Pode ser chamado de atípico o dia em que uma luta sem disputa de cinturão atrai mais o público do que o duelo pelo título. Esse foi o caso do UFC 196, protagonizado por Conor McGregor e Nate Diaz na MGM Grand Garden Arena, onde eles competiam pela categoria dos meio-médios, neste sábado 5 de março. 

Com xingamentos, provocações e muita propaganda, o irlandês McGregor e o americano Diaz subiram ao cage com objetivos opostos. Inicialmente escalado para encarar o campeão peso leve Rafael dos Anjos, Conor aceitou o combate com Nate para não ficar de fora do evento, afinal o brasileiro Rafael abandonou o embate devido a uma lesão. Assim, o europeu buscava dar show e vencer um competidor fora da categoria a qual é o campeão (peso pena).

Sem pressão sob suas costas, Nate foi convocado para o confronto em Las Vegas de última hora e teve apenas 10 dias para se preparar, e caso vencesse, pleitear uma luta pelo título na divisão que faz parte (peso leve). Já na co-luta da noite, existia uma disputa pelo cinturão, no caso, o do peso galo feminino. Holly Holm e Miesha Tate se enfrentariam para constatar quem seria a rainha da divisão.

Surpresa, mas não para todos

O nível de tensão entre Conor McGregor e Nate Diaz existia em cada encarada, desde as coletivas de imprensa, passando pela pesagem e chegando até o cage, segundos antes do duelo ser iniciado. Com mais farpas sendo trocadas, o árbitro Herb Dean decretou o começo da luta.

Logo de cara o irlandês andou pra frente, ditou o ritmo do combate e manteve o americano encurralado. Com diretos e cruzados de esquerda, Conor não se arriscava tanto e conseguia, com sua velocidade característica, ficar um passo a frente do adversário. Tais movimentos deram a ele a vantagem no assalto e abriram um corte no supercílio de Nate.

No segundo round o embate atingiu o ápice da emoção. Nos primeiros minutos, o campeão peso pena foi repetindo as ações do round anterior e aumentando o corte no rosto de Diaz. Mas, a grande virada teve início quando Nate conectou fortes sequências de socos na face de Conor, deixando-o tonto em alguns momentos. Percebendo o crescimento do oponente, o irlandês caiu em uma armadilha e levou a luta para o chão, onde a especialidade do americano no jiu-jitsu poderia ser aplicada (e foi). O atleta da Califórnia, mais inteiro na luta, facilmente raspou McGregor, estabilizou a montada, soltou mais socos e partiu para as costas, onde apertou o cadeado e finalizou o europeu aos 4:12.

Em entrevista ainda no octógono, Diaz foi categórico: "não estou surpreso".

Peso galo feminino tem campeã inédita

Com um cinturão em jogo, Holly Holm e Miesha Tate se enfrentaram no co-evento da noite. 

O combate entre Holly e Miesha começou com muito estudo e seguiu num ritmo morno por todos os cinco minutos do primeiro assalto. Com muitos chutes deferidos à distância e controle do octógono "The Preacher's Daughter" levou o round por uma leve vantagem. O embate começou a sair do domínio de Holm aos 30 segundos do segundo assalto,quando Miesha aplicou uma queda sobre a então campeão e mostrou todo seu arsenal no jogo de chão, com passagens de guarda e um ground and pound efetivo, que abriu espaço para Tate mochilar nas costas da adversária, aplicar um mata-leão e por pouco não encerrar a luta.

O terceiro momento no duelo entre "Cupcake" e "The Preacher's Daughter" foi como uma repetição do primeiro round. Mais cautelosa, Holm manteve a movimentação entre a média e a longa distância, soltando chutes no joelho de sua oponente e vencendo por pequena margem. No quarto assalto a multicampeã do boxe lançou combinações para cima de Miesha, encurtou a distância, evitou quedas e encurralou a adversária na grade, o que fez com que garantisse o round de maneira segura e sem sustos. Mas o grande lance do confronto ficou guardado para o quinto assalto. Com a necessidade de liquidar a fatura antes da decisão dos juízes, Tate levou Holy para o chão quando faltavam apenas dois minutos para o fim do combate. Por mais que Holm tentasse se desvencilhar da pegada, Tate se mantinha presa ao pescoço daquela que, agora, é ex-campeã. O mata-leão foi tão apertado que em 15 segundos, Holm já estava inconsciente, obrigando o árbitro John McCarthy a interromper o confronto aos 3:30 do quinto round.

Mata-leão

Os holofotes foram apontados pra todos os lutadores no UFC 196, uns com mais e outros com menos destaque. Porém nenhum deles foi a verdadeira estrela da noite, afinal o brilho mais reluzente foi concedido a um tradicional golpe do jiu-jitsu: o mata-leão. O artifício foi usado por Miesha Tate para destronar Holly Holm e capturar o título do peso galo feminino e também por Nate Diaz para superar Conor McGregor na luta principal da noite, no peso meio-médio.

Brasileiros alternam bons e maus momentos

Demorou para que algum brasileiro voltasse a triunfar pelo Ultimate encarando algum estrangeiro. Após 35 dias sem êxitos, Amanda Nunes derrotou Valentina Shevchenko pelo peso galo feminino no card principal do UFC 196, o último a ganhar nessas condições foi o leve Carlos Diego Ferreira diante de Olivier Aubin-Mercier pelo UFC on Fox 18, em 30 de janeiro. Entre os outros atletas verde-amarelos da noite, Erick Silva perdeu para Nordine Taleb entre os meio-médios. Enquanto no confronto entre compatriotas, Vitor Miranda nocauteou Marcelo Guimarães na divisão dos médios.

Confira todos os resultados do UFC 196:

CARD PRINCIPAL 
Nate Diaz venceu Conor McGregor por finalização em 4:12 do segundo round
Miesha Tate venceu Holly Holm por finalização em 3:30 do quinto round
Ilir Latifi venceu Gian Vilante por decisão unânime
Corey Anderson venceu Tom Lawlor por decidão unânime
Amanda Nunes venceu Valentina Shevchenko por decisão unânime

CARD PRELIMINAR 
Siyar Bahadurzada venceu Brandon Thatch por finalização em 4:11 do terceiro round
Erick Silva venceu Nordine Taleb por nocaute em 1:34 do segundo round
Vitor Miranda venceu Marcelo Guimarães por nocaute técnico em 1:09 do segundo round
Daren Elkins venceu Chas Skely por decisão unânime
Diego Sanchez venceu Jim Miller por decisão unânime
Jason Saggo venceu Justin Salas por nocaute técnico em 4:31 do primeiro round
Teruto Ishihara venceu Julian Erosa por nocaute em 0:34 do segundo round