Em entrevista concedida ao programa Bola da Vez, da ESPN Brasil, o ex-assessor de imprensa da CBF, Rodrigo Paiva, falou sobre os bastidores da instituição que comanda o futebol brasileiro. Assuntos delicados, especialmente os que envolviam a Copa do Mundo de 2014, estiveram na pauta. Um deles foi uma conversa de Luiz Felipe Scolari, técnico da Seleção àquela época, com um grupo de jornalistas, fato que ganhou muita repercussão durante o Mundial.

Após o Brasil despachar o Chile na fase de oitavas de final, Felipão teve conversa particular com seis jornalistas: Juca Kfouri, Paulo Vinícius Coelho, Luiz Antonio Prósperi, Carlos Eduardo Mansur, Fernando Fernandes e Osvaldo Pascoal. O treinador teria reclamado da postura da imprensa, e até mesmo teria pedido conselho aos profissionais os quais julgava ser "de confiança". A Canarinho conquistara a vaga nas quartas de final em jogo dramático, o qual terminou numa disputa de pênaltis que consagrou o goleiro Júlio César.

"Ao longo de todos os amistosos de preparação para a Copa, o Felipão sempre foi assim de conversar com jornalistas. Isso ele já fazia desde a Copa de 2002", disse Paiva, que foi demitido da CBF logo após a Copa no Brasil. O jornalista prestou serviços à Confederação Brasileira de Futebol por 13 anos.

Rodrigo Paiva negou ter organizado tal reunião e disse que Felipão não o consultou para a realização do encontro com os seis jornalistas. De acordo com o ex-diretor de comunicação da CBF, a ideia de um contato sigiloso com a "mídia amiga" veio do próprio técnico, que em outras oportunidades já havia tentado colocar a sugestão em prática.

"Felipão tentou conversar diretamente com os jornalistas e todo mundo foi em cima dele. Uns 200, 300 repórteres e cinegrafistas. Se ele tivesse falado comigo eu poderia ter ajudado a organizar. Seria algo saudável, um contato direto. Ele tentou duas vezes e não conseguiu. Daí ele resolveu em um terceiro caminho, conversando com jornalistas de sua confiança", revelou.

"Não fui consultado. Mas se fosse consultado iria entender, mas diria que aquilo ali provavelmente, desculpe a palavra, mas daria m...", afirmou.

Paiva lembrou que Felipão já tinha esse costume de conversar com uma determinada parte de jornalistas. "Ele não estava 'pedindo penico'. Só foi tentar repetir aquilo que sempre fez durante toda a carreira dele. A gente sabe que, em uma cobertura de Copa do Mundo, a primeira semana é uma maravilha para todo mundo. Porém, depois de 40 dias, sem família, comendo mal, dormindo pouco, qualquer faísca é motivo de um confronto, de uma revolta", explicou Rodrigo.

"Neste momento, você tem que estar mais atento do que nunca para não criar arestas, possibilidades de problemas. Ousar naquele momento era inviável. Mas foi uma coisa pura, que saiu do coração dele, sem maldade nenhuma", completou.

Rodrigo também comentou a confusão decorrida no caminho para os vestiários, no intervalo da partida entre Brasil e Chile. Acusado de agredir o atacante chileno Mauricio Pinilla, o jornalista foi suspenso pela Fifa por um jogo.

"Olha só, eu errei. Mas não foi nada como saiu nas mídias, queriam me banir por algo que ninguém viu. Eu não agredi, meu erro foi ter revidado", contou.

"Estávamos descendo para o vestiário e ouvi uma gritaria depois da escada. Um cabeludo do Chile estava discutindo com todo mundo, inclusive com o massagista. Eu estava indo com o Parreira para entrevista, quando ele me disse que me esperaria para ver o que estava acontecendo. Tinha umas 20 pessoas discutindo e só estava aumentando. Aí começou um 'empurra-empurra', o cara me deu um empurrão e fiz um movimento com o braço. Foi isso, eu reagi ao empurrão, o árbitro me viu na hora e disse para ficar no vestiário, supenso", relatou.

Perguntado sobre a corrupção na CBF, Paiva disse não saber de nada. No entanto, revelou ter visto exemplos de ausência de valores na entidade. "Vi coisa feia do ser humano, de destruir, de mentir, de corromper moralmente. Ausência de valores que não quero pra mim. Coisa ruim, coisa que você fala 'Eu não quer isso pra mim, eu sou diferente'. Nunca participei de esquema e de coisa nenhuma", garantiu.

"Eu passei a vida consertando, reduzindo e subdimensionando os erros das pessoas", desabafou Rodrigo.

Rodrigo Paiva também relembrou sua trajetória como assessor de imprensa. Trabalhou no Flamengo, clube de maior torcida no Brasil, e ainda foi assessor de Romário e Ronaldo, dois dos maiores craques da história do futebol brasileiro. "Em 24 anos de futebol, nunca tive meu nome associado a coisa negativa, e eu tenho muito respeito das pessoas. Esse é o maior prêmio de todos. Trabalhei no que é mais difícil no futebol: 10 anos no Flamengo, cinco anos com Romário no auge da carreira, seis anos com Ronaldo no auge da carreira, 13 anos na CBF e Copa do Mundo de 2014", finalizou.