Possante mas esguio, forte mas ágil, Yaya Touré inscreveu o seu nome na antologia que compila os melhores médios da actualidade. A sua qualidade está para lá de qualquer dúvida: qual polvo no meio-campo, o costa-marfinense engole o miolo do terreno com as suas inteligentes movimentações plenas de pujança física, técnica apurada e clarividência táctica. Líder do meio-campo dos «citizens», Touré apresentou-se, aos 31 anos, na melhor das formas, ao carregar o estandarte do Manchester City durante a época 2013/2014. Arrancadas poderosas, assistências primorosas e golos de bandeira, estes são os cartões de visita do imponente médio de 1,91 metros de altura, que durante a temporada acumulou 49 jogos pelo campeão inglês marcando nada mais nada menos que 24 golos, qual goleador escondido no eixo central do terreno.

Organizador de jogo, médio defensivo competente que pelo talento inegável se adiantou no campo, chamando a si funções de construção, Touré açambarca para si todos os metros quadrados do corredor central, controlando quem os pisa e manipulando os tempos e as cadências do jogo. Defende bem, ataca melhor - carrega o piano defensivo e toca depois a melodia ofensiva, preenchendo o campo com a sua stamina inesgotável. Será dos seus pés que nascerão as grandes oportunidades de golo da selecção da Costa do Marfim. Experiente e prático conhecedor da pressão que o sucesso acarreta, Yaya Touré será o maestro dos «elefantes» nesta Copa do Mundo, certamente incumbido da responsabilidade de empurrar a sua selecção para os oitavos-de-final da competição, feito nunca antes alcançado pela Costa do Marfim.

Brilhantismo de uma carreira feita ao mais alto nível

A carreira de Touré iniciou-se em 2000, no ASEC Mimosas, clube do seu país natal. Seguiu-se a sua primeira incursão pela Europa: três anos no KSK Beveren, da Bélgica e nova aventura, agora em terras ucranianas, no Metalurh Donetsk. A paragem seguinte do médio foi a Grécia, uma temporada ao serviço do Olympiakos. Mónaco foi a aventura que antecedeu a profícua ida para o Barcelona, onde Touré amealhou títulos e prestígio. No seu presente clube, o Manchester City, o costa-marfinense tem ornamentado a carreira com nova dose de triunfos. No total, conta com uma Liga e Taça grega, duas ligas espanholas, uma Taça do Rei e uma Supertaça espanhola, duas ligas inglesas, uma FA Cup, uma Taça da Liga inglesa e uma Community Shield, competições domésticas às quais junta uma Liga dos Campeões (2008/2009), uma Supertaça Europeia e um Campeonato do Mundo de Clubes.

Esplendor técnico valeu-lhe glória individual

As exibições de Touré nunca se cansaram de demonstrar a forma destemida, incisiva e superior com que o médio africano carrega as suas equipas para a frente. A sua alta versatilidade e a sua técnica apurada valeram-lhe várias distinções individuais que apenas vieram corroborar o valor do jogador. Internacional em 82 partidas (marcou 16 golos pela Costa do Marfim), Yaya Touré foi premiado com 4 títulos de Melhor Futebolista Africano (2011, 2012 e 2013). O reconhecimento mundial do seu talento é totalmente merecido: Touré é considerado por muitos um dos melhores médios do Mundo devido à sua completa panóplia de recursos, quer defensivos quer ofensivos. A facilidade com que invade a área contrária e define jogadas (quer a assistir colegas quer a marcar ele mesmo) é estonteante.

A decisão de Pep Guardiola de prescindir dos serviços do costa-marfinense (em 2010), permitindo a sua saída do Barcelona, foi bastante criticada a posteriori, dado que o médio internacional provou, defendendo as cores dos «citizens», que seria um activo tremendamente útil no onze catalão. Galgando metros com a força de um motor de alta cilindrada, o africano é jogador para todas as ocasiões da partida - criteroso na distribuição de jogo, forte na posse, ameaçador quando investe rumo à área contrária, exímio executante de passes fatais e eficaz concretizador. Junte-se a estas características o alto grau de eficácia que detém aquando da execução de livres.

Terceiro Mundial e antecâmara da retirada

Touré vai para a terceira participação em Mundiais de Futebol. Primeiro em 2006, na Alemanha, depois na África do Sul, em 2010, e agora no Brasil, naquele que será, muito provavelmente, o seu último Mundial da carreira enquanto jogador. A selecção da Costa do Marfim terá pela frente um grupo mais acessível que aqueles com os quais se deparou nos anteriores Mundiais, portanto, uma oportunidade de ouro para fazer história, feito que será atingido caso consiga passar aos oitavos-de-final da prova. O grupo onde estará inserida a selecção africana conta com a Grécia, o Japão e a Colômbia.

«Penso em deixar a selecção, mas ainda não tomei nenhuma decisão. Veremos o que acontece no Mundial», adiantou o médio do City, que deverá abandonar os «elefantes» depois do término da prova. «Para mim é importante que quando deixar a selecção o faça num bom momento. Sempre disse que sairia quando tivéssemos ganho algo, talvez isso nos tenha trazido um pouco de azar», disse. Embora tudo indique que a retirada seja uma realidade, o caso da longevidade internacional de Drogba pode, em contrapeso, provar que existe um futuro para um talento nato como Yaya na selecção do Marfim, que tanto precisa de um mestre de cerimónias que pega na batuta do espectáculo.