A palavra obsessão em um de seus significados quer dizer um apego exagerado a um sentimento ou a uma ideia desarrazoada. Em 1999 a torcida palmeirense que tinha como desejo a conquista da Copa Libertadores da América provou o sentimento de obsessão e gostou. Foram campeões do torneio sul-americano pela primeira vez e na noite de 16 de junho daquele ano o grito de campeão alviverde ecoou pelo continente.

Foi sofrido. A conquista da Libertadores daquele ano para a torcida do Palmeiras veio de forma que  não estavam acostumados. Os pênaltis no eterno jardim suspenso contra o Deportivo Cali da Colômbia testaram os corações palestrinos nas arquibancadas até os minutos da madrugada do dia 17.


O Palmeiras tinha um esquadrão. Marcos era o goleiro daquela equipe e substituía um ídolo, Veloso. A linha defensiva tinha nas laterais Arce e Junior com Roque Junior e Junior Baiano formando a dupla de zaga. Os volantes César Sampaio, capitão da equipe, e Rogério fechavam a retaguarda palmeirense e do meio-campo para frente os nomes de Alex, Zinho, Paulo Nunes e Oséas formavam os 11 jogadores que o técnico Luiz Felipe Scolari colocou em campo a maioria dos jogos em um formato 4-4-2.

O Verdão passa pelo Vasco

O Palmeiras se classificou em segundo lugar, atrás do arquirrival Corinthians com 10 pontos pela fase de grupos. Nas oitavas de final enfrentou o Vasco da Gama, que defendia o título conquistado no ano anterior. O primeiro jogo em São Paulo foi quente, brigado e com raça dos dois lados. O Palmeiras jogava no Palestra Itália com o apoio de seu torcedor, mas empatou em 1 a 1 com a equipe carioca. Oséas para o Palmeiras e Guilherme para o Vasco foram os autores dos gols daquela noite, mas o duelo de 120 minutos estava na metade, faltava o jogo em São Januário.

No Rio de Janeiro Luizão começou marcando para o Vasco e Paulo Nunes empatou após cruzamento rasteiro de Júnior. O duelo continuava empatado até Alex e Paulo Nunes marcarem um belíssimo gol após tabela magistral.

O Palmeiras tinha um placar a favor para prosseguir até a próxima fase, mas com um gol olímpico de Ramon a equipe cruz-maltina voltou ao jogo e fez com que o Verdão fosse para cima e acabasse logo com o sofrimento que as melhores equipes da Libertadores travavam entre as quatro linhas Alex recebeu cruzamento de Oseas e faz 3 a 1 e ainda deu tempo do furacão alviverde fechar o caixão com Arce em cobrança de falta e carimbar o passaporte alviverde para as oitavas de final da competição e enfrentar o Corinthians, maior rival.

Palmeiras leva a melhor no Derby

O Palmeiras eliminou o Corinthians na fase seguinte em uma decisão por pênaltis na segunda partida no estádio do Morumbi. O primeiro jogo também no Cícero Pompeu de Toledo terminou 2 a 0 para o Palmeiras com gols de Oseas e Rogério, o que garantiu uma vantagem para a equipe alviverde, mas perdeu a segunda partida pelo mesmo placar e viu a decisão ir para as penalidades.

Rincón marcou para o Corinthians e Arce para o Palmeiras, Dinei tentou para o alvinegro mas acertou a trave e Evair colocou o Palmeiras na frente do placar. Vampeta parou em Marcos após cobrança no canto direito em meia altura e o alviverde abriu vantagem após Rogério marcar o terceiro gol na decisão. 

Silvinho estufou as redes e deixaou o resultado em 3 a 2 para o Palmeiras e estava na hora de Zinho chutar para dentro do gol e garantir a classificação palmeirense para as semis. Zinho tomou distância, quase fora da meia-lua, balançou as pernas e olhou fixamente para a bola. Correu e bateu no canto esquerdo com a perna esquerda.... Gol do Palmeiras e o Verdão garantia o passaporte para a Argentina, onde iria enfrentar o temido River Plate pela semifinal da copa Libertadores.

Palmeiras brilha e atropela River Plate

O Palmeiras foi até a Argentina e foi amassado pelo River. O jogo foi 1 a 0 para os argentinos e decisão ficou para o jogo em São Paulo. O clima era de guerra e a torcida sabia que no Parque Antártica o time tinha totais condições de virar o resultado e em campo os jogadores cravaram a vaga na final com uma belíssima partida vencida por 3 a 0.

Oseas acertou a trave logo no começo do jogo. O Palmeiras continuou amaçando o adversário até Alex marcar e deixar a decisão empatada. Em bela jogada o meio-campista do Palmeiras dominou a bola no peito, ajeitou e mandou um torpedo no golo O Palmeiras ganhava por 1 a 0 e no agregado o resultado era 1 a 1, levando a decisão aos pênaltis, mas o Verdão não quis saber e com o apoio de sua torcida que cantou os 90 minutos marcou mais um com Roque Júnior de cabeça.

O jogo foi para o intervalo com o Verdão na frente e o segundo tempo ficou dramático pois os argentinos vieram com sangue nos olhos buscando uma reação. Marcos que estava acostumado a aparecer em momentos difíceis foi obrigado a fazer milagres, mas no finalzinho do jogo apareceu Alex que, com outro belo gol, matou o jogo fazendo o terceiro gol palmeirense e deixando o Verdão apenas a um passo da obsessão.

A Guerra contra os Colombianos  e enfim a obsessão conquistada

A primeira partida na Colômbia foi sofrida. O peso de ser um finalista da competição mais valiosa da América era visível para os dois lados. O Palmeiras, como fez campanha melhor que do Deportivo Cali ao longo da competição, tinha o privilégio de disputar a segunda partida da decisão em casa então o Verdão foi até Cali para medir forças com os colombianos e saiu derrotado por 1 a 0.

O clima no estádio era todo favorável aos donos da casa e bombas explodiram dentro de campo. O Deportivo fez um gol logo no primeiro tempo e ficou com a vantagem o resto da partida. O Palmeiras trouxe para o Brasil a missão de reverter o placar em seu estádio e se sagrar campeão da Libertadores. Não era tão difícil pois este resultado estava igual ao jogo anterior contra o River: uma derrota mínima e em casa conversamos. Isso sempre deu certo para o Palmeiras, no chiqueiro ainda tinha muita bola para rolar.

Sinalizadores, fumaça e confiança enfeitavam o Palestra Itália naquela noite. Era visível que a torcida do Palmeiras confiava na equipe para reverter um simples placar contra a equipe do Deportivo Cali e essa energia passou para os jogadores que após o apito inicial jogavam para frente, querendo fazer o resultado, mas nem tudo foi fácil como queriam os palmeirenses.

O 0 a 0 ficou no placar até os 20 minutos da etapa complementar, mas Yeppes, zagueiro da equipe colombiana mudou para sempre a história do jogo após subir e desviar com a mão uma bola dentro da área em jogada perigosa do Palmeiras. Era um pênalti a favor do Verdão e a chance de deixar tudo igual na decisão.

Na cobrança, Evair tomou distância, partiu em direção da redonda e estufou as redes de Dudamel, fazendo o Palmeiras inaugurar o placar e levando o confronto para os pênaltis. Mas o mesmo lance que acendeu a esperança palmeirense foi motivo de sorriso para o adversário quando Junior Baiano deu uma tesoura em Bedoya fazendo a penalidade e permitindo que o jogo fosse empatado em 1 a 1.

Aos 30 minutos do segundo tempo, Junior cruzou e Oseas virou o placar para o alviverde imponente. O Palmeiras tinha 2 a 1 e isso foi a prova do que o Scolarismo é capaz de fazer. O Verdão não se mostrou apático e se tivesse que sofrer mais, sofreria. Libertadores é assim, com o coração na ponta da chuteira.

A decisão foi para os pênaltis e deixou a torcida toda apreensiva. Dudamel após o apito final comemorou o feito realizado por sua equipe na frente de uma das arquibancadas palmeirenses. Porém, mal sabia ele o poder de reação do Palmeiras quando ocorriam tais atitudes.

Zinho começou a série de cobranças e acertou a trave. Em seguida, o próprio goleiro colombiano foi até a marca da cal e converteu o pênalti para sua equipe. Junior Baiano marcou e Gavíria errou. O duelo estava empatado mais uma vez. Roque Junior faz e Yepes também, até que chegou a vez de Rogério, que bateu firme e colocou o Palmeiras vivo no jogo balançando a rede em sua oportunidade.

Azar de Bedoya, que desperdiçou sua cobrança acertando a trave. Estava nos pés de Euller a cobrança final do Palmeiras na série e ele cumpriu o seu papel, marcou o gol e jogou toda a responsabilidade para o lateral colombiano Zapata.

Zapata contra Marcos, os gritos de “FORA, FORA, FORA” eram gritados em todo Palestra Itália por torcedores e jogadores. E foi o que aconteceu. Correu Zapata em velocidade, bateu firme na bola e mandou para fora, do lado direito do gol ainda raspando a trave.

O Palmeiras finalmente se sagrava campeão da Libertadores após duras batalhas, realizava seu objetivo e alcançava seu sonho. Pintava-se a América de verde pela primeira vez na história do Verdão após frustrações com a mesma competição nos anos anteriores.

Com angústia e desespero, mas campeão. Esse foi o Palmeiras que atingiu sua obsessão em 16 de junho de 1999, uma noite em que mais um capítulo da história foi criado. Mais uma conquista garantida e mais um título para grandiosa história da Sociedade Esportiva Palmeiras.