Da fundação, em 03 de fevereiro de 1914 - no pátio da Igreja de Santa Cruz - até hoje, a grande marca do Santa Cruz foi a aproximação com o povo. A história da identificação do Tricolor do Arruda com camadas mais pobres começou há 103 anos. Com sociedade altamente racista, nem o futebol era excluído: à época, nenhum clube no Norte/Nordeste aceitava jogadores negros.

Sendo assim, o primeiro desafio vencido pelo Santa foi o racismo: um dos fundadores, Teóphilo de Carvalho (Lacraia), era negro e se tornou o primeiro a jogar por times da região. Isso fez a equipe, recém-criada, ganhar rapidamente a simpatia dos mais humildes. Esse foi o símbolo da luta pela tão sonhada democracia racial no Brasil.

Ao longo dos anos, a fama de "Time do Povo" ganhou força e o Mais Querido, que surgiu da ideia de jovens pobres e marginalizados, teve a simpatia das classes sociais pela sua simplicidade: surgia o movimento social. A construção do Estádio José do Rego Maciel, o Arruda, mostra a força do amor dessa nação. A mobilização popular feita para que fosse erguido o que viria a ser um dos maiores estádios do Brasil teve largas proporções pelo país.

Estádio do Arruda em 1970 com parte da arquibancada (Foto: Reprodução/Diário de Pernambuco)
Estádio do Arruda em 1970 com parte da arquibancada (Foto: Reprodução/Diário de Pernambuco)

O "Colosso do Arruda", como ficou conhecido, saiu do papel após uma contribuição da torcida na chamada "Campanha dos Tijolos", em 1965. Nos primeiros 15 dias, o local que hoje é o parque aquático do clube já estava cheio de doações. Em cerca de quatro anos, foram arrecadados milhões de tijolos e diversos materiais de construção. Inúmeros carros chegavam à Avenida Beberibe, com seus porta-malas lotados, além de muitas pessoas carregando carrinhos de mão abarrotados, bem como também chegavam outras a pé com dois ou três tijolos na mão.

A história seria incrível se parasse por aí, mas a torcida coral deu uma nova prova de amor: engenheiros civis, mestres de obra, eletricistas, encanadores e pedreiros trabalharam voluntariamente no decorrer da obra do Arruda durante folgas, à noite e nos finais de semana. Em nome de um amor, pessoas de classes sociais totalmente distintas se uniram. O suor da nação, composta por loucos apaixonados, ergueu o símbolo maior da união entre torcida e time. Graças a todo o esforço conjunto, em 1972 foi inaugurado o Estádio do Arruda.

O clube, que nasceu do povo, enfim descobriu onde estava seu maior patrimônio: no coração dos milhares de apaixonados, que até os dias de hoje mostram que o amor pelo Santa Cruz é maior do que qualquer dificuldade. A história de uma das maiores mobilizações populares já realizadas no Brasil, por um time de futebol, ultrapassa os séculos e, com 103 anos, reascende a certeza de que pelas mãos do povo o Santa Cruz nasceu, e pelo amor do povo, viverá eternamente!