Na segunda-feira (11), um escândalo abalou as estruturas da National Football League (NFL). Na data, o jornal The Wall Street Journal revelou uma série de trocas de e-mails com teor racista, homofóbico e misógino envolvendo uma série de figuras ligadas ao esporte. A principal delas atuava até o dia citado na liga - e foi demitido. Trata-se de Jon Gruden, até então head coach do Las Vegas Raiders. 

A troca de e-mails envolvia também Bruce Allen, antigo dono do Washington Football Team (à época chamado Washington Redskins). As mensagens foram enviadas entre 2011 e 2018 (período em que o profissional era comentarista da ESPN) e foram reveladas em duas "levas".

Na primeira delas, o alvo foi DeMaurice Smith, diretor executivo da National Football League Players Association (NFLPA), sindicato de atletas da liga. Gruden pontuou que o dirigente, tinha "beiços do tamanho de um pneu da Michelin". À época, Smith era um dos principais envolvidos no lockout (greve) de jogadores de 2011. Nesse momento, o treinador reuniu os atletas do Raiders e afirmou que, naquele momento, "não estava no melhor momento da sua vida", pedindo desculpas a todos. Ele também revelou ter vergonha do que disse. 

Segunda leva

Horas depois, entretanto, uma nova "leva" foi revelada pela publicação. Nela, Gruden fazia outra série de críticas contra grupos minoritários na sociedade - ou representantes deles. 

Um dos alvos foi Michael Sam. O defensive end, selecionado no Draft NFL 2014 pelo Rams (à época em Saint Louis, hoje em Los Angeles) e primeiro atleta abertamente gay a ser recrutado, foi ofendido com palavras homofóbicas. Tal qual Roger Goodell, comissário da NFL, chamado de "bicha" e "um marica que é contra o futebol americano". Na visão de Gruden, o dirigente da liga pressionou Jeff Fisher, então head coach da franquia, a escolher o jogador - que, na National Collegiate Athletic Association (NCAA), atuou no Missouri Tigers. É importante destacar que, atualmente, o único atleta da NFL abertamente homossexual é Carl Nassib, defensive end justamente do Raiders. 

Eric Reid, então safety do San Francisco 49ers e uma das principais vozes nos protestos em que os atletas se ajoelhavam durante a execução do hino estadunidense, também foi criticado. Para Gruden, ele deveria ser demitido. Na mesma franquia estava Colin Kaepernick, então quarterback titular do time californiano, pioneiro no protesto à época. 

Outra crítica de Gruden à NFL estava na tentativa da instituição de diminuir o número de concussões. 

Por fim, os e-mails também continham fotos de mulheres de top less. Dentre as vítimas das imagens, estavam cheerleaders do Redskins, franquia que era controlada por Allen - também envolvido no escândalo. 

Após a revelação de todas as mensagens, Jon Gruden pediu demissão do cargo por meio de uma nota oficial. "Amo os Raiders e não quero ser uma distração. Obrigado a todos os jogadores, técnicos, staff e torcedores da Raider Nation. Me perdoem, eu não quis machucar ninguém", dizia a mensagem.

Consequências

Ao contrário do que muitas vezes acontece, o escândalo, por ora, não teve um impacto direto na NFL. Os principais envolvidos no escândalo, entretanto, tiveram diversos laços rompidos com a liga e com as franquias. 

Jon Gruden, além de perder o emprego, também foi retirado do Ring Of Honor (Anel de Honra) do Tampa Bay Buccaneers - ele foi campeão do Super Bowl XXXVII com a franquia. Outra instituição a remover menções ao ex-head coach foi a Eletronic Arts, que tirou o nome do treinador do Madden NFL - famoso game sobre a liga. Até mesmo o Saturday Night Live, famoso programa da TV estadunidense, fez críticas a Gruden - e, esse sim, à liga. 

Uma série de atletas se manifestou criticando as palavras - Aaron Rodgers, do Green Bay Packers, e Derek Carr, do próprio Raiders, entre eles.