"Não, não vai dar certo. Ele vai ficar ansioso do mesmo jeito. Ela vai falar que estão indo passear só, não vai dizer mais nada". Essa foi a resposta dada por minha mãe quanto a minha sugestão, de dizer ao Pedro que levaríamos ele ao zoológico para camuflar de alguma maneira para onde nos dirigíamos. Na verdade, mal sabia ele que três estranhos, que nunca haviam o visto, estariam o levando para um dia inesquecível.

Bom, antes de qualquer coisa, precisamos de uma breve apresentação do nosso protagonista: portador da síndrome de Down, Pedro tem 9 anos de idade e mora na região do Jaraguá com sua mãe e avó. Assim como boa parte dos que irão ler esse texto, ele é apaixonado por futebol, mais precisamente pelo Sport Club Corinthians Paulista.

Sua história chegou até mim pela minha mãe, Rose, que trabalha com a mãe de Pedro, Andreia, no Centro Universitário São Camilo. Até aqui você deve estar pensando: "Tudo bem, o garoto é fascinado pelo seu time coração, e daí? O que torna essa história interessante e diferente?" - e eu digo pra vocês: Pedro é apaixonado por alguém em específico dentre os que vestem o manto alvi-negro, que pra ele, está acima do próprio Corinthians (acredite se quiser)... o goleiro Cássio!

Um dos principais nomes da equipe nos últimos anos, marcado pelas conquistas da Libertadores da América e do Mundial Interclubes em 2012, Cássio é o maior ídolo de Pedro, que sempre sonhou em vê-lo. O goleiro chegou a perder a titularidade do gol corinthiano há pouco tempo atrás, chegando a ser criticado em alguns momentos pela própria torcida que em certas situações pediu sua saída do clube. Mas e para o Pedro? Ah, isso nunca passou por sua cabeça, aquele cara alto pra caramba, defendendo a meta do seu clube de coração deveria ser eterno. 

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Sua história logo me tocou quando chegou até mim. Um moleque que idolatra o arqueiro de sua equipe desde criança. Obviamente que a primeira referência que meio veio a mente foi a deste ser que vos escreve. Minha primeira (e boa parte das restantes) camisa oficial do São Paulo foi do Rogério Ceni. Uma dourada. Tão linda que a vesti por anos. Se a mesma não estivesse batendo na altura de meu umbigo, certamente estaria a usando neste exato momento.

Enfim, o sentimento que me bateu foi de que poderia ajudá-lo de alguma forma, nisso, começou a 'correria'. Como nada se faz sozinho nesta vida, eu precisava de ajuda, e o primeiro nome que me veio a mente foi o de Renê, colega de redação e parceiro de uma cobertura pra lá de emocionante em uma partida da Seleção Feminina de Vôlei há alguns meses atrás, onde quase perdemos nossos notebooks com a força das boladas daquela mulherada. Contei a história de Pedro para Renê, que logo topou me auxiliar nesta empreitada.

E rapidamente conseguimos contato com a assessoria corinthiana, que se mostrou plenamente disposta desde o início a realizar o sonho do garoto, questionando apenas qual o melhor dia para a visita. A felicidade tomou conta do meu coração de uma maneira que não conseguirei explicar nunca. Lembrei que minha mãe chegava do trabalho dizendo algumas vezes que insistia para Andreia mandar a história do Pedro para o Luciano Huck, para o Gugu e demais apresentadores que poderiam tornar tudo isso realidade... mas quem diria, logo eu realizaria o sonho daquele garoto...

A partir dali, chegamos ao início do texto onde tentei criar algum cenário para que Pedro jamais imaginasse que estaríamos levando ele para o encontro com seu ídolo, já que é sempre bom deixar um clima de suspense e de surpresa no ar. Mas não houve nenhuma história para isso, e na minha cabeça ele sacaria que algo estava estranho bem rápido. Mas vamos lá, né! Acordamos sábado (3) às 7h, eu e minha mãe encontraríamos Andreia e Pedro no metrô Penha, onde Renê estaria nos esperando de carro para ir até o CT Joaquim Grava

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Quando nos encontramos, Pedro já estava todo trajado para algo que ele nem fazia ideia do que aconteceria: camisa e boné do Corinthians, e um sorrisão no rosto, que durou a manhã inteira. Dentro de pouquíssimos minutos dentro do carro já dava pra ver de longe o CT, e não é necessário ser nenhum vidente para imaginar que o menino logo se empolgou. Chegamos ao local tão desejado. A atenção foi total e em questão de segundos estávamos com o treinamento tático dos atletas à vista.

Ah, a ansiedade... (Foto: Renê Saba)
Ah, a ansiedade... (Foto: Renê Saba)

Pedro parecia não acreditar. Corria de um lado pro outro e se manteve inquieto, mas sempre direcionado para os jogadores no centro do gramado. De início, não viu Cássio, mas somente os demais atletas realizando o treinamento em campos separados entre titulares e reservas. Obviamente que ele teria que aguardar o fim do trabalho para tentar correr atrás de seu ídolo, mas a impaciência tomou conta do garoto. Tomou a minha também. Não cabia dentro de mim a ansiedade para ver a cena projetada na minha cabeça durante uma semana.

Mas tivemos que esperar. Entre choros, batidas de pé e alguns gritos, Cássio surgiu em direção ao campo principal para participar de um coletivo. A tensão só aumentava. Em pouco tempo, alguns jogadores começaram a passar para tirar fotos. Danilo, Mateus Vital, Pedrinho... mas e o Cássio? A tensão só aumentava... Até que de longe vi o ídolo do Pedro tirando as luvas e seguindo ao banco dar aquela hidratada, havia esquecido de dizer, que baita sol fazia na capital paulista, hein? Mas nada disso importava. Pedro estava há poucos metros de seu sonho. Podia cair o mundo ali que ele estaria focado apenas em ver Cássio.

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O sonho! (Foto: Renê Saba)
O sonho! (Foto: Renê Saba)

Pedro então começou a entoar os gritos com o nome de sua maior referência. Cássio olhou para ele e fez um sinal como quem dissesse que já estava indo. Meu Deus, iria acontecer! O goleiro de quase dois metros de altura foi se aproximando de Pedro. E que caminhada lenta. Eu conseguia sentir os milésimos de cada instante daquela cena. Imagina como estava Pedro então? Mas aconteceu.

Cássio estava ao lado de Pedro. Ídolo e fã. Juntos. Eu não sabia se falava que o Pedro era o fã número um dele; ou mirava a câmera pra sacar a melhor foto possível; se olhava para o sorriso de orelha a orelha dos dois que pareciam melhores amigos; enfim, acho que a concentração mesmo foi em segurar as lágrimas que teimavam em sair dos meus olhos. 

Cássio foi literalmente gigante. A atenção do goleiro com Pedro cativou a todos, e aquele curto momento de afeto parece ter durado horas. Poucas palavras foram ditas pelos dois, mas o olhar de ambos foi o bastante pra tornar aquilo mais intenso que qualquer conversa. Foi lindo. Mas tudo tem um fim. E o ídolo de Pedro teve de ir embora, na verdade, permaneceu ali por mais alguns minutos para se encontrar com outros fãs.

Mas cá entre nós... o principal já havia lhe visto. Contudo, ele queria mais, e enquanto Cássio atendia outros torcedores Pedro retornou a encontrar seu melhor amigo, indo o abraçar enquanto um casal tirava fotos. Logo após, o jogador se foi para os vestiários de vez. O sonho de Pedro estava realizado!

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Ainda deu tempo do menino 'tietar' outros atletas. Emerson Sheik foi tão atencioso quanto Cássio, e certamente alcançou uma das maiores conquistas de sua carreira: se tornar o segundo jogador mais querido de Pedro. Ah, mas o 'gringo da favela' também promete brigar forte por esta posição, viu? Como foi carismático o turco Kazim. Se esforçando para falar o português, mas se ele falasse até em sua língua nativa Pedro não tiraria aquele sorriso do rosto.

Mas ele foi o último, e o gramado do CT Joaquim Grava ficou vazio. Mas se tinha algo cheio naquele instante era o coração do menino, o meu, o de nossas mães e o de Renê, pois tudo tinha dado certo. 

A felicidade no rosto de Pedro perdurou durante toda a caminhada para fora do CT. Até entrarmos no carro, no caminho até o metrô e no momento em que nos despedimos dele e sua mãe na estação do Brás. Pra falar a verdade, acho que a alegria proporcionada a ele vai durar por um bom tempo. Como 'recompensa' Pedro, peço-lhe apenas uma coisinha, bem simples: lembre-se sempre deste dia, que ele tenha sido senão o melhor, um dos melhores dias da sua vida, pois eu não tenho a menor dúvida que foi um dos meus!

Você pode até agradecer Ele lá em cima, Pedro. Mas o presente foi ele quem nos deu!
Você pode até agradecer Ele lá em cima, Pedro. Mas o presente foi ele quem nos deu!