No passado recente da selecção portuguesa, mais concretamente desde 2003, ano em que o campeão do mundo Luiz Felipe Scolari chegou ao comando da equipa das quinas, a selecção parece estar vinculada ao 4-3-3, seja actuando com dois pivôs defensivos e um criativo (mais próximo do 4-2-3-1), ou com um trinco declarado e dois médios, um com maior capacidade de transição e outro que se encarregue de tarefas mais ofensivas, aproximando assim o sistema táctico de um 4-3-3 puro.

Com Scolari, de 2003 a 2008

Na era Scolari, entre 2003 e 2008, a selecção passou por ambos os sistemas: no Euro 2004 e no Mundial 2006, Felipão optou pelo duplo pivô defensivo composto por Costinha e Maniche, este um pouco mais solto, jogando na posição 10 o luso-brasileiro Deco, encarregue de servir o tridente ofensivo composto principalmente por Figo, Pauleta e Cristiano Ronaldo. Em 2008, o triângulo de meio-campo inverteu-se, e Portugal actuou com Petit a 6, João Moutinho no papel de número 8 e Deco novamente a pegar na batuta e a coordenar a movimentação portuguesa, que agora tinha como principais protagonistas Simão, Nuno Gomes e Cristiano Ronaldo.

As opções de Carlos Queiroz e Paulo Bento

No Mundial 2010, já sob o comando de Carlos Queiroz, não houve grande alteração a nível táctico, mantendo-se o 4-3-3, mas não parece ter havido uniformidade face aos seus executantes: primeiro com Pedro Mendes-Meireles-Tiago, em seguida com Pedro Mendes-Meireles-Deco, depois com Pepe-Meireles-Tiago, num trio que viria a repetir-se no derradeiro encontro com a selecção espanhola.

Em 2012, no Euro organizado por Polónia e Ucrânia, Paulo Bento optou recorrentemente pelo trio Veloso-Moutinho-Meireles. Repetindo assim o 4-3-3, a principal alteração em relação ao modelo a que nos tínhamos habituado acaba por ser o papel de Veloso, que actuando na posição 6, está mais próximo de ser considerado um primeiro médio de construção do que propriamente um trinco puro como Pedro Mendes, Petit ou Costinha. O trio de Paulo Bento viria a ser repetido no Mundial 2014, uma competição de má memória para todos os portugueses.

A Era Fernando Santos

A entrada de Fernando Santos no comando técnico da selecção nacional significou também a adopção de um novo sistema, um 4-4-2 losango, assumido nas partidas frente à França, num jogo particular em que actuou Tiago a médio-defensivo, André Gomes e Moutinho como médios interiores e Danny na posição 10, com Ronaldo e Nani a dividirem as tarefas mais ofensivas, e frente à Dinamarca, já no apuramento para o Euro 2016, com William Carvalho a 6, Tiago e Moutinho como interiores e Danny novamente a 10, com Nani e Ronaldo no ataque.

O que ganha Portugal com o 4-4-2 losango...

Um xadrez táctico como o 4-4-2 losango proporciona à selecção portuguesa uma maior fluidez na troca de bola entre os diversos sectores. O posicionamento correcto dos jogadores no terreno, nomeadamente do médio mais defensivo e dos dois médios interiores garantirá a existência de numerosas linhas de passe, potenciando sobretudo o jogo pelo corredor central, onde a equipa das quinas parece encontrar os principais criativos, como João Moutinho, André Gomes, ou até William Carvalho.

Sem ponta de lança fixo, o sistema 4-4-2 losango português terá de basear-se mais em ataques rápidos, ideia que parece adequar-se aos jogadores habitualmente convocados para a selecção nacional. De igual modo, parece adequar-se aos jogadores convocados por Fernando Santos as exigências que serão feitas aos médios interiores a nível da pressão, capacidade de recuperação, da criatividade e da capacidade de variar o jogo para as linhas, através das subidas dos laterais. No momento defensivo, a formação proporciona a criação de duas linhas bem definidas, composta por defesas e médios respectivamente, com um dos avançados, muito provavelmente Nani, ligeiramente mais recuado no terreno que o seu companheiro da frente.

... e o que perde.

Sendo certo que nesta formação os defesas laterais terão de oferecer um importante contributo no momento ofensivo, essa situação causará lacunas no sector defensivos que em certos momentos-chave poderão ser causa de vários dissabores, nomeadamente frente a equipas contem com extremos de elevado calibre. Tal situação ficou patente no jogo particular frente à França, em que a maior parte dos lances de perigo da selecção gaulesa começaram exactamente nas alas, trazendo diversos problemas a Eliseu e Cédric Soares.

A situação melhorou no jogo frente à Dinamarca, mas os escandinavos contam mais com a criatividade do jogo interior proporcionado por Christan Eriksen do que propriamente com a explosividade de Michael Krohn-Delhi ou Lasse Vibe. Um sistema com dois médios interiores poderá também causar algumas sobreposições nas tarefas de cada jogador, nomeadamente dos que apresentem características semelhantes, como de resto é o caso, por exemplo, de Moutinho e Adrien, os dois jogadores que parecem mais aptos a desempenhar esse papel.

Vantagens do 4-3-3...

A familiaridade dos jogadores com esta táctica pode ser um factor que suavize a transição de ideias e princípios entre dois treinadores tão distintos como Paulo Bento e Fernando Santos. Ao mesmo tempo, o 4-3-3 adequa-se melhor à equipa portuguesa, que parece estar mais à vontade entregando a bola ao adversário e a jogar no contra-ataque do que propriamente a assumir o jogo, a trocar a bola e a partir para cima do adversário. Será este o esquema em que os extremos Nani e Cristiano Ronaldo, ou até mesmo Quaresma poderão atingir o máximo potencial das suas capacidades, ao ser um esquema que atribui uma elevada amplitude no terreno, bem como uma acentuada verticalidade. Sendo o jogo pelas alas repartido entre extremos e laterais, as subidas destes podem ser mais esporádicas, e por isso mesmo, estará Portugal menos exposto defensivamente.

... e desvantagens.

A principal desvantagem da aposta no 4-3-3 está no eixo do ataque: Portugal carece há já largos anos de um ponta de lança que corresponda aquilo que lhe é exigido num esquema como este – nem Postiga, nem Éder, nem Hugo Almeida parecem oferecer garantias ao ataque da selecção. Para além disso, a formação é extremamente limitativa das possibilidades ofensivas: os atacantes estarão quase sempre em inferioridade numérica perante as defesas adversárias, sendo extremamente exigente a nível físico, por atribuir tarefas defensivas e ofensivas a quase todos os jogadores, mas mais acentuadamente aos jogadores de meio campo.

O sistema parece funcionar frente a selecções que gostam de ter a bola no pé e de trabalhar essa posse de bola, e que não tenham defesas particularmente rápidos na recuperação da bola e preenchimento dos espaços, como por exemplo, a Holanda. Contudo, exige-se mais, e o plano de 4-3-3 por diversas vezes usado por Paulo Bento careceu em certos momentos de alternativas válidas e que permitissem a Portugal assumir o jogo frente a adversários de menor gabarito.

Solução de compromisso?

Por tudo o que foi dito, a formação que parece oferecer maior equilíbrio a selecção portuguesa neste momento será uma versão mais conservadora e mitigada do 4-4-2 losango, em que os defesas laterais sejam um pouco mais tímidos no processo ofensivo, e que essa maior timidez seja compensada pela deambulação da dupla de avançados entre o meio e as linhas, com o jogador que ocupa a posição 10 a actuar mais como um avançado sombra do que propriamente como um organizador de jogo clássico.

Tal sistema vem assim camuflar a enorme lacuna a nível dos avançados-centro portugueses, bem como prevenir eventuais dissabores causado pela exploração das costas da defesa, pois aumenta a pressão nas zonas de criação de jogo adversário por haver um maior povoamento do meio-campo, especialmente se forem utilizados médios como Tiago ou Adrien Silva, dotados de uma grande capacidade de recuperação de bola.