Crónica VAVEL:

Como poderão encarar os adeptos sportinguistas um ataque à escala planetária, como aquele que foi feito, ontem, pela personalidade leonina José Eduardo, apoiante de Bruno de Carvalho, à pessoa de Marco Silva, técnico do Sporting? Esta é a pergunta que ecoa no 'Planeta Sporting' desde que o antigo jogador de Alvalade proferiu ataques ferozes ao treinador de 37 anos - dando como consumado o divórcio, José Eduardo acusou Marco Silva de prejudicar o clube e de servir os seus próprios interesses, expondo a nu os contornos da crise leonina.

Na sua crónica semanal no jornal «A Bola», José Eduardo, antigo jogador do Sporting e antigo presidente do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, foi duro nas críticas ao trabalho de Marco Silva, apelidando-o de «diabo pintado de anjo» e acusando-o de agir consoante os seus próprios interesses e os de seu empresário, Carlos Gonçalves, num artigo de opinião intitulado «Uma história (suja) para contar...». Nele, José Eduardo desvenda que o plantel está dividido e que vários jogadores são «ostracizados» nos treinos e nas escolhas para a formação titular.

Mas o ataque não se cingiu ao artigo de opinião de ontem, já que a personalidade leonina, acérrima apoiante de Bruno de Carvalho desde o começo, tinha já, na Sexta-feira, criticado duramente Marco Silva, aos microfones da RTP Informação, veiculando as bases daquilo que, no dia seguinte, seria uma crítica feroz e incomensurável ao trabalho e dignidade do ex-técnico do Estoril, contratado no defeso de Verão. Tido como pessoa da esfera de confiança de Bruno de Carvalho (inclusivamente alvo de elogios por parte do presidente leonino na sua intervenção de Sexta-feira), José Eduardo criticou o treinador no preciso dia em que o presidente do Sporting manifestou não existir crise, garantindo a presença do técnico no banco, contra o Vitória de Guimarães.

A crise entre presidente e treinador é inegável e prova disso é o atabalhoado «blackout» que, decretado no dia 23 de Dezembro, apenas demorou 3 dias a ser quebrado, pelo próprio presidente do clube, numa intervenção ao canal Sporting TV. Por entre afirmações vagas e contidas, Bruno de Carvalho garantiu a continuidade do treinador por..mais três dias, até ao dia do jogo contra o Vitória de Guimarães, para a Taça da Liga, não se alongado em mais garantias e até reconhecendo existirem questões «legítimas» para serem sanadas entre a administração e a equipa técnica. Atacando a imprensa pela informação veiculada, o presidente do Sporting reforçou a ideia de uma cabala mediática cujo alvo seria o Sporting e o objectivo a sua desestabilização. 

Ora, como é do conhecimento geral, toda a imprensa, especializada ou não, é unânime no relato do cenário de guerrilha interna e de tensão exacerbada que se vive entre a direcção do clube e a equipa técnica. A ruptura entre Bruno de Carvalho e Marco Silva tem sido escalpelizada e aprofundada, estando já fora das mãos da cúpula presidencial a ocultação desse diferendo terminante. As fontes, mais que muitas, indicam o caminho da separação - José Eduardo mostrou-se até na posse de grande parte dos factos, escrevendo a sua crónica como quem descreve aquilo que viu, numa posição privilegiada. Será a sua narração precisa? Talvez sim, talvez não, restará a Marco Silva defender a sua honra e bom nome.

A verdade é que a grande parte dos adeptos do Sporting se encontra perdida a meio do caminho: a imprensa relata a cisão, o presidente declara um «blackout» e regressa em bom tom para negar tal cisão, acusando os meios comunicacionais de emboscarem o clube, no mesmo dia em que José Eduardo ataca Marco Silva e a sua conduta profissional - logo ele, homem de confiança e apoiante confesso de Bruno de Carvalho. Estará toda a imprensa a mentir, num qualquer plano maquiavélico concertado para ferir de morte e mentiras o Sporting? Ou estará o casamento entre Bruno de Carvalho e Marco Silva a dar as últimas, devido a divergências técnicas e de abordagem profissional? 

Confesso que a segunda hipótese aparenta, até de longe, ser mais racional, lúcida, realista, natural, verosímil e lógica. Qualquer que seja o desfecho da tensão, uma coisa é certa: os adeptos do Sporting mereciam uma narrativa mais articulada, onde as respostas fossem mais límpidas que as dúvidas que o clube insiste em não dissipar. Depois dos recados trocados através da imprensa, que despoletaram a intriga deste guião, culpá-la de um ataque ao Sporting é, no mínimo, um malabarismo que merecia uma justificação mais consolidada. Os adeptos leoninos aguardam, presume-se, um esclarecimento.

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