21 de Agosto de 2015. Há exatos 117 anos, o Club de Regatas Vasco da Gama era fundado. Mal sabiam aqueles que se reuniram no longínquo 1898, o que representaria aquele simbólico gesto de assinatura de ata.

Você já se imaginou sem o Vasco? Tente. Pense na sua vida, nas suas amizades, na sua família, no seu trabalho, sem que você fosse vascaíno. Tentou? Conseguiu? Difícil. O Vasco está atrelado a nossa vida como um dos membros mais próximos da sua família. Falar do Vasco para um vascaíno é falar de um bem que ele carrega consigo com zelo maior do que todas as outras coisas valiosas que ele possa ter.

Nesse aniversário, o primeiro no qual a Guerreiros da Colina comemora como um grupo formado, decidimos parabenizar o Vasco de uma forma diferente. Normalmente contaríamos a história do Vasco em terceira pessoa, falando da sua criação, passando pelas principais conquistas e chegando aos dias atuais. Mas vamos mudar esse discurso. Quer forma melhor de contar a história do Vasco do que contando a história dos vascaínos? Afinal, somos nós que damos vida à esse Gigante.

Para começar, me apresento. Eu sou Victor Costa, 21 anos, piauiense, estudante de jornalismo e editor-chefe da Guerreiros da Colina. O que eu vou relatar para vocês é a história do Vasco sob a perspectiva dos membros da GDC. Como o Club de Regatas Vasco da Gama influenciou na nossa vida desde que nascemos até esse 21 de Agosto.

Começando pelo início, como faria Paulo Coelho, todo vascaíno já deve nascer predestinado a ser Vasco. Talvez só isso possa explicar tamanha fervorosidade do nosso torcedor quando se trata do nosso time. Dentro da Guerreiros as histórias são das mais variadas, mas provam a minha tese.

Yuri Resende, diretor-geral da Guerreiros, vibra a cada vitória e chora (chora muito) a cada derrota do Vasco. Apesar disso, só começou a torcer pelo Vasco aos treze anos. Antes disso, detestava futebol: “Meu padrinho, que é flamenguista, passou a me levar em alguns jogos das categorias de base e me interessei pelo esporte. Contudo, escolhi ser Vasco por sentir algo completamente diferente quando assistia aos jogos do time com a camisa da faixa em diagonal.”

Tem também aqueles que se livraram do lado negro da força e se juntaram a força do bem, não é Pedro Bruno!? Com uma família dividida entre tricolores e rubro-negros, nosso colunista viu no Vasco uma maneira segura de viver: “Eu era flamenguista até os sete anos, só que não me sentia bem com isso, tinha medo de apanhar da polícia e tal… Fui convencido por uns amigos da escola até que ganhei uma camisa do Vasco. Me curei!”

Já comigo, e com boa parte da nossa equipe e dos vascaínos, a boa índole vascaína é hereditária. Meu pai, seu Francisco, sempre quis o meu bem e me deu a melhor educação possível: me criou vascaíno. Tudo bem que ele cometeu a maior gafe de deixar meu irmão ser influenciado pelo rebanho negro da família e vestir vermelho e preto nos dias de clássico, mas está perdoado levando em consideração o bem que me fez.

Felippe Corvo nasceu com o sangue vascaíno na veia, mas como no amor não se manda, casou-se com uma flamenguista. Em 2016, a família receberá Luiza e Corvo promete: “Será uma linda vascaína.” E Luciana que nos perdoe, mas confiamos em você, Felippe. Um pai sempre quer o melhor para os filhos.

Uma frase que resume esse bem que o Vasco nos faz, eu li do Henrique Vianna: “O Vasco você sente. Sempre me senti muito bem na torcida, era meu programa favorito desde de moleque. No colégio eu falava que era Força Jovem, na pelada com os amigos eu era o Edmundo. Eu pertenço ao Vasco e ele seria minha escolha natural, sua história de luta dentro do futebol me representa!” E ponto. Perfeito.

Com o passar do tempo, alguns fatos históricos nos faz carimbar a Cruz de Malta no peito. Me lembro bem o dia que mais chorei na minha vida. Eu tinha sete anos e o Vasco acabava de ser tri-vice do Campeonato Carioca. No ombro do meu pai, eu chorava copiosamente e perguntava pra ele: “Mas porquê não vencemos, pai?”. Ele segurava o choro ao me ver chorar e respondia: “Acontece, Victim. Mas nós somos melhores. Nós sempre seremos.” E isso é tudo que me lembro daquela época. Mas é tudo o que eu preciso lembrar quando estamos em nossos piores momentos dentro de campo. “Nós somos melhores… Nós somos melhores…”

Outro que também sentiu sua ‘vascainidade’ se fortalecendo em uma derrota foi Thadeu Pedroso: “Eu tive exata noção da paixão que já me habitava em uma derrota do Vasco. Final do Carioca de 97. Botafogo campeão com gol do Dimba. Chorei demais.”

Diferente de nós, as primeiras recordações do Vasco para muitos são de momentos gloriosos. Roberto Júnior lembra da família comemorando o 4 a 1 do chocolate sobre o rival rubro-negro na semifinal de 97, jogo que também é inesquecível para Pedro Almeida. A campanha vitoriosa na Libertadores de 98 é a lembrança de Murilo Almeida.

Mas da nossa geração, é quase unanimidade: Mercosul de 2000. A virada histórica. Quem conta essa parte da história é a Lis Brandão: “Por mais que eu só lembre de lances isolados e que foram revistos anos depois, meu jogo inesquecível foi a final da Mercosul, em 2000. Assisti com meus pais, meu irmão e uns amigos dele. A sala da minha casa estava cheia de vascaínos que, a cada gol do Palmeiras, desanimavam. No intervalo, uns desistiram de acompanhar, outros achavam que o sonho de conquistar o título tinha acabado ali, nos primeiros 45 minutos. Mesmo sem entender, vendo todo mundo triste, na minha lógica infantil, pude concluir que, se o Palmeiras conseguiu fazer três gols no primeiro tempo, por que para o Vasco seria impossível? E o resultado foi melhor que eu imaginei. Então, foi a partir deste jogo que eu, mesmo sem acompanhar muito e entendendo pouco, senti o que é ser Vasco. Foi o meu pontapé inicial.”

Alguns outros jogos, em meio à tantos importantes, foram lembrados por nós. Arthur Almeida lembra do Vasco sufocando o galático Real Madrid, em 1998, na final do Mundial Interclubes. Já mais recente, a lembrança daquele Coritiba 3×2 Vasco e o título vascaíno da Copa do Brasil é compartilhada por Lucas Machado, Thiago Esteves, Matheus Santos, Pedro Almeida, Roberto Júnior e tantos outros vascaínos espalhados pelo mundo. Boas lembranças daquela noite.

Futebol é um celeiro de causos. Das histórias de amor exacerbadas à zoação com rivais, o Vasco tem papel protagonista. “Meu pai espirrava ao som de Vasco ao invés de “atchim”. Me ensinou a desviar de cocôs na rua dizendo: cuidado pra não pisar no Flamengo”, conta Pedro Almeida.

E curtir uma ‘chuva de pedras’ contra seu pai no estádio? Ricardo Azêdo curtiu: “Em 1998, eu tinha 14 anos e meu pai foi pra Guaiaquil ver a final da Libertadores contra o Barcelona e prometera me levar. Mas por ter aula, na hora não me levou. No estádio, ele abriu uma bandeira do Vasco e as pedras voaram. Ele me disse ‘que bom que você não foi’. Respondi: ‘O que é uma pedra comparada a ver o Vasco bicampeão da América?’. Foi triste, mas curti!”

Eu não teria a prepotência de achar que conseguiria relatar todo nosso sentimento pelo Vasco em um texto. O que falei acima não chega nem a ser uma quantidade relevante para se representar em porcentagem, mas escrevendo isso, as boas lembranças vascaínas me tomaram a mente e fizeram o meu dia bem mais feliz. Espero que isso se repita para vocês e a nossa vascainidade repercuta nesse dia tão especial em nossas vidas.

Texto publicado originalmente no site Guerreiro da Colina