Quando se pensa em um quarterback, normalmente costumamos imaginar na figura de um jogador com vontade de vencer, um legítimo competidor. Se não bastasse contar com essa virtude, Tom Brady, do New England Patriots, ainda carrega algumas tantas qualidades imensuráveis, e, dessa forma, o californiano de San Mateo, pequena cidade a 30km de San Francisco, chega incrivelmente ao seu sexto Super Bowl em quatorze temporadas como titular da equipe, feito inédito por um jogador.

Os passos preliminares

O pequeno fã dos 49ers da NFL e dos Giants da MLB, que ia constantemente a San Francisco ver os jogos dos seus times do coração, não se destacava em nenhum aspecto físico quando criança, e, para muitos de seus parentes e amigos, não tinha "jeito" de atleta. No entanto, mesmo sem possuir essas características a seu favor, o garoto já era premiado com uma das suas peculiaridades presentes até os dias atuais: a dedicação. Cursou o ensino primário na St. Gregory's Elementary School, e lá despertou o interesse pela prática de esportes. Aos 12 anos, Tom, como era carinhosamente chamado por uma de suas professoras, já brincava “de ser Joe Montana” com seus coleguinhas durante recreio.

Época do Colégio

Desde jovem, Brady se esforçava ao máximo para ser consistente até mesmo durante os treinamentos. No seu primeiro ano na Junípero Serra High School, já se destacava como catcher no time de baseball da Escola. Mas sua paixão era o football. Com a lesão do quarterback titular do time de futebol americano do Ensino Médio, Tom, reserva até então, assumiu a posição de passador, encerrando a sua carreira no Colegial com números chamativos: 236 passes completos de 447 tentados (58,2% de acertos), 3.702 jardas lançadas e 31 touchdowns. Seu desempenho apanhando as bolas de baseball e lançando a bola oval rendeu dois grandes convites: O de jogar na Major League Baseball pelo Montreal Expos (atual Washington Nationals) e o de se formar na Universidade de Michigan. Brady optou por aceitar o último e aos 19 anos partiu da Costa Oeste para o Norte estadunidense em busca de um dos seus sonhos: o de se profissionalizar para jogar na National Football League.

Tempos de Wolverine

Ao chegar na University of Michigan, Tom Brady demorou a ganhar espaço em um elenco recheado de bons jogadores, entre eles o seu principal concorrente na posição, Brian Griese, MVP do Rose Bowl de 1997, que viria a ser selecionado pelo Denver Broncos na terceira rodada do Draft de 1998. Foi justamente no ano da saída de Griese que Brady foi escolhido pelo técnico principal Lloyd Carr para ser quarterback titular dos Wolverines. Nos dois primeiros jogos da temporada, foram duas derrotas, para Notre Dame e Syracuse, mas, em compensação, Michigan venceu oito jogos seguidos naquele ano, conquistou a Big Ten Conference e faturou o Citrus Bowl em cima do Arkansas Razorbacks. Assim, Brady finalizou seu primeiro ano na titularidade com 61,9% de seus passes completados e 2.427 jardas lançadas para 14 touchdowns, tendo sofrido 10 interceptações.

Foto: Acervo da Universidade de Michigan/Reprodução

Com um rendimento além do esperado, Brady fez no ano seguinte uma boa temporada pelos Wolverines. Os liderou até o título do Orange Bowl contra Alabama e teve neste jogo uma das melhores aparições da sua carreira na faculdade, passando para 369 jardas e quatro touchdowns. Terminou 1999 com porcentagem de acertos nos passes superior a 60% , lançando para mais TD’s e menos INT’s que na temporada anterior. Assim, animado com sua progressão, o Camisa 10 finalizou a carreira universitária e foi tentar a sorte grande no Draft da NFL de 2000, na esperança de ser chamado por uma das 31 franquias que disputariam a Liga daquele ano. Depois de passar dois dias aguardando ser chamado, Brady foi selecionado na quinta rodada do recrutamento pelo New England Patriots como 199º escolha do geral, após horas de apreensão, temendo não ser escolhido por nenhuma equipe.

Começo na NFL

Chegar como um calouro subestimado não foi fácil para o ex-aluno de Michigan. Embora ‘amargasse’ a 3º opção entre os quarterbacks, Brady não ficou desmotivado, ao contrário, se dedicou ainda mais para aprender todo o Livro de Jogadas e Formações dos Pats, tentar aumentar seu peso, e melhorar sua forma física. A entrega nos treinamentos e as constantes dúvidas tiradas com assistentes e veteranos da equipe fizeram-no se destacar no elenco. Vestindo a camisa 12, Tom estreou profissionalmente na derrota dos Patriots para o Detroit Lions, completando um passe. Naquele ano, New England terminou a temporada com onze derrotas. Drew Bledsoe, quarterback titular da franquia há sete anos, começou a ser questionado, mas foi mantido na formação inicial do time e ganhou uma extensão de contrato de 10 anos da franquia.

Foto: Al Messerschmidt/Getty Images

Buscando esquecer o fiasco do ano anterior, o New England Patriots foi focado para a pré-temporada. Se aproveitando de algumas modificações no roster, Brady passou a ser o reserva, e usou os treinos abertos para ganhar visibilidade com o técnico principal Bill Belichick. Funcionou. Já na partida de estreia com derrota para o Cincinnati Bengals, o nome de Brady já aparecia na relação como QB #2 da esquadra. No entanto, 2001 reservaria muito mais. E ele mal sabia disso.

O nascimento de Brady na NFL e ressurgimento dos Patriots no Mapa

Na semana 2, os Patriots receberam o New York Jets. As defesas predominavam no jogo, o placar estava em 10 a 3 para os visitantes, até que Drew Bledsoe, ao tentar escapar pela sideline para parar o relógio, foi atingido no ombro esquerdo pelo linebacker Mo Lewis. A jogada acabou lesionando Bledsoe e Tom Brady teve de entrar para o jogo, dando de cara com um drive da vitória restando menos de dois minutos para o fim do jogo, mas não obteve sucesso. Pats derrotados. Com a notícia que Drew Bledsoe estava fora da temporada, os torcedores patriotas já estavam conformados com o que poderia ser mais uma ano de fracasso. Entretanto, o Brady estava disposto a fazer os fãs mudarem de opinião. E por um longo tempo.

Sete dias depois, em seu primeiro jogo como titular na NFL, o camisa 12 participou diretamente da ‘lavada’ dos Patriots a frente do grande rival Indianapolis Colts por 44 a 13. O calouro vinha atuando bem quando acionado, até que, contra o Denver Broncos na Semana 5, sofreu quatro interceptações. Porém, o mal desempenho não o assustou. Brady fez com que seus erros cometidos servissem de lição. Após o revés no Colorado, ajudou os Patriots a vencerem sete dos dez jogos restantes, fechando a temporada regular com 10 vitórias e 5 derrotas, campanha suficiente para garantir o título da AFC Leste e levar o New England Patriots a pós-temporada com direito a folga na semana de Wild-Card.

No Divisional Round, os Patriots enfrentaram o Oakland Raiders. Neste jogo, Brady foi consistente, passou para mais de 300 jardas e mesmo interceptado, pôde sair comemorando a vitória de sua equipe por 16 a 13. Uma semana depois, ele participou do triunfo sob o Pittsburgh Steelers na decisão da AFC. A conquista do título de Conferência deu ao New England Patriots a oportunidade de ir ao Super Bowl pela terceira vez em sua história. O detalhe era que a franquia havia perdido todas as finalíssimas que já tinha disputado e o adversário da vez era o St Louis Rams, de Kurt Warner, maior estrela da Liga no momento. Um desafio e tanto para o time da Divisão Leste Americana.

Chegando como ‘azarões’ em New Orleans, sede do Super Bowl XXVI, os Patriots saíram do Louisiana Superdome com os anéis de Campeões em uma partida emocionante, decidida no estouro do cronômetro com um field goal de Adam Vinatieri. Tom Brady foi eleito MVP da partida por conduzir de forma precisa a campanha final (9 passes completos a um minuto do fim) e silenciou a crítica, que dizia ser a sua inexperiência um dos fatores a impedir New England de levar o campeonato.

Além de faturar o prêmio de jogador mais valioso do Super Bowl, Brady foi efetivado como quarterback titular e New England negociou Drew Bledsoe com o Buffalo Bills. Contudo, ‘a maldição do atual campeão’ pairou sob os Patriots, que sequer chegaram aos playoffs, terminando 2002 com um modesto vice-campeonato de divisão.

Já em 2003, a história foi diferente. Os Patriotas, comandados pela dupla Tom Brady e Bill Belichick, começaram o campeonato ‘cambaleando’, mas, a partir da semana 4 impulsionaram quatorze vitórias seguidas e, novamente, chegaram ao Super Bowl, dessa vez como favoritos. Assim como nos jogos mais importantes da sua carreira até ali, o QB fez uma partida baseada na cautela e efetividade, tanto que seus números no jogo foram impressionantes: 32 passes completos para 356 jardas e três TD’s. Não deu outra. Patriots bi-campeões e Brady, novamente, eleito craque da decisão, tornando-se o QB mais jovem da história da NFL a vencer dois SB’s.

Foi ali, na segunda conquista do título nacional, que nasceu em definitivo um líder, tanto dentro do campo como fora dele. E 2004 já havia começado, Tom Brady tinha sido nomeado Esportista do Ano pela revista Sports Illustrated, além de receber convites para a Cerimônia do Oscar e até ser jurado do Miss Estados Unidos. Sua imagem de bom moço atraiu patrocinadores. Brady passou a ser uma das pessoas mais influentes da América e trouxe para si a responsabilidade de, além liderar o seu time, também servir de exemplo para as gerações norte-americanas, dos mais jovens aos mais velhos.

Com a figura de “Piloto da Nave Patriota” assumida, o quarterback levou os Patriots ao Super Bowl novamente, sendo chamado pela segundo vez para o Pro-Bowl, o jogo das estrelas da NFL. A sequência de 24 vitórias seguidas foi um recorde da história da liga, que ainda não foi batido.

Novamente favoritos, a exemplo do ano anterior, Brady e companhia decidiram o campeonato contra o Philadelphia Eagles. Com o wide receiver Deion Branch sendo o seu alvo principal na partida, Tom passou para 236 jardas e dois touchdowns, fez de Branch o MVP do jogo e viu Adam Vinatieri, feito dois anos atrás, acertar o field goal que deu mais um título para o time de Massachussets.

No ano seguinte, os Pats sofreram baixas em seu jogo corrido e precisavam mais do que nunca das habilidades de Tom Brady lançando a bola para chegarem a pós-temporada. Passando para mais de 4000 jardas na temporada regular, Brady levou New England novamente aos playoffs, comandou a vitória contra os Jaguars na semana de Wild-Card e classificou a equipe para o Divisional Round. Na semifinal, contra o Denver Broncos, o signall caller acabou interceptado duas vezes, e os Pats foram eliminados. Uma temporada depois, sua equipe chegou a final da AFC, no entanto, sofreu a maior virada da história das Finais de Conferência e viu Peyton Manning e o rival Colts avançarem a finalíssima.

A temporada de 2007: Da perfeição a decepção

O revés sofrido no ano anterior não abalou Tom Brady. Ele melhorou ainda mais o seu desempenho com a camisa azul-marinho e, durante a temporada regular de 2007, passou para três ou mais touchdowns em doze dos dezesseis jogos que disputou. Esses e outros números o fizeram ser nomeado MVP da Temporada da NFL e Jogador Ofensivo Do Ano. Seus recordes pessoais foram aumentando, e, não atoa, os Patriots foram jogar novamente um Super Bowl. Dessa vez, o New York Giants seria o oponente. New England, por ter terminado a temporada regular invicto, era, visivelmente, o grande favorito. Todavia, Brady e os Patriots começariam a conhecer um ‘inimigo’ que viria a atormentá-los por mais ocasiões: Eli Manning. O quarterback dos Giants fez uma aparição sólida e passou para o TD da vitória novaiorquina restando 35 segundos para o fim do jogo. Manning ganhou o prêmio de MVP do jogo que marcou a primeira derrota de Tom Brady em Super Bowls.

A pausa forçada

Seis meses depois do fatídico jogo contra os Giants, Brady ainda lutava contra uma lesão no pé direito. As dores vinham o incomodando desde o AFC Championship contra o Pittsburgh Steelers. Seu quadro físico acabou se agravando ao romper os ligamentos de seu joelho e sair de campo logo na estreia dos Patriots na temporada de 2008 contra o Kansas City Chiefs. Um dia seguinte, os torcedores do New England Patriots foram informados de que a lesão acabaria prematuramente com o ano de Brady. Mesmo na situação de ter sua principal estrela ausente, os Pats promoveram Matt Cassel para a vaga de titular e fizeram uma boa temporada, terminando com recorde de onze vitórias e cincoo derrotas. Mesmo assim, a campanha não foi suficiente para levar o time para a pós-temporada.

Voltando em grande estilo

Retornando após meses em recuperação das contusões, Tom fez uma primorosa reestreia contra o Buffalo Bills, lançando para quase 400 jardas e dois touchdowns (ambos passados no último período de jogo). Contra o Tennessee Titans, na semana 7, Brady teve o seu jogo com maior número de TD’s passados: seis, onde cinco foram lançados no segundo tempo.

Jogando na neve, Brady lançou seis TD's contra os Titans em 2009

Entretanto, os números expressivos que lhe renderam o prêmio de Comeback Player of The Year acabaram sendo ofuscado pela eliminação dos Patriots para o Baltimore Ravens na primeira rodada dos playoffs, em um dia frustrante para Tom Brady, que lançou três interceptações, fazendo sua equipe dar adeus ás chances de título. Mesmo assim, em, 2010, a diretoria dos Patriots optou por renovar o seu contrato por mais quatro temporadas, e neste ano, Brady novamente viu os Pats caírem nos playoffs, dessa vez diante do arquirrival New York Jets, na segunda rodada do mata-mata. As duas eliminações seguidas nos playoffs acabaram o frustrando, e desta forma o New England Patriots foi para a temporada de 2011.

New York, outra vez

Buscando ir mais longe do que nos últimos dois anos, os Patriots melhoraram o seu elenco para irem atrás do tetracampeonato. Durante a temporada, contra o Miami Dolphins, Tom Brady lançou para formidáveis 517 jardas e quatro touchdowns. Aquela atuação mostrou um pouco do que foi a campanha de New England, que conseguiu vencer seus adversários na pós-temporada e avançou para a final da AFC, jogada diante do Baltimore Ravens. Na semifinal, Brady lançou para seis touchdowns contra o Denver Broncos, mas, na decisão de conferência não passou para nenhum.

No entanto, fez algo raro: correr para a end zone. Graças a sua ousadia, dessa vez com os pés, o quarterback levou os Patriots para o Super Bowl pela quinta vez. Mas o adversário seria o New York Giants de Eli Manning, o mesmo que havia derrotado os Pats três anos atrás. Era a hora da revanche. Era. Não foi.

Eli, mais uma vez foi decisivo para o time novaiorquino. A derrota de New England por 21 a 17 impediu o quarto título da franquia da Nova Inglaterra outra vez. Como consolo, Brady venceu vários prêmios individuais naquele ano, quebrando recordes pessoais, como o de jardas lançadas em uma única temporada regular, passando para 5084 jardas.

Desistir? Jamais

Na temporada seguinte, Brady levou os Patriots ao topo da AFC Leste mais uma vez, e conseguiu o seu décimo título divisional da carreira, virando o QB com mais títulos de divisão da NFL. Tom quase conseguiu passar das cinco mil jardas, terminando com 4827 jardas aéreas. Nos playoffs, com a vitória de New England em cima do Houston Texans, o camisa 12 se tornou o jogador de sua posição com mais vitórias na pós-temporada do futebol americano. No entanto, os Patriots foram eliminados no American Football Conference Championship Game de 2012 para o Baltimore Ravens, que viria a ser campeão daquela temporada. Dias após a derrota na final, Brady foi convencido pela diretoria dos Patriots a assinar uma extensão de contrato de três anos, o fazendo permanecer na Nova Inglaterra até 2017, e deixando mais claro que o futuro membro do Hall da Fama se aposentará vestindo uma única camisa na NFL.

Com contrato estendido, o californiano foi para a sua décima segunda temporada como titular dos Patriots. Mas, durante a Janela de Transferências, peças importantes para o jogo de Brady como Wes Welker e Danny Woodhead foram jogar a Divisão Oeste da Conferência Americana pelo Denver Broncos e San Diego Chargers, respectivamente. Outro problema era a situação física do tight end Rob Gronkowski, jogador que se tornou um dos principais alvos de Tom Brady, e, que mesmo draftado há três anos, se transformou em um dos jogadores mais importantes do elenco de New England.

Em 2013, Julian Edelman virou o alvo preferido de Brady (Foto: Getty Images)


Embora estivessem sem a parceira “Brady to Gronk” nos playoffs e recheados de calouros no seu corpo de wide receivers, os Pats foram além do que se imaginava e chegaram a pós-temporada. Na semifinal, vitória em cima do Indianapolis Colts de Andrew Luck. Contudo, na decisão, o adversário da defesa patriota era Peyton Manning. O irmão mais velho de Eli levou o time do Colorado para mais um Super Bowl. Já Brady e os Patriots ficaram pelo caminho, mas fizeram uma boa participação.

A volta por cima da 'desconfiança' e o retorno ao Grande Jogo

O retorno de Gronkowski, a permanência de Julian Edelman e grandes reforços para a defesa. 2014 para o New England Patriots tinha de ser fantástico. E para Brady, não foi exceção. Por mais que tenha saído de Miami com derrota na estreia, e questionado por sua má-atuação contra o Kansas City Chiefs, o QB passou por cima da desconfiança, seguiu se empenhando para melhorar seu rendimento e levou os Patriots ao oitavo Super Bowl da história da franquia.

Tom Brady levanta o troféu de Campeão da AFC de 2014 (Foto: Getty Images)

Com a marca registrada do esforço e dedicação, Tom Brady é um exemplo de lenda viva do esporte, pois, aos seus 37 anos consegue prosseguir com atuações a alto nível, premiando da melhor forma os fãs do futebol americano, que viram o pequeno sonhador Tom virar o vencedor e respeitável Mr. Brady.

VAVEL Logo
Sobre o autor