No último sábado (24), foi realizado no Rio de Janeiro o XXIV Campeonato Estadual de Kung Fu Wushu. O torneio reuniu 84 atletas das mais diversas categorias em disputa pela premiação carioca. Shuai Jiao, lutas de semi-contato, Nanquan (Punho do Sul), Tai Chi Chuan e Sanda (boxe chinês) foram algumas das categorias em disputa no campeonato. Realizado anualmente, o campeonato expôs todo o esforço envolvido na prática de Kung Fu no Brasil e deixa de legado a esperança por um futuro melhor para a modalidade. 

Entre os destaques do campeonato estadual está a figura de Jessica Cuzine, que faz parte da Seleção Brasileira. A atleta obteve diversas notas acima de nove e consagrou-se como a maior pontuadora do campeonato estadual. Nas categorias infantis, os destaques foram Lucas Carvalhaes e Miguel Serrano, com algumas das maiores pontuações entre os juniores.

Apesar dos resultados do campeonato carioca, os convocados para o Campeonato Brasileiro de Kung Fu Wushu ainda não estão definidos. Os vencedores de suas categorias no estadual têm prioridade para a vaga na competição nacional; no entanto, os nomes só serão definidos após uma série de treinos coletivos. O primeiro de dois treinos para o Brasileiro acontece no dia 15 de julho.

Enquanto modalidade esportiva, o Kung Fu Wushu ganhou grande projeção global com a realização das Olimpíadas de Pequim, em 2008. No ano de 2016, o esporte entrou na briga por uma vaga para as Olímpiadas de Tóquio 2020. Apesar de não ter sido selecionado para integrar os novos esportes olímpicos – os escolhidos foram karatê, beisebol/softbol, escalada, surf e skate – o Kung Fu Wushu conta com a popularização da modalidade e segue na disputa por uma chance de integrar futuras edições das Olimpíadas.

No ano de 2018, o Brasil será sede pela primeira vez do Campeonato Mundial Júnior de Wushu. O torneio, a ser realizado em Brasília, reúne aproximadamente 800 atletas de 70 países na faixa etária de até 18 anos. Lucas Carvalhaes, de 9 anos, joia da Seleção Brasileira de Kung Fu Wushu, tem grandes chances de fazer parte do evento.

Lucas Ribeiro, de apenas 9 anos, é integrante da Seleção Brasileira de Kung Fu Wushu (Foto: Marcos Antônio Ribeiro)
Lucas Carvalhaes, de apenas 9 anos, é integrante da Seleção Brasileira de Kung Fu Wushu (Foto: Marcos Antônio de Souza)

O panorama do Kung Fu Wushu no Brasil

O Wushu, que chegou às terras brasileiras na década de 60, teve início dentro de comunidades de imigrantes chineses no país. Os Grão-mestres Chan Kowk Wai, Chiu Ping Lok e Wong Shing Keng foram os principais responsáveis por introduzir e difundir o esporte no Brasil. Após alguns anos de prática, os mestres passaram a ensinar o Kung Fu para a população brasileira e foram fundamentais para a popularização da modalidade. Com o passar do tempo, surge a demanda por uma maior organização dentro do esporte, resultando na fundação da Confederação Brasileira de Kun Fu Wushu (CBKW) em 1992. Nos dias de hoje, a CBKW conta com 25 federações estaduais filiadas; os únicos estados que não fazem parte da Confederação são Amapá e Sergipe.

Sem qualquer financiamento do governo, as federações de Kung Fu Wushu no Brasil se mantém com grande esforço de seus membros e da comunidade esportiva. A falta de apoio financeiro obriga os atletas a buscarem alternativas para seguir praticando o esporte. Um grande exemplo é Lucas Carvalhaes, que integra a Seleção Brasileira: classificado para o Campeonato Sul-Americano de Kung Fu Wushu, no Uruguai, o atleta e sua família organizaram uma rifa para arcar com os custos da viagem.

Frederico Viana, presidente da Federação de Kung Fu Wushu do Estado do Rio de Janeiro (FKFERJ) afirmou que o principal obstáculo para o esporte atualmente são os diversos problemas de logística. Em entrevista à VAVEL Brasil, o presidente falou sobre as dificuldades financeiras no planejamento de eventos de Kung Fu Wushu no Brasil.

“A logística da montagem de eventos e da federação é a grande dificuldade. Nós planejamos os eventos a partir da verba vinda das inscrições dos atletas, e às vezes tiramos dinheiro do nosso próprio bolso, porque por muitas vezes o evento não se paga sozinho. A federação funciona a partir de anuidades pagas por suas afiliadas, e esse dinheiro é revertido para a organização de eventos estaduais. (...) Nós trabalhamos na base do esforço coletivo, contando com todos aqueles que querem que o evento funcione”, afirmou Frederico.

Apesar das enormes dificuldades, o presidente mostrou-se otimista com o futuro do Kung Fu no país. Dentre os destaques feitos por Frederico, vale ressaltar a crescente sistematização do esporte no Brasil.

“Mesmo com a falta de apoio, o Kung Fu vem crescendo em termos organizacionais. (...) Tivemos a sorte de ter grandes mestres no Brasil, e a partir desse conhecimento vindo deles, começamos a sistematizar o esporte. O Kung Fu vem se moldando aos poucos. A Confederação e as Federações têm conseguido realizar campeonatos de altíssimo nível, e fabricamos atletas de nível internacional”, finalizou.

Lutas de semi-contato também estiveram presentes no Campeonato Estadual de Kung FU Wushu (Foto: Marcos Antônio Ribeiro)
Luta de semi-contato foi uma das diversas categorias no Campeonato Estadual de Kung Fu Wushu (Foto: Marcos Antônio de Souza)