O jogo amigável entre Portugal e a França, Sábado, às 19:45 horas, apadrinhará a estreia da nova era da Selecção Nacional de Portugal, despertada pela saída de Paulo Bento, pela entrada do consensual Fernando Santos e também pelos regressos de jogadores como Tiago, Danny e Ricardo Carvalho, três jogadores que estavam afastados dos trabalhos da selecção na era de Bento. Novo seleccionador, nova vida e...nova táctica?

Essa tem sido uma das questões mais discutidas dos últimos dias, aliás, desde que Fernando Santos alinhavou e publicou a convocatória lusa. Como alinhará a nova selecção dos regressados Tiago, Danny, Carvalho, Quaresma? Como se disporá no campo o conjunto das quinas, que conta agora com as inclusões de Adrien (opção nula para Bento), Eliseu (idem), Ivo Pinto (total novidade), José Fonte (nome sempre riscado na selecção) e João Mário (promessa incontornável)?

França x Portugal: amigável para auscultar arranque da nova era

Portugal, impulsionado por um período de paz interior, tentará ganhar rotinas e adaptar-se às dificuldades do contexto actual, que traça o desafio de enfrentar a perigosa e fria Dinamarca, já na Terça-feira próxima, onde a selecção das quinas tentará obnubilar o mau resultado com que encetou a qualificação para o Europeu 2016 - a derrota contra a Albânia abalou a confiança portuguesa e a auscultação do próximo Sábado, em Saint Denis, frente à França de Didier Deschamps, será o exame inicial que atestará a adaptação de Portugal ao arranque da nova era, sob a batuta de Santos e do seu adjunto, Ilídio Vale.

Na base dessa ascultação está a interrogação táctica à qual apenas a direcção técnica poderá responder: como será arquitectada a formação idealizada por Fernando Santos? Dará o antigo seleccionador da Grécia continuidade ao vetusto 4-3-3, dominante na era de Bento? Ou irá moldar nova táctica, com um 4-4-2 «flat four», ou mesmo um 4-4-2 losango, com Ronaldo solto na linha da frente? As questões têm várias hipóteses de resposta e tais respostas implicam mutações estruturais que agora analisaremos.

Introduzirá Fernando Santos o 4-4-2 losango na selecção?

Caso a selecção alinhe num 4-4-2 «diamond», ou losango, várias são as mudanças do 4-3-3 que até então vigorou para a nova dinâmica anatómica e filosófica do 4--4-2 apoiado num núcleo geométrico 'losangular': Portugal passará a jogar sem dois extremos declarados em termos posicionais, lançando ao invés dois avançados que obrigatoriamente terão que se complementar; passará também a programar o seu jogo ofensivo com recurso a um médio ofensivo central, vértice avançado do losango, qual pivot de ataque que deverá desempenhar funções tanto de municiador como de marcador de golos;

Nesta nova pulsação táctica grande parte da vivência da distribuição é ditada pelo virtuosismo geométrico do losango a meio-campo: sob pressão das batalhas na zona intermédia, o desenho do losango permite uma constante rotação sobre si mesmo, permitindo à equipa bascular jogo, sacudir as investidas da pressão e encontrar novos espaços para progredir no terreno (exemplo: o médio interior esquerdo pode subir no campo, o médio ofensivo descair para a interior direita, por sua vez este deve descer ao nível da zona média-baixa enquanto o «6» ocupa a interior canhota).

Estas dinâmicas a meio-campo são bem mais acentuadas no 4-4-2 losango do que no 4-4-2 clássico, onde a linearidade tende a ganhar terreno sobre a criatividade. Mas, para que a 'táctica do diamante' ganhe relevo ofensivo, são precisas incursões atacantes dos seus dois defesas laterais, de modo a oferecer verticalidade e largura ao jogo, o que pode funcionar contra a integridade defensiva da equipa caso não haja a predominância de bons executantes no passe, na posse de bola e na transição defensiva (velocidade dos defesas e médios é importante).

4-4-2 losango e 4-3-3: uma transição suave e inteligente

Mas, caso seja aplicado o 4-4-2 losango, serão as mudanças tácticas altamente drásticas? Nem por isso, aliás, poderemos olhar para a questão de um ponto de vista mais suave, abordando a proximidade orgânica do 4-4-2 losango e do habitual 4-3-3. Comecemos com uma pergunta que permite encetar a análise da transição entre sistemas: serão as duas tácticas assim tão diferentes? De facto ambas podem facimente partilhar derivações esquemáticas similares, depedendo da atitude e abordagem da equipa. No 4-4-2 losango os avançados podem alargar o jogo, caindo para as faixas e permitindo a penetração do pivot de ataque, que poderá vestir as vestes de avançado - podemos assim estar perante um momentâneo 4-3-3.

As movimentações do ataque podem ser múltiplas, estando a chave na versatilidade dos seus protagonistas: os dois avançados podem alargar para as alas, o «10» pode penetrar enquanto avançado centro/número 9/avançado sombra; os avançados poderão recorrer em diagonais de ruptura (se tiverem poder de aceleração e boa desmarcação) e tabelas com o pivot, sendo sua responsabilidade arrastar marcações mas também potenciar o jogo exterior, preparando a subida dos laterais. Na verdade, o segredo centra-se na forma como os jogadores partem das suas posições iniciais (no desenho táctico) para a panóplia de derivações e movimentações estudadas e implementadas pelo treinador - como em todas as tácticas...o essencial é a dinâmica imposta e não o esqueleto táctico, que não é mais que a base de tudo o resto.

Quem preencherá os lugares do novo figurino?

William Carvalho poderá, de facto, perder o lugar para o regressado Tiago, experiente médio capaz de ser eficiente tanto a médio defensivo como a médio pendular, mas tal ocorrência seria igualmente provável caso a formação alinhasse em 4-3-3. Os médios interiores do 4-4-2 diamante poderão ser André Gomes (em grande forma), João Moutinho, Adrien ou até João Mário (em ascensão no Sporting): a escolha dependerá da capacidade de cada um para interiorizar rotinas de jogo requeridas. Atendendo a que Gomes, Danny e João Mário oferecem opções mais enquadradas com a posição «10» (cada um ao seu estilo), poderemos, no fim de contas, ter um meio-campo com William Carvalho a médio defensivo, Moutinho e Tiago na zona média e Gomes/Mário/Danny a médio ofensivo.

Danny será até a grande introdução no sistema, coabitando com os desequilibradores Nani e Cristiano Ronaldo: o jogador do Zenit poderá ser a opção ideal para jogar atrás dos avançados, tomando para si a função de falso avançado, orquestrando jogadas de perigo, servindo os companheiros e furando pela área para ser ameaça inesperada. Nesse caso, Nani e Ronaldo ocupar-se dos lugares avançados, utilizando as suas capacidades para alargarem o jogo e esticarem a linha defensiva do adversário, criando buracos na mesma.

Onzes prováveis