Depois da bomba de oxigénio que representou a constituição e venda da SAD do Olhanense a capital estrangeiro, na última temporada, e após vários episódios envolvendo salários em atraso e o quase fecho de portas ao longo dos cinco anos de permanência na primeira divisão, o clube da cidade de Olhão vê agora, uma vez mais, o futuro do seu futebol profissional seriamente comprometido.

A descida à segunda Liga terá sido um duro golpe nas aspirações da nova administração dos algarvios, que se preparava para construir já a partir desta temporada um projecto de consolidação na principal divisão do futebol português. O objectivo passaria então por rentabilizar atletas pertencentes a fundos de investimento e agentes desportivos com ligações ao mercado italiano, bem como aos investidores que em Junho do ano passado adquiriram o capital maioritário da SAD rubronegra.

Mas a desqualificação à II Liga e a brutal diferença de receitas do segundo para o primeiro escalão eleva de sobremaneira o grau de dificuldade desta meta, tornando praticamente impossível a continuidade de alguns dos activos mais valiosos da Sociedade detentora do Olhanense, e ordenando a sua entrada directa no mercado, para fazer face aos graves problemas de tesouraria que voltam a assombrar o José Arcanjo.

Dívidas e baixa de receitas já provocam despedimentos

O final atribulado de temporada de 2012/13 permitiu ao Olhanense garantir a permanência na Primeira Liga na última jornada da competição e evitar a insolvência do clube escassas semanas antes do início dos trabalhos para a campanha seguinte.

Num contra-relógio, e praticamente “em cima do joelho”, o clube presidido por Isidoro Sousa conseguiu a aprovação, por parte dos seus sócios, da constituição de uma SAD, da sua venda a capitais italianos e, por fim, do recurso ao PER (Processo Especial de Revitalização) para fasear o enorme volume de dívida gerado pela instituição desportiva desde o seu regresso à I Liga.

Um “bolo” de encargos que as receitas de transmissão televisiva da Liga Zon Sagres ainda foram sendo capazes de suportar, mas que agora não encontram cobertura nas depauperadas contas do Olhanense.

Sem qualquer tipo de receitas no horizonte, a administração liderada por Igor Campedelli vê-se agora obrigada a dispensar praticamente todo o plantel que tem à sua disposição, ao mesmo tempo que tenta negociar as várias pendências que tem nesta altura com treinadores, jogadores e outros funcionários do clube.

VAVEL sabe que nesta altura estão pelo menos dois meses de salários por pagar a jogadores e colaboradores, assim como valores em dívida aos antigos técnicos Abel Xavier e Paulo Alves. Nos últimos dias, para fazer face às despesas e dificuldades de tesouraria, pelo menos três funcionários foram convidados a rescindir o seu vínculo com a SAD.

Investigado em Itália, Campedelli garante sustentabilidade do seu projecto

Apesar das muitas dúvidas e incertezas a pairar sobre o futuro do Olhanense, Igor Campedelli, a face mais visível do grupo de investidores que decidiu tomar conta da SAD dos algarvios em Junho do ano passado, já assegurou a continuidade do seu projecto, tranquilizando os sócios do clube algarvio relativamente às intenções dos accionistas da Sociedade, apesar da descida à segunda liga.

Em entrevistas recentes, o Vice-Presidente da SAD rubronegra garantiu o andamento da planificação da próxima temporada, ainda que sem negar a absoluta necessidade de redução da despesa com o plantel profissional.

A grande prioridade passa nesta altura por vender alguns dos principais activos da equipa, casos de Jander, Diakhité, Lucas Souza, Paulo Regula, Paulo Sérgio, Femi e Vojtus, por forma a afiançar o equilíbrio financeiro do clube na próxima temporada, sob fortes constragimentos orçamentais, e simultaneamente acautelar o investimento de cerca de um milhão de euros até agora depositado no José Arcanjo.

Enquanto isso, Igor Campedelli vai sendo investigado pela justiça italiana por facturação falsa e evasão fiscal, aquando da sua passagem pela presidência do Cesena. No âmbito de uma mega operação do fisco italiano em 2010, o hoje homem-forte do Olhanense é suspeito, juntamente com mais três pessoas, da emissão de facturas por serviços não prestados ao clube do norte de Itália referentes a valores que ultrapassam os 7 milhões de euros.

Também sob suspeita encontram-se vários negócios e ligações a agentes desportivos, nomeadamente o pagamento de comissões e outras variáveis não identificadas do tempo da última presença do Cesena na Serie A. Aqui o valor de uma eventual violação das leis fiscais permanece por agora indefinido, sendo situado pela imprensa italiana na ordem das dezenas de milhões de euros.

Para além dos negócios envolvendo o Cesena, que incluem ainda a venda de património, a justiça italiana prossegue a sua investigação ao conjunto do universo empresarial de Igor Campedelli, com empresas no ramo do imobiliário e do turismo, e que as autoridades acreditam que possam ter servido de intermediação em negócios com o clube italiano num período compreendido entre 2008 e 2013.

Também pela sua inclusão na investigação, que continua a correr, a posição de Igor Campedelli em Olhão continua por isso dependente do desfecho deste processo judicial. Por agora, o italiano permanece num conselho de administração que é ainda composto pelo olheiro Aldo Pecini e pelo empresário Massimo Michelis.

Falta de liquidez atrasa escolha do novo treinador

Tal como na temporada transacta, o Olhanense parte para a nova temporada sem praticamente uma linha que seja do seu novo projecto totalmente esclarecida. Aliás, se a pré-época de 2014/15 comecasse hoje, o novo técnico dos algarvios (que ainda não existe), não conseguiria sequer formar um onze inicial, já que do grupo de 17 jogadores contratualizados cerca de 9 estão na porta de saída.

Ainda que sem qualquer anúncio oficial até ao momento, a SAD rubronegra terá decidido não renovar o contrato com Giuseppe Galderisi, que expirou no passado dia 30 de Maio, e decidiu definir um perfil para o novo técnico: português, com provas dadas, e experiência adquirida em equipas da II Liga.

As dificuldades em aliciar um novo treinador para um projecto ainda completamente indefinido são no entanto mais que muitas, e encontrar um novo comandante para o banco dos algarvios não se afigura nada fácil: Vítor Oliveira, alvo principal da administração da SAD, acabou por recusar o convite nos últimos dias e rumar ao União da Madeira; Jorge Paixão, o segundo da lista, parece igualmente objectivo difícil de alcançar depois da valorização conseguida com o bom trajecto ao serviço do Farense e a estreia na Primeira Liga com as cores do Sporting de Braga.

António Conceição ou mesmo o regresso de Álvaro Magalhães parecem nesta altura as soluções mais viáveis, mas nenhum dos dois terá para já tomado qualquer decisão relativamente ao repto lançado pelo Olhanense, que ainda assim espera apresentar o novo técnico até ao final da presente semana.