Marco Silva alterou os planos tácticos na semana passada, colocando em campo, no relvado de Alvalade, uma formação de base 4-4-2 que na sua dinâmica mecanizava, amiúde, um sistema 4-2-3-1, com Fredy Montero atrás de Slimani. O colombiano jogou muitas vezes como avançado sombra/médio ofensivo 10, caíndo entre as linhas do Vitória de Setúbal e jogando com os espaços mortos do sector defensivo sadino. Será estratégia para repetir?

A táctica, mais ofensiva que o habitual 4-3-3 do Sporting, obriga a uma maior complementaridade defensiva entre Adrien e William Carvalho, que passam a jogar mais vezes de perfil, dividindo muitas vezes as tarefas mais defensivas. Essa constituição de duplo pivot obriga também William a aventurar-se por terrenos mais avançados, na ligação entre o meio-campo e o último terço do relvado. Será essa exigência benéfica para o desenvolvimento do trinco?

As respostas tácticas

As duas perguntas são o cerne da alteração táctica no Sporting: ganhará o Sporting com a dupla Slimani/Montero, e, no meio-campo, beneficiará William da maior exigência dinâmica de uma função mais versátil e completa - a primeira resposta terá como fundamento o carácter temporário do plano 4-4-2/4-2-3-1, que apenas deverá ser implementado consoante o tipo de adversário e o contexto competitivo. Marco Silva assim o reconheceu.

Portanto, à primeira pergunta teremos que responder que essa implementação táctica estará dependente do poderio do adversário (o Vitória de Setúbal é manifestamente mais fraco que o Sporting) e da estratégia para a partida em concreto - entrar a dominar e de forma muito atacante contra oponentes mais débeis que se fechem na sua zona defensiva, tentando adiar o tento da formação favorita. Foi esse o intento expressado por Marco Silva.

Marco Silva vai testando alternativas tácticas (Foto: ASF)

Com o 4-2-3-1 o Sporting espraia-se no terreno de forma mais atacante, com dois avançados na pressão à zona defensiva do oponente e dois extremos que podem alinhar com o 10 (neste caso, Montero) numa recta de sufoco à saída de bola do adversário (exemplo: Nani, Carrillo e Montero). Esses posicionamentos obrigam Adrien e William a jogarem um pouco mais subidos no terreno, completando a ideologia táctica mais ofensiva - ainda assim, o pendor atacante da equipa depende da sua motivação estratégica.

À segunda pergunta somos tentados a responder que sim. O 4-3-3 tem o condão de manter William Carvalho reduzido a específicas funções defensivas, não libertando o jogador (que de si não parece estimulado a isso) para algumas incursões pelo centro do terreno. Muito amarrado à sua função, William pisa raramente terrenos mais avançados e a sua falta de mobilidade prejudica o Sporting quando este domina por completo a partida e deixa de necessitar de um trinco para passar a precisar de um médio defensivo mais dinâmico que suba no terreno e auxilie os companheiros nas situações de ataque.

William Carvalho: entre a estagnação e a exigência de versatilidade?

Os exemplos desta temporada têm-se repetido e demonstram que a evolução de William Carvalho necessita de ser completada com experiência em terrenos mais avançados, maior posse de bola, maior risco no passe, maior mobilidade e maior liberdade táctica - sempre que o Sporting domina e deixa de precisar de defender com cautela, William é o primeiro a sair. Uma maior versatilidade fará com que o jogador evolua enquanto médio e seja mais útil ao treinador. Até porque, no futuro, os treinadores irão exigir de William uma gama variada de competências.

Com o 4-2-3-1, William será forçado a implementar um estilo de jogo mais completo, mais versátil e mais competente, já que as suas funções terão um horizonte mais alargado. Restará saber se tal sistema terá respaldo na compreensão colectiva e táctica da equipa do Sporting: uma partida não chega para aferir isso. A questão repete-se: irá Marco Silva repetir o sistema contra o Boavista? A possibilidade é grande mas ainda assim restam reservas - certo será que não a repetirá em Stamford Bridge, contra o poderoso Chelsea.

Já a convivência de Montero com Slimani pretende dar ao Sporting uma coexistência quase caprichosa, colocando no mesmo onze titular dois avançados importantes que Marco Silva tenta agora, com novas ideias tácticas, harmonizar, fundindo o poderoso jogo de finalização de Slimani com a técnica, mobilidade e visão de jogo de Montero, colombiano que se dividirá entre funções a meio-campo e tarefas de ataque puro (avançado sombra ou, se quiserem, segundo avançado).