Considerado um dos maiores laterais-direito da história do Cruzeiro, Nelinho foi marcante no time celeste nos anos 70 e no começo dos anos 80. Em 1976, no auge de sua forma técnica e física, o jogador se transformou em uma figura importantíssima na campanha cruzeirense na Libertadores de 1976.

Manoel Rezende de Matos Cabral nasceu no Rio de Janeiro, em 26 de julho de 1950. Antes de jogar no Cruzeiro, passou pelos clubes cariocas Bonsucesso e América, e atuou fora do Brasil pelo Barreirense, de Portugal, e no Anzoategui, da Venezuela. Por fim, atuou no Remo até 1972. 

Foto: Divulgação/Cruzeiro

Nelinho jogou no Cruzeiro até 1981, sendo que, em 1980, atuou por empréstimo no Grêmio. A partir de 1982, o lateral-direito defendeu o Atlético-MG até encerrar a carreira, em 1988. O ex-jogador ainda leva no currículo duas participações em copas do mundo. Em 1974, na Alemanha, e em 1978, na Argentina. 

Apos deixar o futebol, Nelinho foi deputado federal entre 1987 e 1990. Desde 1984, juntamente com sua esposa, é proprietário da academia Wanda Bambirra, no bairro Sion, em Belo Horizonte. No futebol, o ex-lateral chegou a ser técnico do Atlético-MG em 1993. Entre 2005 e 2008, foi comentarista da Rede Globo e, atualmente, tem um blog no portal UAI.

Nelinho foi um dos jogadores mais importantes na campanha do título da Libertadores pelo Cruzeiro em 1976. Na época, com a camisa 9, Nelinho, que um dia chutou uma bola para fora do Mineirão, conta aqui na VAVEL Brasil detalhes da campanha celeste.

VAVEL Brasil: Em algum momento da campanha, vocês, jogadores, sentiram a pressão de conquistar o título?

NelinhoEm nenhum momento. Nós sabíamos que qualquer atleta que joga em um time grande como o Cruzeiro, tem que entrar na competição para ganhar. Não pensa em pressão. Perdeu? Passa para o próximo campeonato. Tenho certeza que esse tipo de ideia jamais passou pela cabeça do elenco, e ganhamos aquela Libertadores porque o time estava muito certinho, alinhado, jogamos bem todas as partidas, tanto que, na metade do torneio, já éramos credenciados como favoritos ao título.

Nelinho batendo falta na primeira partida da final contra o River Plate. Foto: Almanaque do Cruzeiro

VBR: O elenco campeão da Libertadores atuava junto há muito tempo. Isso facilitou o trabalho do Zezé Moreira no comando do Cruzeiro?

N: Todo treinador só trabalha o time durante a semana. Existe muito tabu quanto a essa relação de treinador ganha jogo por um ponto forte ou outro. O time do Cruzeiro jogava bem, e era entrosado há muito tempo. Então, mesmo que o Zezé quisesse alterar alguma coisa, ele não conseguiria, porque a equipe já jogava e bem daquela forma. Não havia o que mudar durante o jogo. Agora, antes do jogo, por alguma situação da partida houvesse a necessidade de fazer alguma alteração, aí é coisa do técnico.

VBR: O Zezé Moreira chegou a fazer algum tipo de alteração na equipe?

N: Nos treinos, o que Zezé Moreira fez foi melhorar a marcação. Eu me apresentava muito no ataque. O Palhinha é ágil, aproveitava bem os rebotes e se colocava bem. O Joãozinho era um grande driblador e abria espaços. Antes de eu chegar ao Cruzeiro, os laterais não desciam e o Piazza não fazia essa cobertura. Então, o Zezé disse ao Piazza que ele tinha que ficar para me cobrir e não precisava mais apoiar. Isso teve o dedo do Zezé.

VBR: Como era o Zezé Moreira? Era um técnico mais paizão, ou mais sério?

N: O Zezé Moreira era sério. Era muito correto e poucas vezes brincava ou ficava rindo. Tem uma história que fortaleceu muito o comando dele no Cruzeiro e foi contra o Alianza Lima-PER, o último do Roberto Batata. Antes da partida, ele deu a escalação oficial barrando o Zé Carlos. O meio-campo seria Piazza e Eduardo. Quando o Carmine Furletti, que era o vice-presidente viu a escalação, ele achou que o Zezé estava ficando louco. O Zé Carlos era idolatrado pela torcida e pela diretoria, até porque, ele jogava demais e nunca tinha sido barrado.

O Furletti chegou para o Zezé dizendo que ele estava errado. O Zezé Moreira respondeu que se ele quer que o Zé Carlos jogue a partida, que desse a passagem dele de volta para o Brasil e ele, Furletti, virasse o treinador. O Furletti ligou para o presidente Felício Brandi, perguntou o que deveria fazer. O Felício pediu para deixar e ver o que aconteceria. Resultado: ganhamos de 4 a 0, demos um baile e o Zezé Moreira ganhou o respeito do time todo.

Terceiro da direita para a esquerda, Nelinho foi peça importante do Cruzeiro na Libertadores. Foto: Divulgação

VBR: Quais são suas maiores lembranças da decisão contra o River Plate?

N: São as melhores. A maioria do grupo era experiente e sabia que vencer a primeira partida aqui no Mineirão, e de goleada (4 a 1), foi importante para nos fazer acreditar que era possível, mesmo encarando um time que era à base da Sel. Argentina. Lembro no primeiro jogo, o ponta-esquerda deles (Oscar Más), me pediu para o Cruzeiro reduzir o ritmo. Na época, não tinha vantagem. Bastava apenas ganhar.

Em Buenos Aires, no segundo jogo, tínhamos chances de ganhar, mas não ganhamos. E uma coisa que ninguém fala é que naquela decisão, a partir do segundo jogo, o River Plate estava todo desfalcado, não era o time titular. Logicamente que isso não tira nosso mérito, porque o River era muito bom mesmo com os suplentes.

No terceiro jogo, nós passamos por momentos que outros times passaram quando atuavam fora do Brasil. Arbitragem era tendenciosa, não tinha televisão nos jogos e não tinha exame antidoping. Foi difícil demais, mas ganhamos

VBR: O que aconteceu no terceiro gol do Cruzeiro, na falta batida pelo Joãozinho?

N: Não tinha nada ensaiado. Eu queria bater a falta e estava discutindo com o Piazza que queria rolar a bola para o Palhinha chutar. Quando eu me virei, o Piazza e eu estávamos brigando, e o Joãozinho foi lá e bateu. Se o Joãozinho erra aquela batida, ficaríamos muito chateados com ele. Com o Zezé Moreira, acredito que o João não iria passar batido.

VBR: Após o jogo, você comemorou com os jogadores? Participou da festa em Belo Horizonte?

N: Foi uma festa muito grande no vestiário, no hotel. No entanto, quando voltei para o Brasil, fui para o Rio de Janeiro ficar com meus pais, meus amigos e resolvi comemorar com eles. Desfilar no carro do Corpo de Bombeiros não era o mais interessante para mim. O que eu sei é que depois daquele título, houve um reconhecimento ainda maior no meu futebol, porque quem disputava a Libertadores sabia da dificuldade e isso me deu um ganho gigantesco.

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