Competência. Assim podemos adjetivar o trabalho feito por Fábio Carille até aqui. O técnico fez o seu nome conquistando o Campeonato Paulista de 2017 colhendo grãos, e vem mantendo a mesma filosofia no Brasileirão. Inicialmente o jogo pragmático da equipe e a falta de gols incomodaram os torcedores, mas aos poucos, a Fiel Torcida se remeteu às nostálgicas fases do treinador Tite.

Não é mera coincidência. Fábio Carille segue o trabalho de Tite. Regulamento em campo, meio a zero são três pontos. Não atoa está há 16 partidas invicto, número próximo a um turno do Brasileirão. Essa sina foi claramente vista na temporada.

Só no Campeonato Paulista foram 11 vitórias, sendo seis pelo placar de 1 a 0. Ou seja, 18 pontos foram conquistados com apenas seis gols marcados. As vítimas foram: São Bento, Novo Horizontino, Audax, Palmeiras, Santos e Botafogo SP. Na Copa do Brasil o mesmo. Vitória simples contra a fraca Caldense por 1 a 0. No Brasileirão até aqui, “repeteco”, já foram duas vitórias pelo placar mínimo contra Vitória e Atlético Goianiense fora de casa, e vai continuar assim.

Neste ano o filme vem se repetindo. Apesar de ser ainda um curta metragem, a atual temporada remete aos torcedores as tramas mais vitoriosas dos últimos anos. Na campanha campeã do Campeonato Brasileiro de 2011, o Corinthians fez o placar por 1 a 0 em sete oportunidades. No ano seguinte, na conquista invicta da Copa Libertadores, em 14 jogos disputados, três foram vencidos com apenas um gol do Timão. E queria o destino que o gol solitário também estivesse no Japão para a disputa do Mundial de Clubes. Foram apenas dois jogos, e ambos terminaram com a contagem de 1 a 0. No Campeonato Brasileiro de 2015 a história foi um pouco diferente, o time marcou mais vezes, e mesmo assim repetiu o placar mínimo contra cinco adversários.

Os grandes responsáveis

Comissão e jogadores são os responsáveis, mas vamos citar alguns. O equilíbrio foi ressurgindo neste ano com a manutenção da parte defensiva da equipe. Cássio voltou a ter a confiança e as performance dos anos anteriores. A chegada de Pablo e Gabriel também foram essenciais para a solidez, que praticamente inexistiu em 2016. Na frente, uma galera que já passou “poucas e boas” resolve. Jadson já foi banco de Petros. Rodriguinho era “Ruindriguinho”. A camisa 7 veste Jô, um jogador que viveu escassez de gols, visitou o inferno astral de um atacante, e hoje, é decisivo e comprometido com a filosofia do seu técnico.

E não podemos esquecer de Angel Romero. Ah Romero. Alvo de diversas chacotas da grande mídia. O atacante é o grande operário da equipe. Funcional e sem vaidade, ele abre mão de ser o nome do jogo e pode ser destacado por tudo o que um jogador de futebol pode fazer: ataca, corre, marca, volta, tabela, triangula, afasta, da carrinho, faz gols e goza de DNA corinthiano, composto por vontade, vibração e humildade.

Pragmatismo e humildade

Quem observa as "simples" vitórias e se coloca como um crítico, não vê o processo que resulta nos triunfos alvinegros. O técnico Fábio Carille nunca prega o favoritismo a sua equipe, independente da dimensão do seu adversário. Pode ser o Luverdense ou o Palmeiras. Dentro de campo uma emboscada é montada.

O Corinthians deixa o seu oponente à vontade, oferece a posse de bola, ilude a equipe rival fazendo dela a melhor por um momento em campo. Doce ilusão. Na defesa alvinegra, uma grande força tarefa blinda o goleiro Cássio e evita que gols sejam sofridos. Em um relapso tático consciente, aparece uma triangulação perfeita e o Timão chega ao gol até com certa facilidade. Faz um, mas não sofre nenhum. E quando marca o gol no primeiro tempo, assim como contra o Atlético Goianiense, na dinâmica do jogo, sabe se posicionar e levar os três pontos. Os jogadores sabem o que estão fazendo ali. Sabem quais espaços ocupar, e quando devem atacar, defender e agredir. A leitura tática dos atletas, até dos mais jovens do time é impressionante.

A Fiel Torcida já está convencida que de grão em grão o clube alça troféus, e não se importa mais se a equipe de Carille vai ser campeã com apenas 38 gols em 38 jogos. Os críticos iram colocar nos livros que um dia um time na história do futebol foi campeão vencendo a maioria dos jogos por apenas 1 a 0, sem encantar com dribles e hat-tricks, mas dificilmente vão dizer que esse time quase nunca sofria gols.