Comecei a acompanhar NFL no início da temporada de 2006, impulsionado por amigos que, mesmo com 13 anos de idade, já eram apaixonados pelo esporte. Depois de algumas derrotas dolorosas no Madden, comecei a acompanhar os resultados dos jogos e o primeiro jogo que escolhi por conta própria para asssistir foi um Denver Broncos e Indianapolis Colts. Semana seis da temporada.

Na ocasião, Indianapolis venceu por 34 a 31, com um verdadeiro show ofensivo do time azul. Não por coincidencia, quem mais brilhou naquela noite no Colorado foi o quarterback dos Colts, que lançou para quase 350 jardas e três touchdowns. Foi ele que me conquistou.

Na semana seguinte, o mesmo time azul venceu o New England Patriots em Foxboro. Eu via muita torcida pelos donos da casa, entre meus amigos e os conhecidos da internet, então fiquei extasiado com a vitória. Naquele momento, decidi de vez que torceria para os Colts, e fui pé-quente: ao fim daquela temporada, fomos campeões do Super Bowl. Um time incrível, com craques como Marvin Harrison, Adam Vinatieri, Joseph Addai e Reggie Wayne. Mas que tinha em seu quarterback uma das maiores figuras do futebol americano.

A aposentadoria de Peyton Manning não é só o fim de uma era de glórias na NFL, mas também um marco na história do futebol americano. Um dos maiores jogadores de todos os tempos, o camisa 18 se despede com uma lista intermináveis de recordes, cinco prêmios de MVP e dois Super Bowl. Mais do que números, deixa um legado de quem ajudou a revolucionar o esporte.

Com passes perfeitos e muita inteligência, Manning recolocou no mapa duas grandes franquias da NFL, tornando-as das equipes mais competitivas da liga. Não à toa, durante 14 anos teve que se sobressair com defesas abaixo da média e linhas ofensivas fracas pelo Indianapolis Colts, onde se tornou um ídolo imensurável e teve sua camisa aposentada. E me fez chorar com a notícia de que deixaria o time, não nego. Claro, era mais confiável depositar o futuro da equipe nas mãos do quarterback com mais potencial desde o próprio Manning, o calouro Andrew Luck, mas a notícia com certeza não foi fácil para nenhum torcedor dos Colts.

Quis o destino que, mesmo após uma grave lesão no pescoço que o deixou de fora da última temporada em Indianapolis, Manning não fosse menos brilhante no... Denver Broncos. No Colorado alcançou recordes e, até por ironia do destino, teve ao seu lado um setor defensivo impecável, se tornando em 2015 o quarterback mais velho a levantar o troféu Vince Lombardi -- e o único da posição a ser campeão por duas franquias. Afinal, quem merecia mais uma defesa tão forte quanto Peyton? Sua aposentadoria com um título de Super Bowl, com quase 40 anos, é um verdadeiro prêmio para o futebol americano.

Manning não é só o jogador com mais vitórias, mais passes para touchdowns, mais passes para TD em uma temporada, mais passes para TD em uma partida, mais jardas lançadas, mais jardas por jogo, mais viradas no último quarto, mais campanhas para ganhar partidas, em temporadas regulares, e mais vezes escolhido para o Pro Bowl -- 14 vezes ao longo da carreira. Apesar de viver sobre as críticas de que não era tão decisivo em playoffs, ele foi o quarterback responsável por mudar o jogo. A treinar os wide receivers por conta própria, a ser mais técnico do que o próprio head coach. Mesmo do lugar mais alto do pódio com suas 71.940 jardas, seus mais de 5 mil passes completados e seus mais de 500 touchdowns, sua importância para a NFL conseguiu ultrapassar a barreira dos números. E olha que poucos se aproximam dos números por trás dos gritos de 'Omaha'.

Se Peyton Manning é o maior jogador da história, não sei. Talvez, diria eu com um pouco de clubismo. Mas seu legado consegue ser ainda maior que seus prêmios e recordes. Sem o camisa 18 em campo, o futebol americano perde uma figura icônica. Um jogador de xadrez com braços impecáveis. Aliás, como bem disse o 'rival' Tom Brady, ninguém correspondeu tanto às expectativas quanto o jogador que estabeleceu como um quarterback precisa jogar. Thanks, Sheriff. O esporte agradece.

Torcedor do Indianapolis Colts por influência de Peyton Manning, o jornalista @CaíqueToledo é colunista da ESPN e ex-editor-chefe da VAVEL Brasil

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