Revivendo: Em 1979, Palmeiras surpreende e goleia o Flamengo no Maracanã

O Flamengo, que se preparava para ser campeão de tudo nos anos 1980, teve tempo para abrir passagem para o jovem time do Palmeiras no Brasileirão de 1979

Revivendo: Em 1979, Palmeiras surpreende e goleia o Flamengo no Maracanã
Foto: Revista Placar
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Por Vinícius Silveira

Na próxima quarta-feira (14), Palmeiras e Flamengo vão entrar em campo pela 25ª rodada do Campeonato Brasileiro. A partida está marcada para o Allianz Parque, às 21h45. O jogo é tratado como a primeira das várias "decisões" do Brasileirão que deverão acontecer até a definição de quem será campeão do Brasil.

Flamengo e Palmeiras protagonizaram partidas emocionantes, com direito a resultados expressivos e outros que chegaram a surpreender até os próprios torcedores que mesclaram a alegria da vitória com uma dose forte de surpresa. Um destes casos aconteceu em 9 de dezembro de 1979, também pelo Campeonato Brasileiro.

Flamengo x Palmeiras: Decisão no Maracanã para definir um dos semifinalistas

O Palmeiras, vice-campeão em 1978 perdendo para o Guarani entrou na competição na terceira fase. O time do Palestra Itália se juntou a Comercial e São Bento, ambos de São Paulo, e Flamengo. Os dois times do interior paulista não foram páreos para os gigantes e perderam as partidas que realizaram contra alviverdes e rubro-negros. Na última rodada, só somaram pontos porque empataram em Sorocaba por 2 a 2.

Na outra partida da última rodada, Flamengo e Palmeiras decidiriam quem iria para as semifinais do Brasileirão no Maracanã. A partida marcada para o dia 9 de dezembro de 1979, um domingo à tarde, apanhou 112.047 pagantes. O rubro-negro precisava vencer, pois caso empatasse o jogo, a decisão da vaga se definiria nos critérios de desempate, fator que favorecia ao time alviverde.

O Flamengo estava amadurecendo uma geração que se tornaria a mais vitoriosa da história do clube. Com Zico no comando, jogadores como Júnior, Adílio e Tita, formados na Gávea, aliados a Carpegiani e Cláudio Adão, vindos de outros times, e comandado por Cláudio Coutinho, que antes do confronto demonstrava conhecer o Palmeiras.

"Tenho informações de que a garotada do Palmeiras é muito veloz e tem ótimo aproveitamento no ataque. Vamos procurar jogar no setor em que somos melhores: o meio-campo", explicou antes do confronto a Revista Placar.

Por outro lado, o Palmeiras era um time sem jogadores conhecidos e tentava fortalecer uma geração póstuma a de Dudu, Leivinha e Ademir da Guia, que terminou melancolicamente entre 1975 e 1977. Os atletas eram jovens e inexperientes, mas estavam comandados por um mestre: Telê Santana. O treinador palmeirense, mesmo sabendo que Coutinho conhecia o alviverde, não sinalizava mudar seu esquema tático.

"O problema não é conhecer as jogadas, é neutraliza-las. Coisa que nem minha defesa reserva, nos treinos, consegue fazer", ressaltou a Revista Placar.

O jogo: Palmeiras domina o Flamengo e ganha com merecimento

A partida começou e o Palmeiras não demorou muito a começar a festa da garotada no Maracanã. Aos 11 minutos, César ganhou da defesa, entrou na grande área e cruzou rasteiro para Jorge Mendonça escorar a bola para as redes. O gol colocou o alviverde em vantagem, deixando a torcida e os jogadores rubro-negros perplexos.

No segundo tempo, o Flamengo voltou melhor e aos nove minutos, Zico sofreu penalidade máxima. O próprio camisa 10 rubro-negro empatou a partida. Mesmo com o gol de empate, o time carioca não conseguia sair da forte marcação de Pires e Mococa e não segurava as investidas de Jorge Mendonça e Jorginho. 

Para piorar a situação rubro-negra, aos 24 minutos, Baroninho cobrou falta rasteira, a zaga e goleiro flamenguista Cantarelli pararam, e Carlos Alberto desempatou a partida. Com o gol, o Palmeiras, que marcava com o Flamengo com precisão, passou a dominar todos os setores do campo. 

Aos 31 minutos, a situação piorou após o terceiro gol. O lateral-esquerdo Pedrinho começou a jogada no campo de defesa, lançou Baroninho, que carregou a bola e devolveu para o próprio Pedrinho, na entrada da área, bater rasteiro e marcar o terceiro. 

Desesperado, Cláudio Coutinho colocou Beijoca, centroavante de muito sucesso na Bahia, mas que pouco rendeu com a camisa rubro-negra. O camisa 15 deu uma cotovelada na boca da Baroninho e foi expulso pelo árbitro Carlos Sergio Rosa Martins (RS). Inconformado, resistiu a expulso, brigou com todo mundo e só piorou a situação do Flamengo. 

No último ato do show palmeirense, Baroninho carregou a bola pela ponta-esquerda, e cruzou para Zé Mário tocar de cabeça para as redes do Flamengo. Final: 4 a 1.

Após o jogo: Jogadores festejam, adversários parabenizam e Telê exalta elenco.

Pires, Mococa e Jorge Mendonça brincavam com o repórter Marcelo Rezende, da Revista Placar, sobre o resultado e o possível medo que o Maracanã deveria causar nos jovens jogadores palmeirenses.

Jorge Mendonça: "Não posso dar entrevista agora, irmão. Estou tremendo de medo do Maracanã, né mesmo, Mococa?"

Mococa: "Olha como estou tremendo no Maracanã - tremendo de alegria. Você está tremendo, Pires?”

Pires: Até que para um bando de medrosos nos saímos direitinho com este 4 a 1 no Flamengo, né mesmo, Mendonça?”

Mais contidos e sem muita brincadeira, os treinadores Cláudio Coutinho, do Flamengo, e Telê Santana, do Palmeiras, repercutiam o resultado.

Cláudio Coutinho: "Mereceram a vitória. Claro que ficávamos em desvantagem porque o Júnior se machucou, mas o Palmeiras mostrou pinta de campeão brasileiro”.

Telê Santana: "O Palmeiras está numa ótima fase, de ascensão técnica, com sorte. Mas precisamos manter a cabeça no lugar, aqui não vai haver otimismo exagerado, e sim, disciplina, empenho e ritmo de trabalho mais intenso."

E depois? Como se decidiu o Brasileirão'79?

Palmeiras, Internacional, Vasco da Gama e Coritiba se classificaram para as semifinais. O Vasco eliminou o Coxa com um empate em 1 a 1 e uma vitória por 2 a 1.

O Palmeiras enfrentou o invicto Internacional. Perdeu no Morumbi por 3 a 2, com direito a dois gols de Falcão. Na volta, no Beira-Rio, as duas equipes empataram em 1 a 1.

Na final, com duas vitórias sobre o Vasco por 2 a 0 e 2 a 1, o Internacional conquistou seu terceiro título brasileiro.