Para quem baseava esse clássico somente no contexto recente de Cruzeiro e Atlético-MG se surpreendeu muito e viu uma partida completamente fora do script. Se na semana que antecedeu a partida havia de um lado um Galo completamente abatido pela sua difícil situação na Copa Libertadores, vindo de dois jogos abaixo da crítica e com seu treinador recém-demitido, do outro lado era a Raposa o grande favorito no papel pelo futebol vistoso e vertical que vinha apresentando.

Mas, como o lendário dito do “clássico é clássico” nunca sai de moda, ambos os times sabiam que o jogos tinha de tudo para ser decidido única e exclusivamente dentro de campo, ignorando-se todas as previsões de fora das quatro linhas.

Dado o apito inicial, imaginava-se que a equipe celeste começaria pressionando seu rival, reduzindo os espaços e subindo sua linha de defesa, mas não foi bem isso que aconteceu. A primeira metade do primeiro tempo foi bem difícil de digerir para quem a acompanhou. Os dois tentavam valorizar a posse da bola quando a tinham e eram bem tímidas para infiltrar e tentar o ataque. Os melhores lances iniciais aconteceram após bolas pingadas em direção à área e após remotos chutes de média distância.

O Atlético-MG esteve completamente deficiente pelo lado direito do campo, já que o lateral-direito Guga ficou perdido em grande parte do jogo e viu Marquinhos Gabriel usar seu corredor em várias situações e agredir seu time por diversas oportunidades por ali. Do lado do Cruzeiro, Rodriguinho e Robinho estavam identificáveis e erraram uma série de passes determinantes na intermediária, em grande parte das vezes cedendo o contra-ataque para o Atlético.

Após a saída de Cazares, por lesão, Vinícius foi outro que falhou muito nas transições de bola e ao tentar viradas de jogo sem necessidade. Ricardo Oliveira foi praticamente anulado na primeira etapa.

Justamente quando o time alvinegro era levemente superior na partida, Fred encontrou Marquinhos Gabriel - novamente livre nas costas de Guga - para o ponta esquerda chutar da entrada da área e contar com o desvio na perna de Léo Silva para abrir o placar para o Cruzeiro. No início da jogada, Adílson e Fábio Santos apenas olharam o camisa 9 do Cruzeiro trabalhar a bola antes de dar a assistência para o gol.

Após um primeiro tempo bem parelho e fraco tecnicamente, Cruzeiro e Atlético-MG retornaram para o vestiário sabendo que haviam feito 45 minutos bem aquém do que era esperado, principalmente para o time da casa. Apesar do gol feito nos minutos finais, o placar entregue no intervalo não representou exatamente o que foi visto dentro de campo.

Se o primeiro tempo deixou a desejar no quesito intensidade, isso foi claramente compensado na segunda etapa. Precisando partir para cima já que não poderia mais sustentar a vantagem do empate “debaixo dos braços”, o Atlético mostrou bem mais empenho nas jogadas coletivas e errou muito menos passes no reinício do jogo. Os primeiros 15 minutos de segundo tempo foram totalmente desastrosos para Dedé, que viu Ricardo Oliveira desperdiçar uma oportunidade cara a cara com Fábio por uma falha individual e, logo em seguida, falhou novamente ao errar o bote em Chará na jogada do gol de empate atleticano, marcado pelo Pastor.

O Galo até chegou a engatar uma possibilidade real de virada após melhorar visivelmente seu futebol com o empate, mas, em mais uma jogada de bola parada, Léo aproveitou a sobra na área do Alvinegro e deixou a Raposa novamente em vantagem. Foi aí que entrou em cena o VAR e as polêmicas da partida, para ambos os clubes. As grande intervenção no qual foi exigido foi correta, depois que a arbitragem anulou o gol de Fred, que resvalou de mão para marcar aquele que seria o terceiro gol do time celeste na partida.

Mas a queixa atleticana fica por conta da jogada do segundo gol cruzeirense, quando, na origem do lance em que foi assinalado o escanteio para a equipe celeste, o último a tocar na bola teria sido Marquinhos Gabriel. Nesse tipo de lance, entretanto, o VAR não pode intervir, já que é de uma jogada anterior ao gol. Rafinha e Adílson ainda foram corretamente expulsos no final do jogo, após se envolverem em uma jogada em que ambos os jogadores foram com o pé levantado em direção à bola.

No que é referente aos treinadores, Mano foi preciso em suas substituições. Rodriguinho e Robinho, que estavam muito mal na partida, deram lugar ao estreante Pedro Rocha e a Rafinha. Romero, que estava amarelado, saiu para a entrada de Cabral. De alguma forma as trocas surtiram efeito para o time celeste, mesmo com o pouco tempo de jogo em que Rafinha ficou dentro de campo. No Atlético, Rodrigo Santana fez o que pode após duas perdas por lesões precoces (Cazares e Luan), bem correspondidas por Vinícius e Geuvânio, que aceleraram a partida.

O jogo foi marcado por (mais) uma atuação excepcional de Marquinhos Gabriel que, "deitando e rolando" do lado de Guga, fez a diferença para a vitória do Cruzeiro. Adílson, em contrapartida, marcou o oposto do que produziu o meia cruzeirense e foi preponderante para várias jogadas de ataque do rival que iniciaram-se após seus erros de passe. Com o que teve em mãos em pouquíssimo tempo hábil, Rodrigo Santana pode tirar boas lições do jogo, principalmente no segundo tempo, quando o Atlético apostou mais na raça que na própria técnica.

O Cruzeiro variou muito seu estilo de jogo se comparado às últimas partidas do clube. As jogadas pelo meio simplesmente não funcionaram - muito por conta das péssimas atuações de Robinho e Rodriguinho - e as jogadas aéreas prevaleceram, apesar dos laterais cruzeirenses terem produzido muito pouco ofensivamente. Por tratar-se de um clássico, tudo isso é bastante compreensível, já que o teórico é apenas um mísero detalhe com o que pode acontecer após as equipes entrarem dentro de campo.

Ainda faltam 90 minutos que certamente serão de muita emoção para os dois lados e terão um cenário bem diferente desse que foi visto hoje no Mineirão. Precisando da vantagem de um gol de diferença, o Atlético precisará de um choque tático para corrigir seus erros e ir com tudo para cima jogando na frente de seu torcedor. O que pode ocorrer só será possível saber na semana que vem.

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