Para disputar a primeira edição da «Eusébio Cup» após o falecimento do patrono e homenageado da prova, o Benfica, na pessoa do seu presidente, Luís Filipe Vieira, teria de encontrar um rival à altura – e encontrou-o, uma vez que teve pela frente um emblema que pode mesmo ser visto como o ‘gémeo holandês’ dos encarnados, o Ajax.

As similaridades iniciam-se nos números e na particularidade de ambos serem neste momento detentores de 33 campeonatos nacionais nos países de onde provêm, assim como no facto de serem os campeões nacionais em títulos das respectivas Ligas – mas as semelhanças entre o finalista da Liga Europa e o detentor da Eredivisie não ficarão por aqui.

Bastará uma análise ao futebol e à realidade dos dois clubes (assim como um breve diálogo entre comentadores portugueses, como é o caso de VAVEL, e os seus homólogos holandeses) para que se perceba que a fase de reconstrução que se vive por esta altura na Luz também é comum aos adeptos do clube que alinha na Arena de Amesterdão, pelo que no último Sábado na Luz entre os 25 mil espectadores, emigrantes e turistas presentes, todos estarão familiarizados com o tema.

Apenas uma diferença se evidenciou em campo, um golo marcado a meias entre o holandês Ricardo Kishna e o benfiquista César, e consequentemente o vencedor da partida e do torneio que provavelmente apresentou pela última vez duas equipas em confronto para dar lugar a um quadrangular que, diga-se, tornará a competição mais entusiasmante. Poderá dizer-se que esta foi a última, mas quem sabe a primeira de uma nova era para a Eusébio Cup.

Como tal, parece legítimo que na próxima edição o Ajax, até por se tratar do detentor do troféu, estar de regresso à Luz. Quem sabe se o mesmo não estará a ser pensado relativamente aos restantes vencedores para além das águias, casos de Tottenham, Inter de Milão e São Paulo, mas acima de tudo as muitas semelhanças com o anfitrião colocam o colosso holandês em destaque.

Futebolisticamente falando, este último fim-de-semana colocou dois conjuntos de estilo similar, com preferência para a bola no pé e o jogo em posse, o que tornou em especial a primeira metade muito interessante de assistir, assim como uma evidente falta de entrosamento que se denotou entre os visitantes mas ainda mais nos atletas benfiquistas, impedindo que o domínio territorial na etapa complementar se tornasse mais produtivo.

Vários jovens puderam mostrar as suas capacidades, de parte a parte

Face à ausência de um ‘pensador’ de jogo, ou em alternativa um elemento capaz de efectuar o melhor transporte do futebol atacante, foi visível a maior preocupação do Benfica em preencher espaços a meio-campo principalmente quando não tinha a bola em sua posse, recorrendo mesmo a movimentos interiores dos seus extremos, Toto Salvio e Nico Gaitán, com destaque para o segundo, que para alívio do público encarnado parece mesmo destinado a ficar, para o efeito.

No lado holandês, e na falta do 10 que é obrigatório nestas equipas, o plano foi idêntico com a utilização de Nick Viegever, um defesa central de origem, e Lucas Andersen no ‘miolo’ e colocação de um jogador estável como Lasse Schone numa das alas, tornando Davy Klaassen uma aproximação ao lugar de ‘playmaker’ na turma de Amesterdão cujo meio-campo detinha nestes dois últimos jogadores metade dos habituais titulares da época passada.

Uma vez mais, o meio-campo a ‘meio gás’ será uma situação igual nas duas partes, uma vez que o Benfica apresentou como ‘habitués’ Salvio e Gaitán, também dois em quatro possíveis, a juntar aos muitos jovens que nesta partida puderam ganhar uma ainda maior experiência, com destaque para Anderson Talisca, Loris Benito ou César, e acima de tudo João Teixeira com uma mais uma boa entrada em campo na segunda parte.

Respondeu o Ajax com Ruben Ligeon, que na época passada realizou apenas oito encontros na primeira equipa, Arek Milik e especialmente Kishna, uma solução para compensar as muitas saídas nos dois clubes, metade da equipa titular no caso do Benfica e uma outra já com um ano de duração no Ajax mas mesmo assim ainda na ordem do dia, o talentoso Christian Eriksen, que tarda em encontrar um sucessor dentro da equipa.

Grande parte das ausências remetem-se a vendas, e ainda se acrescem as ausências, por lesão nos casos de Luisão, Jardel, Lisandro Lopez ou Ljubomir Fejsa no conjunto português, e o virtuoso Viktor Fischer, o anunciado substituto de Eriksen que contraiu uma grave lesão no emblema holandês, ou por força do recentemente concluído Mundial.

Esse aspecto remete-se na Luz para Enzo Perez mas o mesmo também se aplica para os holandeses Jasper Cillessen e Daley Blind, ou até Joel Veltman, que estará de saída. À falta de alguns reforços, o Benfica aproveitou para testar um atleta regressado, Sidnei, que esteve cedido ao Espanyol, colocando ainda na segunda parte também Franco Jara e Ola John. Sem Enzo, o futebol encarnado viu-se orfão de uma organização mais cerebral, o que propiciou mais perdas de bola, passes longos ou trocas de bola inócuas

Benfica e Ajax apresentaram defesas muito alteradas em relação ao passado recente

Quanto a estes dois casos, são reveladores de alguma displicência e dificilmente continuarão na equipa, em especial o argentino com o seu ‘momento Bergessio’, fazendo lembrar esse seu compatriota que também um dia pisou o relvado da Luz.

Já os ‘ajacien’ juntaram os jovens ao reforço Viergever. Em ambos os casos causou estranheza o facto de o mesmo não ter sucedido a outros atletas que necessitam de mostrar algo como Nélson Oliveira e os reforços Luís Felipe e Victor Andrade pela equipa da casa, ao passo que o conjunto holandês trouxe na sua comitiva vários jovens, um deles ainda júnior.

Todos teriam certamente aproveitado para crescer, em especial o muito promissor Quincy Menig, assim como aqueles que Frank de Boer poderia ter observado, os seus futebolistas que regressam após empréstimos. Mas as semelhanças não ficam por aqui, espalhando-se também na defesa, muito pouco rodada no que diz respeito aos benfiquistas, nomeadamente na sua zona central.

Nesse sector as águias fizeram alinhar apenas um habitual titular, Maxi Pereira, a exemplo do lateral esquerdo Nicolai Boilesen por parte dos holandeses, ainda que o dinamarquês tenha enfrentado uma longa paragem na época transacta e ainda necessite de ganhar ritmo competitivo.

Em suma: frente a frente estiveram dois conjuntos muito jovens, aos quais ainda parece faltar classe e intensidade de jogo, conseguindo o Ajax conquistar a edição que à falta de uma taça, tinha duas – uma seguiu para a Holanda, e quanto à outra, simbólica por ter sido oferecida em vida por Eusébio, passará a residir no Museu Cosme Damião.

No final, todos poderão vir a ficar satisfeitos, sendo que no Ajax teme-se uma época complicada face à inexperiência dos seus jogadores nos maiores palcos, mas face à tradição de equipa formadora existe a esperança de que os jovens talentos possam ‘chegar à frente’ e corresponder. Como será nas bandas da Luz?