Desde o início dessa trilogia, foi proposto nessas reportagens um novo apelido ao Dener: o Cometa Brasileiro. Os motivos foram as semelhanças entre o jogador e os astro. Os dois são rápidos, brilhantes e atraem olhares de admiradores. Contudo, há também uma triste coincidência: o cometa, como corpo espacial, tem como direção final o Sol, onde se desintegra. E o nosso cometa também encontrou a luz da eternidade.

No dia 18 de abril de 1994, Dener sofreu um acidente de carro fatal na Lagoa Rodrigo de Freitas quando retornava à sua casa. O jogador havia se reunido em São Paulo com dirigentes da Portuguesa para sacramentar a sua transferência para o VfB Stuttgart, da Alemanha.

Essa data ficou marcada na história do nosso futebol, infelizmente por um motivo triste. Torcedores de Vasco, Grêmio e Portuguesa lembram onde estavam e como reagiram à notícia. Na realidade, todos os brasileiros amantes de futebol devem se recordar daquele dia.

O meia-atacante nunca mais desfilaria em algum gramado. No entanto, o seu brilho continua vivo na memória de apaixonados por futebol. Dener é admirado e lembrado por torcedores de todos os clubes, rompendo com uma das maiores fronteiras do esporte moderno: o clubismo. Poucos são capazes de quebrar essa barreira. Com seu futebol alegre, irreverente e até raíz, o Cometa Brasileiro está na galeria de grandes jogadores da história. 

Com a magia nos pés, Dener parecia um menino jogando no meio de adultos. Seus dribles, arrancadas e gols brilhantes pareciam jogadas imaginárias no pensamento fértil das crianças. Mas, era tudo real e está documentado para a eternidade. 

Entre suas jogadas incríveis, uma se destaca. Nem a mais criativa mente poderia imaginá-la. Para a felicidade dos admiradores do futebol, essa verdadeira obra de arte, com toques de habilidade e malandragem, está gravada e descrita por uma voz mítica do jornalismo brasileiro. Veja abaixo:

Busquei as melhores palavras para descrever essa obra-prima. Mas, admito que falhei. Particularmente, considero esse gol inenarrável. Então, deixamos a difícil tarefa de comentar essa arte para quem conseguiu narrá-la. Confira aqui o relato de Silvio Luiz, uma lenda viva da narração brasileira 

Começamos a trilogia pedindo para você participar de um jogo de adivinhação. Peço agora para terminarmos essa matéria com outro, mas agora de imaginação. Embarque nessa realidade paralela comigo: e se o Dener não tivesse partido da Terra?

Parece meio loucura, admito. Porém, pense aquele jogador com tal ginga na Seleção. Pense em Dener, Bebeto e Romário em 1994. Pense em Dener e Ronaldo em 1998. Pense em Dener, Ronaldo e Rivaldo em 2002. E quem sabe, Dener, com seus 35 anos, e o quadrado mágico de 2006. Estaríamos hoje em busca de um hepta ou até de um octa? Bem... nunca saberemos.

E em clubes? Será que o “Reizinho” brilharia em mais estádios? Ou até em mais países? Não é segredo que sua ida para o VfB Stuttgart estava acertada antes do acidente. Será que Dener brilharia na Alemanha? Será que ele encantaria os alemães? Será que algum narrador germânico falaria, em uma transmissão, uma famosa frase com a adaptação “lá vem ele de novo” ao reverenciar os dribles do brasileiro? Será que iria para um grande clube europeu? Ou será que retornaria ao Brasil? Infelizmente, também nunca saberemos.

Para embarcar comigo nessa loucura psicológica, convidamos os comentaristas Mario Marra e Mauro Beting para fazer uma análise racional sobre uma hipotética carreira do Dener.

Mário Marra:

Mauro Beting:

 

Arte: Breno Astolfi, Luísa Pessoa e Luca Reverdy; Edição: Isabella Molina

Independente do inevitável “e se ‘isso’ ou ‘aquilo’ tivesse acontecido”, Dener foi um craque. 

Nisso, não há discussão. Ponto. 

O Cometa Halley demora cerca de 75 anos para ser visto da Terra. Já, um Cometa Dener não tem data certa. Entretanto, o que seria um “Cometa Dener”? Simples. Um jogador brasileiro com a ginga, a alegria, a essência do nosso futebol.

As comparações são muitas, principalmente, com jogadores como Neymar, Robinho, Denílson, etc. De fato, é uma boa discussão. E bem polêmica também.

Será que ainda veremos um meia-atacante com as mesma características do Dener? Talvez. Na primeira matéria, conhecemos um menino de dez anos que joga na Portuguesa. Seria Rafael Augusto, neto do cometa, o novo Dener? Eu acho que não. Explico: nenhum jogador vai ser igual ao Dener.

Ninguém vai ser o novo Pelé, o novo Maradona, o novo Dener, o novo Neymar, o novo Messi, o novo Cristiano Ronaldo, etc. Cada jogador tem suas características próprias que o torna especial. É uma injustiça limitar e pragmatizar esse atleta a um ídolo do passado. Além de causar uma pressão desnecessária. Pode comparar estilo de jogo, à vontade. 

Mas voltando ao Rafael, torço também para que ele se torne um craque. Que ele desfile pelos gramados do San Siro com a camisa do Milan. Certamente, Dener ficaria ainda mais orgulhoso do que ele já está com o neto.

Dener, de onde estiver, tem o orgulho de ter uma família maravilhosa, amigos verdadeiros ao seu lado, uma carreira brilhante, apesar de curta, e as inúmeras homenagens que ainda recebe, mesmo após 26 anos da sua morte. E espero, profundamente, que essa trilogia tenha conseguido arrancar um sorriso de você, caro leitor, de todos os envolvidos e também de Dener Augusto de Sousa, o Cometa Brasileiro.

Confira aqui todas as reportagens especiais do nosso Cometa Brasileiro.

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