No dia 29 de Agosto de 1967, há 45 anos, no Estádio Nacional de Santiago do Chile, a 'hinchada' do Racing tirava o grito de campeão da Libertadores do fundo da garganta pela primeira vez na história. Na edição mais longa em termos de jogos do vencedor, o campeão da América veio da capital da Argentina e firmou o 'azul e branco' estampados pelo Racing Club de Avellaneda no cenário esportivo.
 

Formato da Libertadores de 1967

Atualmente, um clube, para ser campeão da Libertadores, pode jogar de 14 a 23 partidas, isso variando de um time que começa diretamente na fase de grupos até uma que inicia na pré-Libertadores, extremo de 23 que nunca ocorreu. Na edição de 1967, o campeão Racing disputou 20 jogos, sendo esta a edição mais longa da história em termos de partidas realizadas pelo vencedor.

O formato atual em nada se assemelha com o da época. Em 1967, a primeira fase contou com 18 times divididos em três grupos. Apenas os dois primeiros de cada conjunto passariam para a fase final, onde também se somaria o Peñarol (que por ser o campeão da edição anterior, entrava somente nas fases finais).

A partir de então, dois novos grupos seriam formados, em que todos se enfrentariam dentro da chave. Os primeiros colocados de cada conjunto se enfrentariam na decisão, a ser disputada em dois jogos com mandos distintos. Em caso de empate, uma terceira partida seria jogada em campo neutro. 

Caminho do Racing

A conquista do Campeonato Argentino em 1966 deu o direito ao Racing de disputar, no ano seguinte, a Copa Libertadores da América. Ao lado do River Plate, o Racing entrava com uma grande pressão para a competição, já que seu maior rival, o Independiente, também da Argentina, havia sido bi-campeão nos anos de 1964 e 1965, enquanto La Academia não havia conquistado nenhum até ali.
 

Treinador Juan José Pizzuti

Nascido em Buenos Aires, Juan José Pizzuti foi um dos grandes nomes e ídolos que passaram pelo Racing. O atacante, que chegou ao clube em 1952, após passagens por Banfield, River e Boca Juniors, foi o segundo maior goleador da história do time argentino. Com 215 partidas disputadas, Pizzutti balançou as redes 118 vezes.

E em 1965, José voltou ao Racing, não como jogador, mas como técnico, e revolucionou a história de 'La Academia'. Com uma passagem brilhante nos anos antecedentes à Libertadores, a equipe de Juan era conhecida como a imbatível 'equipe de José'.  O treinador era considerado revolucionário pois mantinha uma ideologia de não usar jogadores com posições fixas,  o time apresentava um futebol eficiente e dinâmico.

Foram 39 partidas invictas à frente do Racing, conquistando o Campeonato Argentino de 66, a Libertadores de 67 e a Copa Intercontinental no mesmo ano, fazendo com que La Academia se tornasse o primeiro argentino campeão do mundo.

O time titular era composto por:  Agustín Cejas, Roberto Perfumo, João Cardoso (brasileiro), Oscar Martín, Alfio Basile, Nelson Chabay (uruguaio),Norberto Raffo, Juan Carlos Rulli, Juan Carlos Cárdenas, Juan José Rodríguez e Humberto Machio.

Primeira fase

Com 18 países representantes da América do Sul, a primeira fase da Libertadores de 1967 contou com as seguintes equipes:
 

CLUBES

                           PAÍSES

RACING ARGENTINA
RIVER PLATE ARGENTINA
BOLÍVAR BOLÍVIA
31 DE OCTOBRE BOLÍVIA
CRUZEIRO BRASIL
SANTOS BRASIL
UNIVERSIDAD CATÓLICA CHILE
COLO-COLO CHILE
SANTA FÉ COLÔMBIA
INDEPENDIENTE MEDELLÍN COLÔMBIA
BARCELO DE GUAYAQUIL EQUADOR
CERRO PORTEÑO EQUADOR
GUARANI PARAGUAI
UNIVERSITÁRIO PERU
SPORT BOYS PERU
PENÃROL URUGUAI
NACIONAL URUGUAI
DEPORTIVO ITALIA VENEZUELA
DEPORTIVO GALICIA VENEZUELA

Sorteado para o grupo 2, o Racing tinha no seu conjunto River Plate (ARG), Santa Fé (COL), Independiente Medellín (COL), Bolívar (BOL) e 31 de Octobre (BOL). Jogando em Avellaneda, a equipe de José não se intimidou e venceu o River Plate na estreia por 2 a 0, com gols de  Raffo e Maschio. Na altitude de La Paz, a situação não foi tão confortável, e a única derrota na fase de grupos aconteceu por 3 a 0 diante do 31 de Octobre.

Racing e River se enfrentaram na primeira fase (Foto: Divulgação)

Em uma sequência de jogos fora de casa, La Academia acumulou bons resultados. Na Colômbia, venceu o Independiente de Medellín por 2 a 0, novamente com gols de Raffo e Maschio. Na sequência, venceu o Independiente Santa Fé, também na Colômbia, por 2 a 1, com Maschio balançando as redes duas vezes.

Foi aí que aconteceu algo muito marcante. Viajando para Medellín, um temporal atingiu o voo do avião DC-4 da SAM que levava os jogadores até a capital colombiana. A viagem, que duraria no máximo uma hora, estendeu-se além do previsto, causando pânico em todos. 

Com fortes balanços e relatos de uma possível queda livre, recuperada pelo piloto logo em seguida, o avião fez um pouso de emergência. Sobrevivendo a isso, o técnico Juan declarou aos jogadores o seguinte: “Se nos salvamos desta, somos campeões da América e do mundo!”.

Após o susto, O Racing foi até a Bolívia e venceu o Bolívar por 2 a 1, encerrando a participação fora de casa com gols de João Cardoso e Raffo. De volta a Avellaneda, o time apresentou um desempenho espetacular. Venceu o Independiente Medellín por 5 a 2 (Martinoli duas vezes, Rubén Díaz, Basile e Juan Rodríguez). O Independiente Santa Fé também não escapou e foi goleado, 4 a 1, gols marcados por Raffo (duas vezes), Cárdenas e João Cardoso.

As partidas contra os times bolivianos foram 'sem dó nem piedade'. A derrota por 3 a 0 para o 31 de Octobre ainda doía e, por isso, o time deu um 'chocolate' por 6 a 0, no estádio El Cilindro. Parenti, três vezes, Cárdenas, duas, e Perfumo foram os autores dos gols - mesmo placar diante do Bolívar (Cárdenas três gols, Rambert, Rodríguez e Parenti).

Para fechar a primeira fase, o clássico nacional contra o River se repetiu e terminou empatado 0 a 0, encerrando assim a fase de grupos com 17 pontos (oito vitórias, um empate e um derrota), com 29 gols marcados e apenas sete sofridos.

TIME PTS J V E D
RACING 17 10 8 1 1
RIVER PLATE 15 10 6 3 1
SANTA FÉ 8 10 3 2 5
BOLÍVAR 8 10 2 4 4
INDEPENDIENTE MEDELLÍN 7 10 3 1 6
31 DE OCTOBRE 5 10 2 1 7

Segunda fase 

As semifinais também foram divididas em grupos e, novamente, no grupo 2, La Academia iria enfrentar gigantes como River Plate (ARG), Colo Colo (CHI) e Universitario (PER). Abrindo novamente com um clássico, a segunda fase contou com um Racing x River muito equilibrado e outro empate por 0 a 0 foi selado. Já em Lima, o time venceu, com dois gols de Raffo, o Universitário por 2 a 1, perdendo na partida de volta pelo mesmo placar.
 
Contra o Colo Colo, a situação foi mais fácil. No jogo da ida, no Chile, o placar final foi de 2 a 0, com Raffo balançando as redes novamente duas vezes. Na volta não foi muito diferente: 3 a 0 com direito a uma bela atuação do único autor dos gols, Juan José Rodriguez. Como a segunda fase ainda tinham grupos, uma partida em campo neutro teve que ser realizada.
 
Racing e Universitário empataram em número de pontos e dessa forma foi decidido quem seria o primeiro do grupo. No Estádio Nacional de Santiago do Chile, La Academia venceu por 2 a 0, com dois gols de Raffo. 
 

Finais 

Faltava pouco para levantar a tão sonhada taça, mas, pela frente, o Racing tinha um adversário de respeito: o Nacional do Uruguai. Na primeira partida, disputada no El Cilindro, em Avellaneda, a partida tomou ares de equilíbrio e terminou em 0 a 0, reservando as emoções para o segundo jogo.
 
No Uruguai e com 80 mil torcedores uruguaios fazendo pressão, o Racing sustentou outro 0 a 0, o que obrigou a disputa de uma terceira partida, novamente em campo neutro. O Estádio Nacional de Santiago do Chile foi o palco escolhido, lugar que já trazia uma carga de boas vitórias ao time. Aos 14 minutos, João Cardoso abriu o placar e, faltando dois minutos para o intervalo, Raffo balançou as redes. 
 
A vantagem de dois gols foi ameaçada quando, faltando 11 minutos para o fim do jogo, Viera descontou para os uruguaios e incendiou a partida. Segurando a pressão do Nacional, o Racing recuou e jogou os minutos finais num 'defesa x ataque'. A estratégia funcionou e, ao apito final, 'La equipó de Jose' soltou o grito de campeão, provando que todo o sofrimento valeu a pena. A América era de La Academia, era azul e branca.
 
Foto: Divulgação

Curiosidades:

Ficha do terceiro jogo da decisão:
 
29 de Agosto de 1967
Estádio Nacional de Santiago, Chile
Árbitro: Rodolfo Pérez Osorio (PAR)
Público: cerca de 50 mil
Gols: João Cardoso 14’, Raffo 43’ e Viera 79’
Racing (ARG) 2 x 1 Nacional (URU)
 
Racing: Cejas, Perfumo, Basile, Martín e Mori; Díaz e João Cardoso (Parenti); Rulli, Raffo, Cárdenas e Maschio. Técnico: Juan José Pizzuti.
 
Nacional: Domínguez, Manicera, Álvarez, Ubiña e Castillo; Mujica e Espárrago; Viera, Celio, Morales (Oyarbide) e Urruzmendi. Técnico: Washington Erchemandi.
 
- Ao todo, foram 14 vitórias, 4 derrotas e 2 empates do Racing, que marcou 44 gols e sofreu apenas 14
 
- Noberto Raffo foi o artilheiro, com 14 gols