Depois da reforma de Vítor Baía foram poucos os guarda-redes a merecer o estatuto de estrela do FC Porto, mas Helton ganhou-o. Mais do que isso, mereceu-o. E hoje, apesar de constar sempre em todas as convocatórias acaba por não sair do banco. Se compararmos a situação com os outros dois grandes em Portugal poderemos até dizer que Helton passou de Patrício a Boeck ou de Júlio César a Paulo Lopes.

Um amor de há muito

37 anos e os últimos 11 de Dragão ao peito. Parece impossível? Não é. Helton Arruda sempre foi titular da baliza portista desde o adeus de Vitor Baía, passou por André Villas Boas, Jesualdo Ferreira, Vitor Pereira, Paulo Fonseca, Luis Castro, Lopetegui e agora José Peseiro. Sempre mereceu a confiança de todos os técnicos com quem trabalhou, a sua eficácia em campo valeu-lhe a braçadeira de Capitão por diversas vezes e as grandes defesas já quase que faziam esquecer que algum dia lá esteve o guarda-redes com mais títulos que a história do futebol Mundial já conheceu.

Apesar de não ter tantos titulos como Baía, Helton ainda pode gabar-se de alguns: 1 Liga Europa, 7 campeonatos, 4 Taças de Portugal e ainda 6 Supertaças. Parecendo que não, se fizermos contas, são 18 títulos em 11 anos. A mentalidade ganhadora dos azuis e brancos ajuda é certo, mas a verdade é que foi o brasileiro a estar à frente da baliza em quase todas as partidas disputadas pelo FC Porto. Mas afinal, como é que Helton passou de titular a "dispensado " em menos de 2 anos?

O maltido tendão

Recuemos à época de 2013/2014, mais precisamente à 23ª jornada do campeonato, 16 de Março. O FC Porto estava a perder em Alvalade por 1-0 com um golo de Slimani ao minuto 51'. Pedro Proença era o juiz da partida, os azuis e brancos precisavam dos 3 pontos para não deixar o Sporting fugir e terem assim um ponto a mais que os leões. Era o regresso de Ricardo Quaresma ao Estádio que tão bem conheceu no inicio da sua carreira. Alvalade estava a rebentar pelas costuras. O Sporting estava motivado com o golo e preparava novo contra-ataque. O passe de João Mário era para Slimani, mas foi com força demais e a bola acabou por sair pela linha de fundo... Helton prepara-se para correr para evitar a saída da bola e, sem mais nem menos, tropeça e lesiona-se.

Pedro Proença manda parar tudo. O brasileiro estava aflito e precisava de ajuda. A equipa médica do FC Porto entra em campo e percebe que o guarda-redes está mal. Helton era o Capitão, mas aqui estava em causa a saúde do jogador. Luis Castro manda Fabiano Freitas entrar ao minuto 62 enquanto Helton sai de maca sob um coro de aplausos por parte de todos os presentes no Estádio de Alvalade. Era notório que a lesão era grave e no dia seguinte chega a certeza : ruptura total tendão de Aquiles. A época está acabada e não se sabe, nem se imagina, quanto tempo poderá demorar a voltar a ser o que era, se é que poderia voltar algum dia a ser o que era....

Helton Arruda foi operado logo no dia seguinte. Assim que teve oportunidade, o guarda-redes brasileiro foi às redes sociais agradecer o apoio e a preocupação de todos. Salientando que se encontra bem e que espera recuperar o mais rápido possível para poder voltar a ajudar a equipa do coração, mas ainda antes de se despedir ,Helton fez questão de mencionar o desportivismo dos adeptos da equipa da casa sob o coro de aplausos com que saiu de Alvalade. Agora era tempo para recuperar, descansar e voltar a jogar.

Da titularidade à recuperação e da recuperação ao encostar

Helton recuperou e a nova temporada trouxe consigo nova figura no comando da equipa. Julen Lopetegui não conhecia a nova mentalidade portista, demorou a perceber e como Luis Castro mantinha Fabiano Freitas no onze inicial, foi o que o espanhol foi fazendo. Afinal de contas era compreensível. O compatriota de Helton tinha estado no lugar do colega de equipa durante todo este tempo, Helton haveria de ter a sua oportunidade.

Ainda assim, nessa mesma época foram 11 os jogos onde Helton conseguiu regressar à baliza. 7 desses mesmos jogos foram na Liga Portuguesa, tendo sido suplente utilizado num deles, e 4 na Taça da Liga, com um total de 7 golos sofridos, 2 sofridos na Liga e 5 na Taça da Liga. Helton não estava ao seu melhor nível e isso era notório, mas a verdade é que a culpa era por falta do ritmo de jogo.

E isso poderia perfeitamente ser resolvido depois da SAD portista ter decidido o empréstimo de Fabiano Freitas ao Fenerbahçe. Era desta que Helton ia voltar à titularidade! Helton ia voltar a ser titular e melhor, ia voltar a ser Capitão! Eis senão que o sonho acaba por cair por terra quando Jorge Nuno Pinto da Costa garantiu que Iker Casillas ia jogar no FC Porto esta temporada.

Era bom, o futebol português ganhava mais visibilidade, o Porto garantia um novo nome grande, mas , no meio de tudo isto, onde ficava Helton? Onde sempre esteve desde que Lopetegui chegou. No banco. E com a chegada de Peseiro onde é que fica Helton ? No banco.

Ainda assim, o brasileiro diz-se feliz na familia portista, apesar de contar só com 9 jogos feitos esta temporada, 810 minutos em campo para a Taça da Liga e para a Taça de Portugal e seis golos sofridos. Apesar do grande estatuto na história recente do FC Porto ao que parece Helton é mesmo o exemplo de alguém que não só perdeu espaço, como se perdeu no tempo...