Difícil desconhecer Rogério Ceni enquanto atleta, difícil desconhecê-lo, ainda mais, sendo cruzeirense. Em meio a vários confrontos, Cruzeiro e Ceni tiveram páginas marcantes no que se refere à decisão por títulos, interrupção de sonho de última Libertadores e Fábio como sendo maior vítima do, agora, treinador. Maior goleiro artilheiro da história, se faz desnecessário apresentá-lo como goleiro, logo ele, tão peculiar para sua posição.

E como técnico? Estando apenas em seu terceiro ano como profissional, muitos torcedores ainda desconhecem de suas características e, consequentemente, se questionam: o perfil do elenco celeste combina com sua ideologia?

Não há dúvidas: o Cruzeiro já passa por um profundo processo de modificação em seu método de trabalho, isso implica em mudanças no campo futebolístico e de uma adaptação por parte dos jogadores. A complexidade e cuidado desse processo é devido a uma filosofia implantada e clara, liderada pelo então comandante Mano Menezes. Certamente, Rogério Ceni não representa a postura passiva que prevaleceu na equipe por 3 anos e 12 meses, que obtinha a defesa - de defensivos e ofensivos - como papel central.

O que esperar do treinador Rogério Ceni 

Atendo-se, apenas, a seu último e vitorioso trabalho frente ao Fortaleza, equipe que deu condição para que o técnico se estruturasse e relevasse sua identidade, se viu um time que tinha como principal característica a posse de bola - tanto na Copa do Nordeste quanto na Série B, o time cearense foi líder nesse quesito. Para além disso, essa posse era produzida com muita qualidade e um alto índice de acerto de passes.

Não bastava estar com a pelota, mas, a ganância pelo gol era notória com seu esquema tático ousado, que continha incríveis quatro atacantes à frente e uma profundidade pelos lados do campo com os pontas.  

O Fortaleza de Ceni obteve seu ápice com o esquema 4-2-4, no entanto, sem a bola, migrava-se para o 4-4-2, quando fechava duas linhas de quatro, com participação de dois do quarteto ofensivo na última linha e uma dupla mais avançada. Ao propor o jogo, era possível enxergar um time vertical, que não apenas tinha forte presença de jogadores ofensivos, mas também dos laterais. Nesse sentido, devemos ver um Cruzeiro que tentará muitos cruzamentos, pois no seu antigo trabalho essa insistência de jogadas pelos lados originava-se em fortes bolas aéreas para Gustagol, que se tornou artilheiro da Série B e adquiriu muito sucesso sob trabalho do comandante.

Veja os feitos conquistados nas principais competições que disputou e ganhou:

Na Copa do Nordeste:

- Equipe com maior posse de bola (55,1%)
- Maior acerto de passes (91,6%)
- Coletividade nas finalizações (80%)

 

 

Na Série B

Equipe com maior posse de bola (56,7%)
Maior acerto de passes (90,5 %)
Coletividade nas finalizações (80%)

 

 

Dados do Footstats

Quando se parte do pressuposto de uma constante presença de camisas 9 em seus trabalhos, e Gustavo como sendo grande sucesso no Fortaleza, propõe aos cruzeirenses uma curiosidade: será possível recuperar Fred, vivendo seu maior jejum da carreira?

O perfil do elenco celeste

Muito se diz em terras cearenses, que a recorrência a quatro atacantes foi devido a ausência de um camisa 10, o que não falta na Raposa. Ao tomar como parâmetro todas as características ditas anteriormente, é possível enxergar um futuro Cruzeiro veloz, usufruindo da velocidade proporcionada por Pedro Rocha, além de claro, um forte envolvimento com a bola e constante troca de passes. Aquele quarteto dos sonhos, de início de temporada (Rodriguinho, Thiago Neves, Robinho e Fred), não é compatível com a ideologia apresentada, tendo em vista a lentidão dos três meias e um centroavante mais fixo – apesar deste último ser peça fundamental para ele.

Fred está há 16 partidas sem balançar as redes (Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro)
Fred está há 16 partidas sem balançar as redes (Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro)

Junto ao trabalho técnico, a motivação será essencial para que Ceni resgate a qualidade comprovada que os jogadores celestes têm. O Cruzeiro conta com um elenco farto, principalmente do meio para frente, de mais prestígio e qualidade aos do time cearense, aonde o treinador conseguiu uma eficiência de jogadas ofensivas em 80% na Série B. Sua capacidade, portanto, foi mostrada através de um um material humano inferior. Agora, jogadores como Rodriguinho, Pedro Rocha e Marquinhos Gabriel, novidades deste ano, que agregam a outros excelentes nomes como Thiago Neves, Robinho e Fred, torna esperançoso que a história seja de final feliz.

Nos primeiros dias de treino, foi visto uma Raposa que treinava muitas finalizações, tido como principal problema do clube, e Rogério, por sua vez, tinha alto índice de acertos de tentos pelo Fortaleza. Ao que tudo indica, se uniu o útil ao agradável, quando se contratou alguém de perfil exato para os problemas celestes e a oportunidade do ainda novo na profissão elevar de patamar.

No próximo domingo (18), Rogério Ceni faz sua estreia pelo Cruzeiro, em partida válida pela 15ª rodada do Campeonato Brasileiro,  contra o Santos, 16h, no Mineirão, dando a início a uma nova era por Belo Horizonte.