8 de maio de 2016. Eduardo Sasha abre a vitória do Internacional sobre o Juventude no jogo de volta da final do Campeonato Gaúcho e resolve dançar uma valsa com a bandeira de escanteio do estádio Beira-Rio. A torcida foi ao delírio. Nada tinha a ver com a disputa contra o Esmeraldino na final estadual, mas sim com o jejum de conquistas de maior peso pelo Grêmio. Havia 15 anos que o Tricolor gaúcho, maior rival colorado, não levantava uma taça nacional de primeira linha. A provocação não ficou restrita à torcida, mas se estendeu entre os atletas, principalmente na imagem de Sasha, e até institucionalmente, com o mascote do clube, o Saci, ao piano dias depois, na semana em que os 15 anos do tetra gremista na Copa do Brasil de 2001 se completaram.

O jogo virou. O mundo dá voltas. Frases que bem marcam o presente ano de 2016. A gangorra Gre-Nal virou como há muito não virava, tão bruscamente, tão fortemente entre os dois clubes. O Inter, que até a 8ª rodada do Brasileirão era líder do campeonato, com a campanha "Pezinho no Chão" para não se empolgar pela liderança atingida, começou a decair. Os jogos sem vitória aumentaram.

Em clássico Gre-Nal disputado ainda sob o comando de Argel Fucks, vazou áudio do técnico imaginando "passar o trator" sobre o Grêmio. A motivação foi contrária e o Tricolor venceu o jogo em pleno Beira-Rio. O gol foi de Douglas, em vitória por 1 a 0. Após o apito final, Edilson foi ao mesmo canto em que Sasha havia dançado a valsa e arrancou a bandeira de escanteio, sacudiu-a diante dos torcedores e arremessou-a longe. Estabeleceu mais lenha na fogueira, desabafou que o motor do trator estava fundido.

Com mais resultados negativos, após derrota para o Santa Cruz, o técnico Argel foi demitido. Falcão passou cinco jogos  no comando e não venceu. Celso Roth só quebrou o jejum de vitórias simbolicamente no 15º jogo, diante do Fortaleza, pela Copa do Brasil, evitando a valsa das 15 partidas.

Mas já havia a estatística de que times que chegaram a tão longos jejuns no Campeonato Brasileiro, no caso do América de Natal, que chegou a 15 jogos em 2007, foram rebaixados. Outras equipes que atingiram a marca de 14 jogos sem vencer já haviam caído. O Inter, em seus 14, aguardava quebrar o retrospecto de rebaixados que passaram por longos jejuns de jogos. Mas não conseguiu. Já com a mudança do quarto técnico da temporada, no comando de Lisca, o Colorado, na 38ª rodada, em Edson Passos, no Rio de Janeiro, diante do Fluminense, não conseguiu escapar do inédito rebaixamento. Encara uma inédita Série B na história do clube.

Por outro lado, antes motivo de piada, o Grêmio saiu da fila dos grandes títulos. Não só conquistou uma Copa do Brasil, mas foi a quinta em sua trajetória no torneio, tornando-se o maior campeão da competição de mata-mata de forma isolada. O Grêmio retorna também à liderança do ranking da CBF, enquanto a corneta colorada cessa após o fracasso na semana decisiva.

O Internacional pagou no ano pela arrogância, principalmente de seus dirigentes. Vitorio Piffero afirmava que não se devia falar em rebaixamento, mas o Fantasma da B estava disposto a uma conversa e não hesitou em bater à porta. O que era um pequeno risco começou a tomar proporções maiores, com o Colorado envolto como em um redemoinho. Girou, girou e acabou caindo da valsa. Comemoração do início do ano ironizada pelo Grêmio na conquista da Copa do Brasil, com novamente um jogador, no caso Luan, tirando a bandeira de escanteio para dançar. Com Marcelo Grohe, diante da torcida, simulando a dança e fazendo o movimento com os braços como quem diz: "acabou".

O Inter pagou pela soberba e arrogância de quem o dirigiu, não raramente respigando o discurso entre outros setores do clube, sejam em campo ou nas arquibancadas. Apoiado em um discurso contraditório e vazio de "time grande não cai". Esqueceram muitos que o Palmeiras é o maior campeão nacional e já caiu. O Atlético Mineiro é o último brasileiro campeão da Libertadores e já caiu. O Corinthians é o último brasileiro campeão do Mundial e já caiu. O Grêmio, o maior rival, é o maior campeão da Copa do Brasil. E já caiu. São todos grandes, inclusive o Inter. O Colorado não teve grandeza na atitude, mas precisará ter para se reerguer e voltar ao convívio da elite nacional,  como seguidamente outros grandes clubes, no campo, fizeram.

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Sobre o autor
Henrique König
Escritor, interessado em Jornalismo e nas mudanças sociais que dele partem; poeta de gaveta.