Chegou para representar o FC Porto mas a adaptação não correu da melhor forma, acabando por encontrar a felicidade profissional no Vitória de Guimarães, clube no qual brilhou para o futebol e se apresentou ao panorama desportivo português. Os golos sempre foram a imagem de marca de Paulinho Cascavel, avançado brasileiro que se notabilizou pela técnica do golo - tanto que acabou por ingressar no Sporting, clube pelo qual voltaria a ser coroado rei dos goleadores da Liga nacional.

Paulinho Cascavel ganhou seu nome devido aos tempos em que nasceu para o futebol, tendo passado quatro anos no Cascavel, formação brasileira, antes de rumar ao Criciúma. Seguiram-se duas temporadas no Joinville e o salto para o Fluminense, em 1984. Daí para a liga portuguesa foi um ápice: viajou para o Porto, que lhe abriu as portas da Europa, mas foi na Cidade Berço que deixou as suas primeiras grandes marcas - golos em catadupa.

Na sua primeira época no Vitória SC, em 1985/1986, Paulinho marcou 25 golos em apenas 29 aparições na liga portuguesa, ficando apenas atrás do avançado Manuel Fernandes, do Sporting, que marcara 30 tentos. Cascavel foi elemento fulcral na obtenção do quarto lugar do Vitória, quase marcando metade dos golos de toda a equipa na prova (51 golos da equipa vimaranense). 

Na retina ficaram os «hat-tricks» contra o Marítimo (0-3) e contra o rival minhoto SC Braga (3-0). A segunda temporada no Vitória SC foi novamente feliz: liderou a lista de melhores marcadores, com 22 golos apontados no campeonato, assinando um total de 27 golos (5 na Taça Uefa) em 28 aparições na época 1986/1987. O Vitória de Guimarães alcançou, nessa temporada, um registo histórico: 3º lugar na liga, a 7 pontos do campeão Benfica. Cascavel, esse, voltou a castigar o rival Braga, com novo truque do chapéu (4-0).

Quem também foi vítima habitual do instinto matador de Cascavel foi o Porto, clube que apostou nele para depois o dispensar: o brasileiro, natural do Paraná, impôs dois bis aos portistas, um em cada época que passou de emblema do Vitória Sport Clube ao peito. Seguiu-se a aventura no Sporting Clube de Portugal, onde teria a chance de lutar por novas ambições.

Em 1987/1988, Paulinho Cascavel edificou a sua temporada mais recheada de golos: 30 tentos em 47 partidas e novo título de melhor marcador do campeonato, com 23 golos de sua autoria - apesar da esplêndida época, o Sporting não realizou uma boa classificação, quedando-se pelo quarto lugar, atrás de Belenenses, Benfica e do campeão FC Porto. 

A segunda temporada, 1988/1989, não esteve ao nível das anteriores, com a idade a não perdoar - Cascavel participou em 39 partidas e marcou 15 golos pelo clube de Alvalade; na seguinte, época de despedida, Cascavel apontou apenas três tentos, seguindo caminho para Barcelos, para representar o Gil Vicente durante uma temporada, a sua última enquanto profissional de futebol. É hoje respeitado pela memória que criou nos palcos lusos: os golos com o seu carimbo ainda ecoam nas lembranças dos adeptos vimaranenses e sportinguistas, que o recordam o seu faro matador com saudade.

Está ligado a uma das fase mais brilhantes do futebol do Vitória SC, tendo dado um contributo essencial para elevar o clube aos patamares nacionais nas épocas 1985/1986 e 1986/1987. Ontem, na partida entre o Vitória e o Sporting, o seu nome não foi esquecido, antes homenageado, pela direcção vimaranense: «Fiquei ligado a esta cidade, foi aqui que o meu filho nasceu e tenho casa em Guimarães. Gosto do clube, onde passei dois dos melhores anos da minha carreira», afirmou em entrevista ao Record, um dia antes da partida de ontem.

«É muito gratificante ser lembrado pelos dirigentes do Vitória, já passaram tantos anos, mas as pessoas de Guimarães continuam a cumprimentar-me e a falar dos tempos em que jogava no clube. Fui acolhido como um filho da terra», declarou, orgulhoso, o antigo goleador, Paulinho Cascavel, encantador de golos.