A temporada 2021 da National Football League (NFL), encerrada com o Super Bowl LVI, deixou algumas histórias ainda sem desfecho. O 23 a 20 do Los Angeles Rams sobre o Cincinnati Bengals, no último domingo (13), no SoFi Stadium, eclipsou o Caso Brian Flores.

Tudo começou no dia 01 de fevereiro. Brian Flores, head coach do Miami Dolphins,, uma das franquias da liga, entre 2019 e 2021, entrou com um processo contra a NFL e, também, ante as 32 equipes. O caso envolve, sobretudo, práticas consideradas racistas - mas não versa apenas sobre isso. 

O ponto mais sensível do processo são as acusações de discriminação racial. E, para basear as acusações, ele utilizou dois pontos. O primeiro deles é o número de head coaches de minorias nas franquias. Atualmente, são apenas quatro: o afrodescendente Mike Tomlin, do Pittsburgh Steelers; o descendente de latinos Ron Rivera; e Robert Saleh, do New York Jets, de família árabe. Após a demissão do treinador no Dolphins, o também afrodescendente Lovie Smith foi contratado como head coach do Houston Texans.

Outra parte da acusação se refere à Rooney Rule - "Regra Rooney", em tradução livre. Desde 2003, quando uma franquia demite um head coach ou um general manager, a equipe é obrigada a entrevistar um profissional de grupos minoritários. Entrevistado por Denver Broncos e New York Giants em diversos momentos, Flores destacou que foi ouvido apenas para cumprir a cota de não-brancos. 

Em relação ao Dolphins, o antigo head coach citou dois casos. No primeiro deles, o profissional afirmou que recebeu uma proposta de Stephen Ross, dono da equipe, de US$ 100 mil (cerca de R$ 521,5 mil) a cada derrota na temporada 2019. A intenção era assegurar a primeira posição no Draft NFL 2020 - o Bengals selecionou Joe Burrow, que, no segundo ano, levou Cincinnati ao Super Bowl

A outra acusação viola a regra de tampering ("aliciamento", em tradução livre) da NFL. De acordo com Flores, em 2020, ele foi convidado para almoçar no iate de Ross junto a um quarterback antes do período de free agency começar. O convite foi recusado.

Ciente do risco que corre ao fazer tal acusação, ele chegou a comentar que está disposto a sacrificar a própria carreira em prol dos afrodescendentes. "Deus me abençoou com um talento especial para ser técnico de futebol americano, mas a necessidade de mudança é maior do que meus objetivos pessoais. A minha esperança é que, ao me posicionar contra o racismo sistêmico da NFL, outros se juntarão a mim para garantir que mudanças positivas sejam feitas", destacou.

Nesta segunda-feira (14), foi revelado que Ross pode perder o direito de comandar o Dolphins após as acusações. De acordo com Ian Rapoport, repórter da NFL Network, ele pode ser ejetado do comando da equipe se, em uma reunião plenária, tiver três ou quatro votos pedindo a remoção do dono da franquia. 

Respostas

A primeira entidade a negar as acusações foi a própria liga. "A NFL e nossos clubes estão profundamente comprometidos em garantir práticas de igualdade nos empregos, e continuamos a progredir ao fornecer oportunidades iguais por meio das nossas organizações. A diversidade é o centro de tudo o que fazemos", pontuou o comunicado.

Comissário da instituição, Roger Goodell também se manifestou. "Não iremos tolerar o racismo. Não iremos tolerar discriminação. Encontrei todas as alegações, sejam elas baseadas em racismo ou discriminação ou na integridade do nosso esporte, todas elas foram muito perturbadoras para mim", destacou.

Uma das equipes citadas na acusação, o New York Giants negou as acusações e lamentou a citação nominal no trâmite. "O consenso dentro da organização após este jantar permaneceu de que o Sr. Flores era um excelente candidato, e estávamos ansiosos para sentar com ele pessoalmente no dia seguinte. Estamos desapontados ao saber que o Sr. Flores estava com a impressão equivocada de que o trabalho já havia sido concedido", disparou.

Por fim, John Elway, general manager do Denver Broncos, praticamente revidou as palavras. "Ao mesmo tempo em que planejava não responder publicamente às falsas e difamatórias alegações de Brian Flores, eu não poderia me silenciar enquanto meu caráter, integridade e profissionalismo eram atacados. É chocante e uma pena saber que Brian não tinha a mesma visão em relação à nossa entrevista", finalizou.