No início de 2018, o Bahia colocou em prática um dos projetos de campanha do presidente Guilherme Bellintani. Em virtude do calendário extenso do futebol brasileiro, o clube deu início ao projeto do Time de Aspirantes, formado por atletas com idade até 23 anos. No primeiro momento, esta equipe foi responsável por dar um desafogo ao time principal do Tricolor, que, à época, disputaria cinco competições na temporada (Baianão, Copa do Nordeste, Copa do Brasil, Copa Sul-Americana e Série A) e acabou atuando em algumas partidas do campeonato estadual.

Além disso, a equipe de Transição, como é chamada no Fazendão, tem outro importante compromisso que é a disputa do Campeonato Brasileiro de Aspirantes. Foi nesta competição que se destacou o volante Gregore, por exemplo — naquela época pelo Santos, e hoje titular absoluto do time principal do Esquadrão. Na temporada passada, o Bahia Sub-23 foi comandado por Cláudio Prates e caiu de forma precoce no campeonato nacional, tendo realizado oito partidas — dois triunfos, três empates e três derrotas. A equipe terminou na quinta posição no Grupo B, com um aproveitamento de 37%.

Para esta temporada, o clube apostou em um perfil com certa experiência tanto com os atletas jovens, como também em equipes profissionais. Trata-se do técnico Dado Cavalcanti, de 38 anos, que já comandou equipes como Santa Cruz, Náutico e Paysandu. Seu último trabalho antes de chegar ao Bahia foi na temporada anterior, onde comandou o Paraná na Série A.

Mas qual foi o motivo que levou um treinador que, mesmo jovem e possuir experiência em equipes profissionais, aceitar comandar a equipe baiana? Para entender isso e muito mais, batemos um papo com o professor para entender este novo desafio na sua carreira.

Foto: Felipe Oliveira / EC Bahia
Foto: Felipe Oliveira / EC Bahia

VAVEL Brasil: Em primeiro lugar, o que o motivou a aceitar o convite para treinar a equipe de Transição do Bahia, mesmo tendo currículo e mercado para treinar equipes profissionais do futebol brasileiro?

Dado Cavalcanti: Primeiro pela oportunidade de realizar um trabalho autônomo com início, meio e fim. Já que nos últimos anos, o imediatismo no futebol vinha dificultando tal “façanha”. Depois, carrego comigo uma satisfação pessoal em contribuir com o crescimento na carreira de jovens atletas. Em todos os clubes por onde passei, sempre executei bem esse trabalho de revelar atletas mais jovens e colocá-los pra jogar no time profissional.

E, por último, essa vivência com um grupo de jovens profissionais me trará uma experiência de entender melhor como pensam, agem e se comportam melhor os jovens da atualidade. Pois trazem consigo particularidades diferentes como exemplo de vida ativa em redes sociais, “mimos” e “paparicos” de empresários, frustrações familiares, que são responsáveis indiretamente pelo rendimento e sucesso em campo.

Em relação às expectativas que o clube lhe ofertou, no que diz respeito a estrutura de trabalho, elas estão sendo correspondidas?

Diferente de outras equipes do Brasil, que possuem seu vínculo com a base, o time de Transição do Bahia utiliza da mesma estrutura que a equipe Principal. Temos os mesmos fisioterapeutas, fisiologistas e nutricionistas. A equipe de apoio é a mesma com roupeiros, massagistas e utilizamos o mesmo espaço como vestiário, rouparia e refeitório. Apenas utilizamos do turno contrário para não sobrecarregarmos os profissionais do clube. Possuo uma comissão fixa com meu auxiliar Pedro Gama, o preparador físico Vítor Gonçalves e o preparador de goleiros Daniel Crizel.

Foto: Lucas Oliveira / EC Bahia
Foto: Lucas Oliveira / EC Bahia

Sabendo que o projeto do time Sub-23 foi implantado recentemente no Bahia, qual foi o objetivo traçado entre comissão técnica e diretoria para este Campeonato de Aspirantes? Até então, vocês fazem uma campanha muito sólida na competição. Segundo lugar do Grupo A na primeira fase, com 16 pontos e, até então, estão na segunda posição também no Grupo A da segunda fase, ou seja, na zona de classificação para as semifinais. O título é, de fato, um objetivo?

Sou sabedor que falando de Bahia, sempre se espera títulos, porém, o Brasileiro de aspirantes é apenas o meio do projeto. Iniciamos com a formação da equipe que foi muito importante. Utilizamos vários jogadores do clube que não jogavam há algum tempo e trouxemos novos atletas até chegar ao que temos hoje.

O Campeonato serve de amadurecimento para eles e na condição que estamos, vamos buscar o título, porém o mais importante é possuir, hoje, uma equipe competitiva, que possa trazer desafogo para o calendário do Bahia, no início do ano de 2020. Esse seria o objetivo final.

Como é a comunicação entre a comissão técnica da equipe profissional e da equipe de transição? Roger Machado acompanha os treinos do time de transição e vice-versa?

Na loucura de jogos e viagens da Série “A” fica inviável a presença física, mas o contato é muito próximo, até por usarmos o mesmo espaço e os mesmos profissionais. O Roberto, que é auxiliar do Roger, está sempre em todos os jogos e o Cláudio Prates que é auxiliar da casa acompanha mais os treinamentos, já que não viaja tanto com a delegação. Por outro lado, O Pedro Gama e eu temos mais tempo livre, estamos em todos os jogos do Bahia na Fonte Nova e em alguns treinamentos no Fazendão conversando sempre com o Roger e a comissão principal.

"Mesmo que o Caíque, nosso atacante de 19 anos, se destaque na equipe de transição, nós sabemos que será difícil ele jogar hoje (na equipe principal) pela concorrência."

Em relação à maturidade, quais os jogadores que você enxerga na sua equipe com maior preparo para ter uma chance no elenco de Roger Machado?

Existem alguns jogadores mais preparados do que outros no grupo, porém, o que vai definir a ida do atleta ao principal será muito mais a necessidade do Roger do que outra coisa.

Vou citar um exemplo: o Bahia possui dois excelentes atacantes em nível nacional, que são Gilberto e Fernandão. Mesmo que o Caíque, nosso atacante de 19 anos, se destaque na equipe de transição, nós sabemos que será difícil ele jogar hoje pela concorrência. Estamos trabalhando para que um dia o Caíque jogue no Bahia e não necessariamente esse ano.

Foto: Lucas Oliveira / EC Bahia
Foto: Lucas Oliveira / EC Bahia

Quais as suas projeções para o futuro da sua carreira?

Tenho contrato com o Bahia até 30 de abril de 2020, quando encerro o meu vínculo e o projeto com a equipe de transição. Estou usando esse tempo para experimentar, viver e aprender coisas novas, ao mesmo tempo em que estou produzindo conhecimento e trabalho. Penso que esse período está sendo e será importantíssimo pra minha carreira. Após isso, irei me recolocar no cenário profissional usufruindo dos ensinamentos diferentes obtidos nesse período.

Mesmo não tendo traçado o título do Brasileiro de Aspirantes como meta inicial e sim o amadurecimento dos atletas para dar mais tempo de trabalho ao elenco principal do clube, a equipe de Transição tem feito um trabalho consistente. E, como pontuou Dado na entrevista, agora pensa em avançar às finais por já ter alcançado a segunda fase.

O próximo compromisso de Dado Cavalcanti à frente do Time de Transição será na próxima quinta-feira (8), às 15h (horário de Brasília), onde enfrenta o líder Grêmio em jogo válido pela terceira rodada da segunda fase da competição. Em caso de triunfo no duelo de tricolores, a equipe baiana ultrapassa os gaúchos e assume a liderança do Grupo B.