Desde que falou que o é pago para motivar jogadores, Renato Gaúcho entrou numa ala de rótulos que o desqualifica como técnico estudioso e moderno de futebol e o põe na aba de "técnicos de churrasco", que prezam apenas pelo bom papo. Para gerir um elenco excelente e com bagagem como é o do Flamengo precisa, sim, de tática acima de motivação. E no confronto com o Athletico na Copa do Brasil isso ficou  bem claro.

Obviamente houve os totais méritos do Furacão no Maracanã. Mas, é preciso pôr à luz também que Alberto Valentim não vencia há cinco jogos e já estava na corda bamba por falta de resultados. Agora, depois de ganhar cancha, tem sobrevida no comando curitibano. E foi justamente para esse treinador instável que o elenco milionário e qualificado de Renato se sucumbiu. Para se ter ideia, dos quatro tempos de todo o confronto, o Athletico só não foi superior no primeiro tempo do primeiro jogo, na Arena da Baixada.

Há um mês da finalíssima da Libertadores contra o Palmeiras, Renato Gaúcho agora está no olho do furacão. Depois da maresia e empolgação da chegada, com goleadas e vitórias que despertaram aquele nostálgico Flamengo de 2019, parece que a realidade do velho Portaluppi voltou à tona. Como dito no primeiro parágrafo deste texto, é preciso saber treinar taticamente um elenco. A chegada deu aquele "booom" de ânimo que resgatou a essência ofensiva do time, porém esse ânimo tem prazo de validade. E venceu.

Flamengo de Renato já perdeu a quarta partida no Maracanã: 4 a 0 para o Internacional, 1 a 0 para o Grêmio, 3 a 1 para o Fluminense e agora 3 a 0 Athletico. Se somarmos o placar agregado, o Fla perdeu de 11 a 1 — isso mesmo: marcando apenas um gol.

Falta de variação

Na partida de volta contra o Athletico, no Maracanã, o Flamengo começou com jogadas apoiadas nas laterais e, por incrível que pareça, abusou do "chuveirinho". Foram nove levantamentos em apenas 35 minutos iniciais. Por que isso é de se espantar? Com um elenco qualificado como é esse do Fla, começar uma partida de semifinal de Copa do Brasil alçando bolas na área adversária levanta um tom de desespero e desorientação. Sim, pois quem tem repertório trabalha jogadas de infiltração, de embaralhamento da marcação rival, de levitação de ofensivos, entre outras. Essa variedade não aparece sozinha.

"Se o Grêmio me der R$ 160 milhões para contratar, vou montar uma seleção [...] Respeito a opinião dele [Jorge Jesus], inclusive o Flamengo vem jogando um belo futebol. Mas com aqueles jogadores, é obrigação", disse Renato em 31 de agosto de 2019, quando ainda era técnico gremista e vivia o ápice da rinha com o Mister português que dava aula ao futebol brasileiro de como treinar um time, mostrando inclusive que um elenco robusto de qualidade pode, sim, ganhar dois títulos de alto nível.

Por fim, fica aquela nostalgia do Flamengo de Jorge Jesus que encantou os amantes do bom futebol. Como diria o trecho da música composta por Bruno Caliman e Matheus Santos cantada pelo sertanejo Cristiano Araújo: "o que temos para hoje é saudade".