Sinval também conheceu Dener nas categorias de base da Portuguesa. Ele fez parte da histórica equipe sub-20 da Lusa de 1991, campeã da Copa São Paulo de Futebol Júnior. O atacante também teve passagem marcante pelo Botafogo, onde foi artilheiro e campeão da Copa CONMEBOL DE 1993.

O jogador relembrou da amizade sua amizade com o Dener desde os juniores da Lusa. Sinval falou sobre as dificuldades dos dois no início da carreira, bastidores inéditos da equipe campeã da Copa São Paulo, suas expectativas para o futuro do Cometa Brasileiro e muito mais.

Confira a entrevista exclusiva com Sinval na íntegra:

VAVEL Brasil: Como e quando você conheceu o Dener? 

Sinval: Eu cheguei na Portuguesa em 1988, vindo do Juventus da Mooca. Aquele ano foi bem conturbado para o Dener, porque nós ganhávamos o equivalente a 200 reais hoje. Ele jogava muito bem no futebol de salão, que estava no auge, e pagava o equivalente a cinco mil reais. Então, o Dener era um vai e volta, ele sumia uns dois ou três meses e o diretor ia lá para buscá-lo. Dener tinha problemas extra-campos, ele morava na Vila Ede, um bairro pobre de São Paulo, e tinha amizades ruins. O Dener se conscientizou que no futebol de salão era momento e o campo proporciona mais estabilidade. Então, ele começou fazer as coisas certas. E minha amizade com ele foi fantástica.

VAVEL Brasil: Quando se fala no Dener, a maioria lembra dele pelos seus dribles e pelos gols dentro de campo. O estilo de jogo dele era um futebol alegre com a famosa ginga brasileira. Mas, e pra você que conviveu com o Dener desde as categorias de base, como era a pessoa, o cidadão Dener fora das quatro linhas? Você poderia falar um pouco mais da sua amizade com ele? 

Sinval: Quando eu cheguei na Portuguesa, eles estavam entrosados e eu, como atacante, precisava dar carrinho para recuperar a bola, quando ele e o Tico perdiam a bola, e entregava para eles, mesmo eu sendo centroavante. A partir disso, eu consegui ter a confiança deles. Eu entrei para a panela deles e começamos a fazer uma amizade boa fora de campo. Nós passávamos perrengues, não tínhamos dinheiro para nada. Eu sou do interior do estado (de São Paulo) e foi o Dener quem me fez conhecer o centro de São Paulo, onde tinha a malandragem, o ladrão, as pessoas honestas, como se comportar com os policiais. Nós ficamos muitas vezes parados na Marginal por falta de gasolina no carro. Quando nós começamos a fazer gols, passamos a ser chamados para ir nos programas. Mas, nós não tínhamos roupas, então emprestávamos roupas, como blazer etc. Também começamos a rachar comida. A gente fez um amizade muito boa e fluía dentro de campo também. Nós tínhamos o sonho e o talento.

VAVEL Brasil: Você poderia contar alguma história engraçada de bastidor para contar sobre o Dener?

Sinval:

Arte: Breno Astolfi, Luísa Pessoa e Luca Reverdy; Edição: Isabella Molina

VAVEL Brasil: Muito se especulava que o Dener já estaria pronto para a Copa do Mundo de 1994. Você, que acompanhou ele tão de perto, acha que ele já estaria pronto?

Sinval: O momento dele era muito bom em 1994. Eu não sei se ele ia estar estruturado psicologicamente para isso, porque ia ser um baque muito grande. Quando ele mudou para o Rio de Janeiro, já foi uma mudança radical na vida dele, principalmente pelas amizades. Ele fazia novos amigos muito fácil e eram amizades tanto pro lado do bem quanto pro lado ruim. Ele fez amizades boas, como pessoais globais etc, mas também fez amizades ruins. Então, ia ser um choque, mas para jogar ele estava pronto, posso te garantir de olhos fechados. Nas convocações de 1991 com o Falcão, ele já tinha ido muito bem. O próprio Maradona tinha aplaudido ele. Ele ia ser como o Kaká, o Ronaldo, ou seja, uma grata surpresa para a gente.

VAVEL Brasil: Hoje, muito se compara o Dener com Neymar e Robinho. Muito pelo estilo de jogo de sempre partir pra cima do adversário, sem medo, buscando o drible. O que você acha dessa comparação?

Sinval: Eu vejo o Dener mais veloz e objetivo do que eles. Eu comento que o Dener não driblava, ele desviava por ele ser muito rápido. Eu acho que se ele tivesse uma carreira mais longa e não se atrapalhasse com o extra-campo, o Dener seria melhor que Neymar e Robinho. O pouco que eu vi, o Dener era melhor.

VAVEL Brasil: Você fazia a dupla de ataque com o Dener nas categorias de base. Em alguma entrevistas, você já reclamou, claro de maneira descontraída, que o Dener não passava a bola. Você poderia falar um pouco mais sobre isso, por favor?

Sinval: Na época de juniores, nosso time era muito bom. Nós não tínhamos a disciplina e éramos muito individualistas. Chegou a um ponto de, em um coletivo, o Dener estar driblando com a bola e eu, da mesma equipe, tomei a bola dele, porque ele não passava. Na chegada do Écio Pasca, nosso treinador nos juniores, nós fomos jogar um coletivo. Após dez minutos, ele parou e mandou todo mundo ir embora. O treinador disse que ‘enquanto vocês não tiverem respeito e não aprenderem a jogar em coletivo, vocês vão embora’ e nós respondemos ‘não, quem vai embora aqui é você’, nós éramos impossíveis. No outro dia foram 15 minutos, depois 20, até a gente aceitar que nós tínhamos que ser coletivos e respeitosos. E nós fizemos um acordo entre nós para não reclamarmos de outro atleta. Um dia, o Écio fez um time inicial com onze jogadores e disse que aquele (time) iria iniciar. Ele perguntou para oito desse time se eles estavam dispostos a carregar o piano, todos se assustaram. Ele explicou que eles iam ser responsáveis pela sustentação do sucesso da equipe, porque haviam dois jogadores (Tico e Dener) que eram os craques. Os dois iam tocar o piano e o resto ia carregar. Ele apontou para mim e disse que eu era o decisivo, porque dentro da área não havia ninguém mais especialista, seja por cima ou por baixo. E aqueles dois jogadores iam criar as jogadas para mim. Ainda acrescentou que se eu saísse da área, ia me tirar do campo na mesma hora, pois eu atrapalhava o time fora da área, já que a bola batia na minha canela. E a equipe aceitou essa ideia de carregar o piano e nós três (Sinval, Tico e Dener) tocávamos o piano.

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