A rivalidade entre Flamengo e Botafogo começou a se acirrar na segunda metade dos anos 2000. Depois de ser campeão carioca sobre o Alvinegro, com um gol mal anulado de Dodô em 2007, as duas equipes voltaram a se enfrentar em duelos decisivos no ano seguinte. O primeiro deles foi na Taça Guanabara, vencida pelo Fla por 2 a 1, que deu a vaga à equipe da Gávea na final do Carioca e marcou um episódio lembrado até hoje nas zoações entre torcidas.

As duas equipes chegavam ao Estadual daquele ano em situações diferentes. O Flamengo vinha de uma heroica classificação à Copa Libertadores, depois de uma arrancada, na qual o rubro-negro saiu da vice-lanterna ao terceiro lugar do Brasileirão em um turno. Por outro lado, o Botafogo tentava remontar o 'Carrossel Alvinegro', que fizera sucesso com Cuca no ano anterior, com um belo futebol, mas que caiu de produção na reta final do Brasileiro e ficou de mãos abanando, perdendo o título e vendo seu maior rival garantir classificação para a Libertadores.

O Alvinegro via a final da Taça Guanabara como uma vingança pela injustiça ocorrida no ano anterior. Após ser destaque na vitória sobre o Fluminense na semifinal, Wellington Paulista deu aos botafoguenses a sensação que tudo seria diferente aquele dia, ao fazer fila na defesa rubro-negra e bater cruzado para fazer 1 a 0 para o Botafogo ainda no primeiro tempo.

Porém, no segundo tempo, a chuva que começou a cair no Maracanã era um indício que as coisas iriam virar no campo também. Aos 15 minutos, o zagueiro argentino Alexis Ferrero puxou Fabio Luciano dentro da área. Sob protestos dos alvinegros, o árbitro Marcelo de Lima Henrique (o mesmo que irá apitar a semifinal desta quarta-feira) marcou pênalti. Ibson cobrou com perfeição para empatar a partida. Na comemoração, o atacante Souza foi buscar a bola dentro do gol e se envolveu numa grande confusão com jogadores alvinegros. O ábitro mostrou o cartão vermelho para o atacante rubro-negro e para o meia Zé Carlos, do Botafogo.

O Flamengo partiu para cima e quase empatou, com Juan, em bola salva pelo zagueiro Edson. Logo depois, Lúcio Flávio levou o segundo amarelo e foi expulso. Com um a mais, o gol da virada sairia aos 46 e de contra-ataque. Após escanteio mal cobrado, a equipe, ao melhor estilo Joel Santana, trabalhou uma bela jogada de contragolpe, que terminou com um chute de curva de Diego Tardelli, sem chance de defesa para Castillo, para delírio da massa rubro-negra. Ainda assim, o grito de "é campeão" só saiu com tranquilidade no apito final. Isso porque, no último lance do jogo, o Botafogo ainda colocou uma bola na trave de Bruno.

Após a partida, os jogadores alvinegros compareceram aos prantos à entrevista coletiva dada pelo treinador Cuca e pelo então presidente Bebeto de Freitas. Três dias depois, após marcar contra o Cienciano pela Libertadores, o atacante Souza comemorou fingindo que estava chorando, no gesto que ficou marcado como "chororô". A torcida do Flamengo também criou uma música ironizando o protesto dos botafoguenses.

Dez anos depois, o chororô voltou a ser polêmica entre os dois clubes. Ao fazer o terceiro gol rubro-negro na semifinal da Taça Guanabara, Vinícius Jr. lembrou o gesto do Caveirão, causando um incidente diplomático entre Fla e Bota. Após a eliminação, o Alvinegro se recusou a ceder o Estádio Nilton Santos para a final da competição, por considerar a comemoração do jovem desrespeitosa.