22 de maio de 1997. Noite de multidões no Maracanã. Fogos de artifício, sinalizadores e bandeirões faziam rugir o velho Maracanã, o estádio que ainda recebia públicos na casa das 100 mil pessoas. A ocasião era dessas, com a final da Copa do Brasil entre Flamengo e Grêmio. As duas grandes esquadras se encontravam no Rio de Janeiro após empate no estádio Olímpico por 0 a 0. A volta reservou um emocionante empate com gols que coroou o Tricolor gaúcho como tricampeão da competição de mata-mata, estabelecendo seu reinando contínuo no torneio. A conquista de 97 ocorreu de forma invicta.

Com muitos remanescentes de anos vitoriosos ao Tricolor gaúcho: Danrlei; Arce, Rivarola, Mauro Galvão e Roger; Otacílio, João Antônio, Emerson e Carlos Miguel; Paulo Nunes e Rodrigo Gral era a escalação do Grêmio na decisão do estádio do Maracanã. O volante Dinho havia sido expulso na primeira partida e desfalcava o meio gremista.

O Flamengo foi escalado com: Zé Carlos; Fábio Baiano, Luiz Alberto, Fabiano e Athirson; Jamir, Maurinho, Sávio, Nélio, Evandro e Romário para buscar a Copa do Brasil. O zagueiro Mauro Galvão e o mais do que conhecido atacante Romário participaram do sorteio da moeda no centro do campo, junto ao árbitro Wilson de Souza Mendonça.

Maracanã lotado e virada no primeiro tempo

A atmosfera do estádio era elogiável, mas o técnico gremista Evaristo de Macedo destacava desde antes, na entrevista à beira do campo, minutos anteriores ao apito inicial: "não é terror". A carga de ingressos era a máxima permitida ao Maracanã de 1997: 92 mil entradas. Não havia mais meios de estar dentro da final, pois as vendas esgotaram os ingressos.

O Grêmio havia eliminado os flamenguistas em duas ocasiões de Copa do Brasil: 1989 e 1993, ambas na fase semifinal. A busca pelo tri da Copa do Brasil também era a busca pela terceira passagem pelos rubro-negros. O Tricolor não se intimidava no barulho rival. Em investida veloz, Rodrigo Gral correu e foi interceptado por Fábio Baiano, que o segurou a camisa e virou o braço. Gral valorizou a situação no chão e os flamenguistas se irritaram com o atacante gremista.

João Antônio abriu o placar logo aos 6 minutos. A pressão mudava de lado. Carlos Miguel lançou com exímia categoria para entrada de João Antônio na área. O camisa 8 gremista aplicou uma caneta no adversário e chutou na saída de Zé Carlos, acertando o canto: 1 a 0 para o Grêmio. João Antônio substituía Luis Carlos Goiano e ainda contava com uma tala no braço para protegê-lo de lesão curada.

O Flamengo tinha dificuldades na saída de bola, se atrapalhava na criação e a torcida perdia a paciência. Rodrigo Gral cometeu falta por trás em Sávio e o rubro-negro saiu lesionado na partida. Pelo lado gremista, o zagueiro paraguaio Rivarola havia saído para entrada de Luciano, em igualdade entre os machucados. Para tentar o gol do Mengão, Athirson abandonou a lateral-esquerda, tabelou com o ataque e chutou da intermediária. Danrlei defendeu firme. Mas o empate no placar também veio no primeiro tempo: Evandro ganhou jogada pela direita, parou para driblar e cruzou na medida para Lúcio, ingressante na vaga de Sávio, matar no peito e chutar sem chances ao goleiro gremista: 1 a 1 aos 30 minutos.

Evandro era válvula de escape pelo Flamengo e Paulo Nunes já não recebia bolas no ataque gremista. Aos 41 minutos, a virada no placar. Fábio Baiano arrancou em velocidade, deixou a bola na extrema direita para Nélio, que cruzou consciente para Romário cabecear para defesa de Danrlei junto ao travessão, mas o próprio Romário viu a pelota se oferecer para que ele carimbasse as redes: 2 a 1.

Em passe de Roger, Carlos Miguel garante a taça gremista

Festa da torcida gremista após o gol de Carlos Miguel (Reprodução / SBT)

Foi uma longa espera de segundo tempo para os gremistas. Era um susto no ataque com cabeçada na trave e um na defesa, com Evandro batendo cruzado e quase Romário completando de carrinho na pequena área. Mas o placar mantinha-se no indefinido 2 a 1, que tanto poderia confirmar o título flamenguista quanto poderia oportunizar o crime feito pelo Grêmio. Era um Flamengo experiente para aguardar a conquista, enquanto o Grêmio, também vivente de maturidade segurava a pressão e tentava aplicar o golpe certeiro.

O Grêmio acreditou em cada bola e chegou a recuperar duas roubadas no mesmo lance. Roger recebeu com espaço na lateral esquerda, avançou e achou um espaço para Carlos Miguel fechar como um centroavante e recolocar o mando da taça para Porto Alegre. 2 a 2 no Maracanã, aos 34 minutos. Festa dos mais de 1.500 gremistas presentes nas tribunas do estádio.

O grito de "Ah, eu tô maluco", puxado pelos torcedores e por jogadores como Romário, foi substituído por "Ah, eu sou gaúcho", dos viajantes vindos do Sul. O Grêmio sagrava-se tricampeão da Copa do Brasil. Uma história com a competição que o fez primeiro campeão, primeiro bi, tri, tetra e recentemente penta ao reconquistar a competição em 2016.

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Sobre o autor
Henrique König
Escritor, interessado em Jornalismo e nas mudanças sociais que dele partem; poeta de gaveta.