a ser relacionado e virou a quarta opção do elenco. O zagueiro Erazo, que cometeu muitas falhas quando atuou, também foi deixado de lado, assim como o atacante Negueba. Outros como Amaral, Luiz Antônio, Recife e Chicão ficaram no banco de reservas.

Na Copa do Brasil, o Flamengo entrou já na fase de oitavas de finais e logo de cara teve um confronto muito difícil contra o Coritiba. Priorizando o Brasileirão, Luxemburgo mandou um time reserva para o jogo no Couto Pereira e o resultado foi um 3 a 0 a favor do Coxa. No jogo de volta, a torcida rubro-negra e os jogadores acreditaram que reverter o placar era possível e o Flamengo conseguiu repetir os 3 a 0, levou a decisão para os pênaltis e conseguiu a classificação graças ao goleiro Paulo Victor, que defendeu duas cobranças. Na sequencia da competição, o adversário foi o América-RN. O time potiguar conseguiu dificultar a vida do Flamengo, mas duas vitórias por 1 a 0 garantiram os cariocas nas semifinais.

Queda na Copa do Brasil e reta final de Brasileirão tranquila

Pelo segundo ano consecutivo, o Flamengo chegou nas semifinais da Copa do Brasil. Mas o sonho do bicampeonato acabou sendo interrompido pelo Atlético-MG. No jogo de ida, o rubro-negro teve grande atuação, fez 2 a 0 jogando no Maracanã e encaminhou a vaga na final. Porém, na partida disputada no Independência, o Galo conseguiu uma façanha espetacular, venceu por 4 a 1 mesmo depois de sair atrás no placar e eliminou o time carioca da competição.

Com a eliminação na Copa do Brasil, o Flamengo teve apenas a missão de conseguir os pontos que lhe faltavam para se livrar matematicamente do rebaixamento no Brasileirão. Um 3 a 0 na Chapecoense fez com que Vanderlei Luxemburgo afirmasse que o rubro-negro estava fora da confusão, como ele mesmo definiu as últimas posições. Daí em diante foram só jogos para cumprir tabela e também para alguns jogadores ganharem de vez um lugar no elenco em 2015. Um destes foi o lateral Anderson Pico, que chegou ao clube após pedir uma chance para Luxa, emagreceu quase 20 quilos e terminou o ano como titular na lateral-esquerda.

Melhor jogo: Flamengo 3 x 0 Cruzeiro

Foi daquelas vitórias para lavar a alma do time. Mesmo com o Cruzeiro sem Everton Ribeiro e Ricardo Goulart (estavam na Seleção), o Flamengo fez uma partida bastante sólida, aproveitou os erros defensivos do time mineiro, usou o contra-ataque de forma cirúrgica e assim conseguiu vencer. O zagueiro Dedé marcou um gol contra e Gabriel e Canteros fizeram os outros tentos do time carioca. Nesta altura do campeonato, o rubro-negro chegou ao 10º lugar.

Pior jogo: Internacional 4 x 0 Flamengo

A pior partida do Flamengo no ano foi, logicamente, quando o time estava em seu pior momento: sob o comando de Ney Franco. O Internacional massacrou o time carioca, fez quatro gols em 18 finalizações e a goleada foi construída com muita facilidade. O rubro-negro teve Chicão expulso, mas isso não foi justificativa para a derrota, já que o time deu apenas dois chutes a gol em todo o jogo. Rafael Moura, D’Alessandro, Fabricio e Alex marcaram balançaram as redes e deixaram o Flamengo afundado na lanterna.

Os melhores de 2014

Paulo Victor: Dentro de campo, talvez o goleiro tenha sido o principal responsável pela arrancada do Flamengo para fugir do rebaixamento. Aos 27 anos, Paulo Victor enfim conseguiu a sonhada titularidade, deixou a insegurança e as falhas no passado e protagonizou grandes defesas na meta rubro-negra no segundo semestre. Durante o mau momento do time, chegou a se falar na contratação de Julio Cesar, ídolo rubro-negro, mas Vanderlei Luxemburgo tirou Paulo Victor da reserva e o tornou um dos grandes pilares da equipe.

Éverton: Foi o principal jogador do Flamengo no ano. Com Éverton em campo, o time ganha em velocidade e qualidade e o meia fez muitos gols importantes na temporada, além das arrancadas que o caracterizam. Depois de uma primeira passagem apagada pelo clube, o jogador voltou mais maduro e conseguiu fazer um grande 2014.

Canteros: Chegou ao Flamengo com status de grande contratação e logo virou titular. O argentino rapidamente se adaptou ao futebol brasileiro e foi o ponto de qualidade e criatividade que faltou ao Flamengo na primeira metade do ano. Com Canteros, o rubro-negro ganhou um jogador com ótimo passe e que sabe marcar de forma efetiva.

Os piores de 2014

Erazo: Conviveu com falhas desde a sua primeira partida no Flamengo. Pra piorar, fez péssima partida no clássico contra o Fluminense, quando falhou em todos os três gols sofridos pelo rubro-negro. Por incrível que pareça, Erazo fez boa Copa do Mundo pela seleção equatoriana, chegando a se sair bem em um confronto direto com Karim Benzema. Depois do Mundial, só jogou pelo Flamengo na última rodada do Brasileirão, foi capitão, mas o jogo não valia nada.

Luiz Antônio: Depois de um 2013 de encher os olhos, quando se especulou até que Luiz Antônio iria ser negociado para a Europa, o volante viveu um 2014 para se esquecer. Logo no começo do ano, se envolveu em uma disputa judicial com o Flamengo e acabou sendo afastado. Pouco tempo depois, teve seu nome ligado à milícia do Rio de Janeiro e ainda por cima sofreu com algumas lesões. Perdeu espaço, virou reserva e quando teve oportunidades não foi bem.

Arthur: Chegou do Londrina após ter sido artilheiro do Campeonato Paranaense, mas no Flamengo não conseguiu repetir as boas atuações que teve no início do ano. Ganhou até boas oportunidades com Vanderlei Luxemburgo, fez ao todo 12 partidas, mas sempre se mostrou inseguro em campo, errando lances bobos e não conseguiu marcar um gol sequer com a camisa rubro-negra.

Pensando em 2015

Depois de um 2014 com dificuldades, as expectativas para o Flamengo em 2015 são melhores. A chegada de Rodrigo Caetano para ser o diretor de futebol ajudará muito o treinador Vanderlei Luxemburgo na tarefa de montar o elenco para o ano que vem, contratando jogadores que se encaixem no orçamento proposto pela diretoria desde o início da gestão. Já sabe-se que R$ 30 milhões serão investidos no futebol, sendo que a maior parte deste montante deverá ser para pagar os salários das novas contratações que devem chegar por empréstimos.

Jovens promessas como Adryan, Rafinha, Thomas e Rodolfo retornarão ao elenco e a expectativa é de que Vanderlei Luxemburgo use estes jogadores durante o Campeonato Carioca. Quem se destacar, deverá seguir no grupo para o restante da temporada. Os demais devem ser emprestados, como pode acontecer com Mattheus, filho de Bebeto, que recebeu muitas críticas da torcida durante este ano. 2015 também pode ser o ano de afirmação de jogadores com Nixon e Gabriel, que terminaram o ano tendo um bom rendimento e certamente terão mais espaço na próxima temporada.

Análise final

A torcida rubro-negra sofreu na maior parte do ano, seja com a eliminação precoce na Copa Libertadores ou com a briga direta contra o rebaixamento durante a maior parte do Campeonato Brasileiro. A chegada de Vanderlei Luxemburgo foi a salvação para o Flamengo, mas pode-se dizer que a diretoria perdeu bastante tempo para reerguer o time quando contratou Ney Franco e deu a ele a missão ingrata de tirar o time da situação ruim, um erro que não poderia ter acontecido. Para que a temporada de 2015 seja diferente, o rubro-negro precisa qualificar o elenco, que já tem uma base boa, mas precisa urgentemente de peças de reposição.