A derrota por 2 a 0 para o Fluminense na primeira final do Campeonato Carioca acendeu a luz de alerta no Flamengo. Com dez dias de treinamento antes do confronto de ida no Maracanã na noite de quarta-feira (30), a expectativa de muitos era uma boa e eficiente atuação contra o time de Abel Braga. Mas isso não aconteceu.

Foram apenas três chutes a gol da equipe de Paulo Sousa e dez chutes errados. Para efeito de comparação, o Fluminense deu apenas cinco chutes, e quatro desses foram certos, inclusive com dois gols de Cano. Isso deixou nítido o problema de criação. Lembrando que o Mister não contou com Arrascaeta e Bruno Henrique entre os titulares, mas sim com Vitinho pelo meio, Everton Ribeiro pela direita e Marinho pelo meio.

O Flamengo pouco criou, mas também não sofria com o Flu. Durante os primeiros 75 minutos, inclusive, rodada a bola, martelava e retomava a posse. O Tricolor não chegava à área rubro-negra. Até que o jogo mudou aos 81', quando Fabrício Bruno pediu para sair e Léo Pereira entrou.

Com apenas dois minutos em campo, Léo entregou o doce nos pés tricolores. Cano, então, recebeu na diagonal e mandou entre as pernas de Hugo Souza. Dois minutos depois, foi a vez de Arão vacilar. Calegari aproveitou e deixou Cano na boa para fazer 2 a 0. Aí o caixão já estava velado no primeiro jogo.

E aí, Paulo?

Foto: Marcelo Cortes / Flamengo
Foto: Marcelo Cortes / Flamengo

"Sem dúvida fomos muito mal. Taticamente, individualmente e fisicamente. E eu sou o primeiro. As coisas não funcionaram, e o adversário esteve bem melhor. Quisemos acelerar demasiadamente o jogo com poucas situações sobretudo no passe de pouca qualidade. E temos muita qualidade. Estávamos muito distantes nas linhas, o que não nos deixou frescos para dar mais energia na pressão", apontou Paulo Sousa na coletiva pós-jogo.

Ele também falou sobre os erros individuais que decretaram a derrota:

"Depois o jogo tem muito a ver infelizmente com decisões técnicas completamente desfavoráveis. Não foi o que permitimos ao nosso adversário criar. As transições vieram muito por infelicidades dos nossos jogadores."

Primeiro problema: psicológico

Foto: Marcelo Cortes / Flamengo
Foto: Marcelo Cortes / Flamengo

Agora tem um fato importante: após tomar o primeiro gol de Cano, o Flamengo ficou desnorteado. Aí veio o segundo do Fluminense e a maionese desandou de vez. Paulo Sousa não pode deixar o time perder a mão assim, do nada. Isso é trabalho psicológico que precisa ser feito.

Flamengo não fez uma péssima partida num aspecto geral como muitos estão dizendo. Lembre-se que o Flamengo não joga sozinho e existe um adversário do outro lado. Também não pode ser esquecido que é um clássico Fla-Flu, não um duelo normal contra o Bangu.

Repetindo: um dos problemas do Flamengo é o psicológico. Quando Gustavo Henrique estava em má fase ano passado, ele se afundou em falhas. O mesmo aconteceu com Andreas e agora o filme se repete com Léo Pereira. As críticas são muitas — às vezes com razão —, e os jogadores têm que saber lidar com elas. É nesse recorte que o departamento de psicologia precisa ser eficiente.

Segundo problema: jogadores mimados

Foto: Marcelo Cortes / Flamengo
Foto: Marcelo Cortes / Flamengo

Com o passar da adrenalina após o jogo, dois pontos importantes surgem à luz no Flamengo:

1º - Jogadores ainda não foram convencidos da filosofia e estilo do Mister. O que Filipe Luís disse depois da derrota deixou isso nítido: "Nosso time ele consegue chegar, criar chances, mas como falei, talvez não esteja sendo avassalador como a torcida espera, aquela chuva de ocasiões, de chances. Talvez ainda falte um pouco de química nesse sistema, que a gente está encaixando. Mas só o tempo, mais jogos e mais finais para poder reverter, e vir aqui dar entrevista com a cara feliz", disse o zagueiro/lateral.

2º - Jogadores não se esforçam para bancar Paulo Sousa e agarrar as ideias do português. Esses atuais atletas, muitos ainda da base vitoriosa de 2019, viram o topo com um estilo de jogo totalmente diferente. Isso não significa que esse estilo seja o único. Mas os jogadores querem um molde de jogo para eles, não ao contrário, se encaixar na forma dos treinadores. Foi assim com Domènec Torrent, Rogério Ceni, Renato Gaúcho e agora Paulo Sousa.

Alguns atletas como Diego Alves, Éverton Ribeiro Willian Arão, Filipe Luís, Diego Ribas, Bruno Henrique e quem sabe até Gabigol precisam de novos ares, já que não estão se adequando mais ao Flamengo como fizeram num passado recente.

Precisa fazer diferente

Se todo mundo começar a buscar um novo vilão específico, o grande problema do Flamengo será novamente mascarado. A derrota é bem maior que Léo Pereira e Willian Arão. Os jogadores só jogam quando querem. Paulo Sousa não é ruim; o elenco ainda não comprou suas ideias. Aliás, será que o grupo mimado vai comprar as ideias portuguesas de Paulo?

O problema do Flamengo não é com os técnicos — exceto Renato Gaúcho. Domènec Torrent, Rogério Ceni e Paulo Sousa têm plena capacidade de treinar o Rubro-Negro. Por que não dão certo? Resposta: jogadores. Atingiram um nível de comodismo após o ápice de 2019. Esses, infelizmente, contaminam o vestiário e regem a programação da "Rádio Peão".

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